segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Há Fronteiras!


As fronteiras

                    Há fronteiras?

Fronteiras [im]prováveis

                                            Limites [In]visíveis

         [in]Tangíveis!


Barreiras | sociais,

                              limites | etno-raciais,

                                                                fronteiras-----     ---geracionais
 Há fronteiras!
As fronteiras

                   

Abismos...

[Há]bismos



                                                             geracionais, 


distancias-------------------------------------------------------- sociais 


Identidades

Dis
         cri
                mi
                       na
                              ção                                    
                                                                   

D  I  S  T Â  N C  I  A  S  -  D  I  S  T  Â  N  C I A  S  -  D  I  S  T Â  N  C  I A S  -  DISTÂNCIAS

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fantasias

Céu Azul by Nestor Lampros
Teria o poema lembrado o comentário ou o comentário teria despertado a lembrança do Poeta querido? Talvez, se permitisse agora a interferência da razão, sequer escreveria sobre o tema. Mas não, não permitiria que a razão matasse a imaginação. Afinal, foi me impossível deixar de ser ponte entre o poema de Benedetti e o 'doce de manga com banana'. Piscianas são assim, intensas e imaginativas. Então veio a mim [novamente] o poema, que reproduzo >









Mi táctica es

mirarte

aprender como sos
quererte como sos



mi táctica es

hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos
no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple

mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites.


... e a lembrança do dia de sabores. As lembranças do encontro ao acaso, do divino, do maravilhoso e do inesquecível. 

Veio forte o desejo de um amor inventado, forjado nas delícias do imprevisível e do inenarrável. Das surpresas que esquinas desnudas e que transportes públicos podem reservar. Das chuvas de beijos e das pás de um ventilador  girante que mitigava o calor de corpos suados, colados, exaustos. De buscas despretenciosas em um momento Cazuza em meio ao  carnaval.


Ilustração de Nicoleta Ceccoli

Veio a ponta [aponta?] e a ponte, veio o poema de Mário Benedetti e um sorriso aboletou-se em meu rosto. Tive de ceder ao impulso do barulho provocado pelos macacos no sótão e escrever, escrevendo. Piscianas são assim, quase compulsivas por  inventar estórias, que já fazem parte das histórias de carnaval no Rio. Fantasias.













sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Identidades e Fronteiras

''Acho que sou pós jornalista, jornalista [jornal] não me traduz''


Mayra Andrade é caboverdiana? e, Laerte, é homem? ele [?] é lésbica?

faz pensar. o que nos traduz? Sou advogada? não, mas não deixo de sê-la [tenho OAB]. somos mais, por que as fronteiras a cada dia ficam mais sem sentido. não cabemos nas margens e estas se movem, ampliando para um lado ou outro ou para ambos. as palavras não nos cabem mais. estejam expressando [ou tentando] gênero, orientação sexual, origem étnica e, no Brasil, em especial até esse estranho e questionável conceito: raça. elas são elásticos temas que se expandem para caber mais gente, para caber mais identidades.

no tema das religiões, não é diferente. E ao mesmo tempo, sinal de nossa complexidade, é nesse campo que os muros mais altos se levantam, numa desesperada busca pela conservação de um statos quo ante, pela manutenção das fronteiras do ser.

desde priscas eras, los agrimensores [y a seguir los classificadores] tem se apresentado sempre que um rasgo de liberdade corta os ares, marcando fronteiras, definindo limites, etiquetando pessoas. Sob os auspícios das religiões arvoram-se a criar limites onde na verdade não há. certo e errado são os estandartes de uma moral que teima em encaixar as pessoas em quadrados perfeitos, submetendo os seres a suas regras herméticas.

sinto dúvidas invadirem meus pensamentos quando me perguntam: você é advogada? não quanto a ter ou não um registro na ordem que me dá o privilégio de patrocinar causas em juízo, mas quanto ao verbo utilizado. como assim? Somos tantas e tantos, entre outras coisas, fazemos coisas para ganhar a vida [ou por amor, se quiserem afirmar @s idealistas]. mas isso é hoje. amanhã, não sei[sabemos].

