domingo, 4 de outubro de 2015

Carta sobre a Casa Amarela

Querido Caio,

Algo novo e fresco chega aos poucos. Ainda não sei de quê se trata, nem aflige saber. Estou naqueles dias que importa sentir. Saber aqui não interessa. 

É como se entrasse em uma casa pela primeira vez. Aquela casa amarela que fica na mesma rua em que moro. A que olho de longe todos os dias quando saio e quando volto. E que às vezes não olho, mas sinto perto. 

É como se passasse pela rua, a mesma rua de todos os dias e a porta estivesse entreaberta. Posso ver a entrada e a sala de estar. Sinto-me convidada a espio e o que vejo é uma saleta clara, com poucos adornos e móveis precisos como as palavras em seu muro.

Encho-me de coragem e olho. De súbito me percebo na sala de estar. A curiosidade e o encantamento quase infantis são maiores que a cerimônia. Revela-se aos poucos um salão amplo, com um piso brilhante, que reflete os pés [e pernas] que ali se sustentam. E ainda bem impressionada com o frescor e a claridade que preenchem o ambiente, antevejo umas tantas outras portas - fechadas - umas tantas janelas abertas ou entreabertas e vou me encantando ainda mais com o lugar. Há um suave odor agridoce e envolvente.

Daí… de uma dessas portas entreabertas, através de uma fresca bem estreita, posso ver um fio de prata a reluzir. Surpreendo-me! E sorrio um sorriso discreto e me sinto estranhamente acolhida. Saber que há um fio de prata por detrás daquela porta me faz sentir um tanto íntima. Ainda que timidamente.

E tu, Caio, como te sentes?

Sempre tua,

Anita