terça-feira, 22 de março de 2011

Diário de Bordo Porto Alegre IV

Porto Alegre entrou em mim para o resto da vida. Aqui estou, delicadamente tomando a cidade nas mãos, percorrendo suas ruas corriqueiras, deslizando pelos endereços de todos os dias. Sorvendo os sabores da cidade, flutuando nos acentos típicos da fala gaúcha.

Adoro conhecer novos lugares e conhecer para mim é uma experiência sensorial, multi sensorial. Preciso sentir os cheiros, minha pele tem de estabelecer contato com as ruas e as praças, preciso dos sons e dos silêncios, do movimento e das pausas das avenidas e dos semáforos; claro, preciso sentir os gostos da cidade. Não os gostos forjados em clubes de gastronomia - que são ótimos para outros propósitos - mas o sabor que vem das esquinas, das tradições, das origens étnicas, do dia a dia de cada lugar.

Ontem foi dia de provar o Kibe do Brique, que fica ali na Felipe Camarão, bairro Bonfim. Não podia deixar de experimentar.  O bairro, lugar de forte influência judaica, abraça o Kibe do Brique e suspiro de orgulho de ser brasileira, onde árabes e judeus são vizinhos, são sócios, são amigos.

O kibe é imperdível, o preço honesto, o atendimento é simpaticíssimo e o lugar um charme. Precisa dizer mais? Arrependimento apenas de não ter provado o amanteigado de tâmaras - eu amo - mas hei senti-lo completamente antes de partir. (por sorte estou hospedada a dois passos desse pequeno paraíso). Mas não apenas de sabores é feita uma cidade.

Tomei um coletivo hoje cedo em direção a Menino Deus, bairro de Porto Alegre onde viveu Caio - Caio Fernando Abreu -  a ausência mais presente dos últimos tempos, com quem dialógo diariamente, a quem escrevo turbilhões de idéias esperando uma resposta, um alento. Bairro cujo nome tem acordes de Caetano, sussurrando em meus ouvidos. Fui lá. Fui sentir o cheiro e permitir-me deslizar por suas ruas estreitas, profundas, reveladoras da essência tímida e silenciosa.

Mergulhei nas profundezas da Peri Machado até respirar fundo diante da praça coberta de folhas ainda não secas anunciando o outono que se avizinha por aqui. Foi bom, sensorialmente bom e cheio de lembranças que não tenho.

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