e sei que habito esse corpo que é do sexo feminino, mas alma [imoral], corsária e camaleoa, ora é homem ora mulher e sua orientação sexual pode ser uma ou outra, ou ambas ou nenhuma. talvez o desejo e os afetos não escolham corpos simplesmente, mas os escolham também.

as palavras e mesmo os conceitos já não dão conta da complexidade e das identidades em transição.

podemos ser tudo ou podemos ser nada [ao mesmo tempo]. e jornalista é quem escreve para jornal e o jornal é prosaico em tempos de mídias eletrônicas.

e Sou e Somos muito mais do que fazemos ou do que as roupas que vestimos ou o banheiro que usamos [sentad@s ou de pé].

mas o que Sou ou o que Somos ainda é pergunta sem resposta. sigo em busca de saber quem não sou, para quem sabe um dia conseguir adivinhar-me.






sábado, 18 de fevereiro de 2012

Céu Na Terra - Carnaval É no Rio de Janeiro!!!

Carnaval melhor que no Rio de Janeiro não existe. Me perdoem os baianos e os pernambucanos. Aqui as pessoas brincam carnaval. Curtem criar fantasias, dançam, curtem, bebem, cantam, com gentileza e irreverência. Sexta-feira foi noite de bloco na praça [Praça São Salvador, em Laranjeiras], vizinhança em peso e muitos encontros com brasilienses espertos. O carnaval rolou solto sabe-se lá até que horas, com muita animação. 




Sábado, logo cedo  [Santa Tereza, 7:30 manhã, sábado] era momento de bloco Céu na Terra, onde tudo é alegria e brincadeira.

Sobra bom humor, fantasias irreverentes e criativas, como o carteiro do KissExpress, o bloco dos Willians Wallaces [FREEDOM!!!], os meninos dos Ursinhos Carinhosos e, claro, a orda de piratas irresistíveis.
O desfile terminou por volta das 11 da manhã, sob um sol de 39º! Haja animação! Ainda assim, cariocas e turistas [dá-lhe Brasília!] seguiam só na alegria!

Non Stop: Decolamos rumo à Lapa, preparação para o Multibloco que sairia dali. Não sem antes fazer um pit stop no Nova Capela para reabastecer as aeronaves e curtir o clima de carnaval e os reencontros necessários com o bloco dos pilotos de avião. Ui!


Quase 15horas, encontro com Zé [Acorda, Zé!!!] o deslocamento foi necessário,após o banho de caminhão pipa, rumo ao Sassaricando, na Glória! [tudo isso à pé!]. Em nenhum dos lugares vi brigas, discussões ou empurrões, mesmo com ruas e ladeiras lotadas imperou a gentileza e o cuidado. As tradicionais marchinhas de carnaval e a preservação do lúdico como elemento central da grande festa.

Rio de Janeiro, eu te amo! Entrou por uma porta e saiu pela outra, que amanhã às 6h toca a alvorada para preparação para os bois [Cordão do Boitatá e Cordão do Boi Tolo]. Bora lá! 



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

No Rio de Janeiro Todas Podem Ser Garotas de Ipanema

"Talvez sejam os olhos - não o coração, os genitais ou o cérebro - 
que dêem início ao romance, já que muitas vezes é a partir do olha
que ocorre o sorriso.", diz Helen Fischer.



Estar no Rio de Janeiro em qualquer época do ano equivale há unas quinze [eu disse 15] sessões de terapia. Faz um bem para auto estima! A paquera aqui rola solta e toda* mulher se sente uma deusa. 


Os cariocas, diferente dos outros, tem um jeito de olhar que enfeitiça, fazendo brotar sem pudores os sorrisos mais sinceros. 


A paquera aqui deve ser uma instituição - e das mais respeitadas - por que não há como ser invisível ou sentir-se excluída dos jogos de sedução. O que obriga a pensar sobre como o  meio pode influenciar - de algum modo - a forma de transitar nesse espaço/tempo que é o flerte, a paquera, a sedução. 


Vejam Brasília [sempre ela], por exemplo, posso afiançar que a paquera beira a burocracia. É contida e especulativa como uma negociação política. Os olhares são restritos, os sorrisos quase institucionais, lembram aceno de Miss em final de desfile e a distância tem de ser preservada até que algum conhecido em comum faça a apresentação formal das Partes. 




Após um olhar, uma tentativa de contato,
 é normal que as pessoas reajam com um sorriso. 
Seja encontrando alguém conhecido ou iniciando um flerte,
 ele sempre é o passo que estabelece o contato. 
Porém, muito pode ser "dito" em um sorriso.
 Existem pelo menos 18 tipos, alguns mais abertos,
 outros mais fechados, o que demonstra perfeitamente qual o tipo
 de contato que se deseja ter com a outra pessoa. 




Como na política, desvios são freqüentes, mas ocorrem sempre às escondidas e são tratados como casos fortuitos, ligeiros e afobados. Expressão de um suspiro de vida Real, em meio a Matrix vivida em Bras'Ilha. Para logo, em público, voltarem às formalidades de praxe. 


No Rio de Janeiro, por outro lado, as escapadas urgentes acontecem, mas, por certo, não estão necessariamente ligadas tão-somente aos casos fortuitos, senão [em verdade] muito mais à força maior. O tesão, a paixão, a atração irresistíveis roubam a cena doa a quem doer, numa expressão autentica do ser. 






No Rio de Janeiro, todas a mulheres são lindas, venham de onde vier. Trata-se, sinto, de um jeito de ser carioca. E, quem vem de fora, logo é incorporada a esse carioca way of life. 


A voz é passiva mesmo [incorporada]. Por que quando menos se espera, saindo da praia, cabelo mal amarrado, chinelo e sal na pele, um carioca lindo pode te esperar num sinal com um sorriso aberto e um olhar avassalador. 


Prepare-se, você certamente [desacostumada dessas coisas], olhará em volta, mal podendo acreditar que é com você. Mas acredite, o carioca em questão rapidamente lhe dará sinais inequívocos de que 'sim, é com você, meu bem'. Isso em plena Farme de Amoedo [tradicional point gay da cidade].


Fala a verdade, dá para passar por uma dessas e seguir a caminhada sem se sentir a Garota de Ipanema?


Um brinde aos cariocas e seu paquerar maravilhoso!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Rio de Janeiro é Sujo!

... mas mesmo assim, continua lindo. E se a limpeza urbana [ou a urbanidade] não são o forte da cidade, certamente o transporte e a simpatia o são![ao menos do ponto de vista de uma brasiliense].

Ontem fiz o trajeto  Lapa - Ipanema - Lapa de ônibus e vi cenas memoráveis. Ora, quando em Brasília um cobrador, no horário do rush, diz ao motorista [em meio ao tumulto de 6 coletivos disputando espaço no ponto] 'peraí, meu irmão... as moças querem pegar esse!' Detalhe: com gentileza!

'Por favor', 'obrigada' e toda a ajuda possível para a usuária perdida são praxe. Dia seguinte, tomo o coletivo trajeto Lapa - Manguinhos - Lapa, penso: agora é linha para periferia, por certo será diferente. Ledo engano. Tratada com atenção e simpatia, chego à FIOTEC sã e salva. Na volta, a mesma coisa.

Sim, o Rio de Janeiro é sujo! Muito lixo na rua, esgoto a céu aberto em vários pontos, cheiro ruim. Mas, por R$2,75 (dois e setenta e cinco)! pude percorrer 35,7km, confortavelmente.

E aí vem a pergunta: o que se passa em Brasília? Para percorrer no máximo 16km, pagamos R$ 2,50, com direito a mau humor de motorista e grossura de cobrador. Motoristas não param no ponto e muitas vezes ainda dão banho de água suja nos passageiros que aguardam [pacientemente] por 40 a 60minutos na parada.

Não bastasse, os veículos são velhos e inseguros.

Ei! Agnelo! Faz um seminário com o pessoal do Eduardo Paes... Quem sabe o transporte coletivo em Brasília melhora!

...E o Rio de Janeiro continua lindo! ;-)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Noiva

...fim de tarde. enquanto caminhava, passos ensaiados, a brisa convidava para dançar a barra da  saia branca e acariciava seus ombros nus. a medida que se aproximava da entrada, seu coração acelerava. pouco a pouco foi vendo rostos conhecidos e o som da marcha nupcial ocupava seus vazios. impossível conter lágrimas teimando em se derramar.

...enquanto contagiava a todos o conto de fadas forjado, sua alma despida escorria um amor abandonado. caminhava pra longe dele, na medida em que se aproximava do altar. sentia-se sentenciada a prisão perpétua. como de fato sentiu-se pelos próximos dez anos. 

durante esse tempo, pode vê-lo duas ou três vezes. da última vez, recebeu de suas próprias mãos o convite de casamento. a sentença perpétua se converteu em pena de morte. os dez anos corriam lentos.

e, ao acordar, década e dia depois, seu primeiro pensamento foi: onde estará? e o universo respondeu numa tarde quente, numa praça lotada. lá estava ele, a esposa e o filho. filho? cumprimentaram-se educadamente. já tinha tanta dor para chorar, juntou os trapos de sonhos e seguiu adiante. não mais olharia para trás.

nunca soube realmente por que o deixara. tantas idas e vindas, tantas voltas a vida deu. casou-se, descasou-se. mergulhou numa aventura intensa em busca dele, saiu aos pedaços. recuperou-se. lentamente resgatou sua capacidade de entrega.

entregou-se, finalmente. aprendeu a dizer seus direitos e a pôr pontos finais. saiu, como quem caminha pela Av. Paulista de férias, cabelos livres e idéias soltas. nos lábios o sorriso adquirido depois de um longo percurso. e quando já não havia esperança e as memórias estavam lacradas, lá está ele. sozinho. três filhos e uma história na mochila. continua o mesmo, mas mudou tanto. só a força suave de suas mãos no corpo dela não mudou. é outro, mas o sentimento é o mesmo.  

de repente um silêncio e outro. perguntas vagas. lembranças plenas. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

E por falar em amor...

...Hoje vou de D. Dirce. Esta senhora de 77 anos, negra, de origem pobre que fez rolar silenciosas lágrimas de cá, quando li sua carta na coluna do deputado Jean Willys em Carta Capital.

Compartilho para que seus sentimentos e idéias possam sensibilizar aquel@s que teimam em julgar e condenar as pessoas pelo que elas são [raça, etnia, orientação sexual, sexo, geração].

Fiquem com o exemplo de D. Dirce:

Excelentíssimo Sr. Deputado Dr. Jean Wyllys de Matos Santos,
Meu nome é Dirce Pereira da Silva e, atualmente, conto com 77 (setenta e sete) anos de idade, caminhando para o 78º aniversário. Tal como Vossa Excelência, tive uma trajetória difícil e cansativa na busca por meus direitos civis.
Sou negra, filha de um servente de pedreiro e uma lavadeira. Meu avô paterno era escravo alforriado. Nasci e cresci em meio à miséria no interior do Estado de São Paulo, valendo-me de farinha e verduras que minha mãe encontrava no caminho para alimentar-me. Graças a ela, que sempre foi analfabeta, convencemos meu pai a mudar-se para a pequena cidade de Penápolis-SP, a fim de que eu pudesse estudar as primeiras séries e o ginasial (denominação dada à época). Os materiais eram todos muito caros e, por isso, desde meus oito anos de idade trabalhava como lavadeira em conjunto com minha mãe para aumentarmos nossos rendimentos. Papai fez muitas dívidas nessa época também para que eu pudesse estudar.
Quando chegou o momento de optar, escolhi cursar a Escola Normal, já que não havia Faculdades por perto e nem haveria condições de manter-me fora. Formei-me normalista em dezembro de 1954, para orgulho de meus pais.
O caminho, Excelência, não foi fácil. Minhas colegas de Escola podiam ir às matinês ou às festas em que iam as pessoas de minha idade, mas eu era barrada na porta por ser negra. Sempre minha presença foi proibida nos locais destinados às pessoas brancas. Isto não impediu que eu conhecesse um rapaz branco, hoje já falecido, que se apaixonasse por mim e fosse correspondido. Ele pediu minha mão em casamento a meu pai, como era próprio da época. Meu pai aceitou, mas alertou a mim, ainda muito jovem, sobre a possível rejeição por parte da família dele. Infelizmente, papai estava certo: os pais dele (em especial a mãe) rejeitou-me, e me chamou de crioula safada, dentre outros adjetivos. Esse amor nunca teve um beijo ou outra coisa qualquer além de belíssimas declarações, mas foi forte o suficiente para permanecer intacto em minha memória nestes quase sessenta anos. Até hoje, quando visito seu túmulo, penso em tudo o que poderíamos ser e não fomos.
Tornei-me professora em 1955, aposentando-me apenas no ano de 2004, às vésperas de completar 70 anos de idade. Fui homenageada pelo Governo do Estado de São Paulo como a professora que por mais tempo permaneceu em sala de aula: sem faltas, sem licenças, sem atrasos, sem nada. No mesmo ano em que comecei a lecionar, “adotei” uma menina, filha extemporânea de meus vizinhos sexagenários, que era branca e de olhos claros como Arthur, o homem por quem me apaixonei. Ela cresceu, tornou-se também professora e me deu dois netos e um bisneto, razões maiores da minha vida. Ela e meus netos foram, também, fonte de inúmeras alegrias a meus pais, falecidos no final da década de 90.
Com esta pequena história, Excelência, desejo ilustrar minha passagem pelo mundo – ciente de que tenho muito mais passado que futuro – para agradecer-lhe e parabenizar seu trabalho. Na década de 1.950 discriminar uma pessoa negra era algo natural, tolerável e correto. Sobre homossexuais, melhor nem falar: eram considerados pervertidos, doentes, e nem mesmo estes falsos profetas lhes prometiam a chamada “cura”.
Vejo com tristeza que a discriminação em relação aos negros persiste em existir, mesmo que às escondidas, e homossexuais são espancados, tratados com barbárie ou vítimas de discursos de intolerância e preconceito, tristemente retratados na figura (em igual) triste do Exmo. Sr. Deputado Jair Bolsonaro.
Eu fui vítima de inúmeros preconceitos na vida, Excelência. Não pude frequentar locais por conta de minha cor; depois, ingressei numa profissão de elite – o magistério – sendo mulher, negra e pobre. Fui humilhada por anos e confinada em escolas de zona rural, até que um dia, talvez por distração, consegui minha transferência para a escola central da cidade, tornando-me professora da elite de Penápolis. Minha filha adotiva foi uma das primeiras mulheres a se divorciar na cidade, e por conta disso era chamada de indecente, imoral ou coisas piores. Perdeu seu emprego por conta disso e meu neto mais velho teve sua matrícula recusada em uma Escola pública, justamente por ser filho de uma mãe divorciada. Hoje ele é Professor concursado na Universidade Federal de Uberlândia. O destino às vezes dá voltas.
Quando vejo o preconceito em relação às pessoas de orientação homossexual, sinto-me de novo em 1954 e nos anos anteriores. Eles não têm o direito de amar, como eu não tive. Eles não têm o direito de se casar, como eu também não tive. São considerados pessoas anormais e pervertidas, da mesma forma como fui chamada de “crioula safada”: são rotulados sem que ninguém os conheça, e eu sei qual o tamanho desta dor. Para minha sorte, tive pais analfabetos e pobres, mas maravilhosos. E os homossexuais, que muitas vezes têm de enfrentar o preconceito dentro da própria família, para além daquele que existe na sociedade?
Quem lhe fala, Excelência, é uma mulher que tem idade para ser sua avó. Meu desejo, a essa altura da vida – já são quase 80 anos – é que pessoas como Vossa Excelência persistam em lutar contra o preconceito e qualquer forma de discriminação e opressão neste país. Como ninguém me sentenciou à morte ainda tenho o direito de sonhar, e meu sonho é o de ver uma sociedade verdadeiramente livre, em que cada um possa expressar livremente sua cultura, seu jeito, seus traços africanos ou seu amor, seja ele de qual orientação for. Envio meu apoio ao Projeto de Emenda Constitucional para a viabilidade do casamento de pessoas do mesmo sexo, a fim de que elas tenham o direito que me foi negado: casar-me com quem eu amava e que também me amava em virtude do preconceito de terceiros!
Para a verdadeira democracia, prossiga na sua luta pelas pessoas deste país, meu jovem Deputado.
Com admiração,
Dirce Pereira da Silva

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Museu do Fim dos Relacionamentos

Ou Museu dos Corações Partidos existe, foi criado na Croácia e no momento seu acervo está em Londres. Nasceu a partir de [claro] término de um relacionamento, assim como a exposição ''Prenez soin de vous'' [Cuide de Você], da artista Sophie Calle. Ambos expõem as dores de amores findos.

Daí veio a provocação no FB: E você, Maria... O que colocaria nesse museu?

Pausa.... Longa pausa. Há amores que valem a pena despejar as memórias no museu, de outros melhor tê-las por perto se acaso um milagre aconteça e eles revivam.

Dos primeiros, apenas de um enviaria peças para o museu. Esse amor que me marcou com ferro e fogo, deixaria uma mala, tamanha a sensação de que fora um engôdo desde a gênese. Uma estória criada por uma mente criativa e um coração ansioso por afetos. Há colares comprados em aeroportos, um velho all star azul [para combinar com o dele],  muitas mentiras ditas nos olhos e uma certeza: é peça de museu.

De[o] outro há tantas lembranças e uma saudade indescritível do que não vivemos. Apego-me como se pudesse voltar o tempo, reviver, reescrever com a esperança tola de reencontrar. Mas é tanto [re], que talvez fosse melhor re editar, com uma roupagem literária. Escrever essa história, eternizá-la nas letras em lugar da memória e assim, fazer das lembranças  peças de um museu vivo na estória.

Assim, há meses me preparo ouvindo diariamente a caixinha de música [que chegou pelo correio], lembrança de um amor [n] vivido entre NY - BSB - PARIS, para dar fim a esperança de retomá-lo um dia. E se não o fiz ainda, depois de tantos anos, é que dói abrir mão do sonho e encarar os amores reais que vieram e se foram por falta de atenção.

Deste estranho amor, deixaria no museu um livro - igualmente presente dele - A Little Big Book of Love a fim de que ensine aos que o virem ''a acreditar no amor''.

Só não estou pronta ainda... para deixá-lo no museu.


Para quem vai à Inglaterra antes de 15 de abril, fica a dica:
Museum of Broken Relationships
De 28 de janeiro a 15 de abril de 2012
The National Centre for Craft & Design

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Derradeira Máscara

Caiu a última máscara, Caio Marques.

A atitude mesquinha e pequena por fim revelou o tamanho desprezível do caráter que se ocultava por detrás de teu gigante [ego]. Não me supreende, mas nem por isso deixa de chocar-me.

Saio do encontro em que me foi revelada sua vilania com um sorriso no rosto. Não chego a compreendê-lo [o sorriso] mas não posso deixar de sorrir. Seria pela tranquilidade de já não estar mais compartilhando a vida contigo? Talvez.

Seria pela certeza de ver revelada a natureza por mim descoberta? Pode ser. Quem sabe o sorriso mostre apenas a satisfação íntima por vê-lo se dando ao trabalho de mandar recados. [já havia recebido seus recados], esperando por respostas. 

Bem, se é resposta que quer: Ei-la!

O que não me faz falta não é importante.

Sigo adiante, sem olhar para trás. Nada há atrás que me interesse.

A.L.