quinta-feira, 10 de março de 2011

Anita Lopes Pós Desencanto

Querido Caio,

Talvez eu não me desse conta do quanto fora importante nossa comunicação. Passado o impacto da confissão que fez em sua última carta, superada a raiva que senti por ter sido enganada por ti, e finalmente consciente de minha desimportância na vida do ''outro'' - aquele cujo lugar ocupastes sem cerimônia ou pejo - percebi o alcance de tua presença em minha vida. Por isso a carta  enviada desde o sul, aquela que não me respondestes. Ainda desejas siga te chamando assim? És ainda o Caio criado para nos fazer próximos? 

Tudo o que se passou em mim nos últimos meses, após a tua confissão, foi um renascer. Anita tal qual me apresentei a ti (a ele?) já não existe. Ela acreditava num homem que mal tinha coragem para olhá-la nos olhos. Aquela Anita viveu surpreendentemente em função das cartas dele, seus dias e horas eram medidos pela medida da frequência com que recebia noticias. Aquela Anita orbitava em torno de um homem que fora criado por ela. Supostamente frágil, supostamente sensível aquele homem sequer lhe reconhecia a existência. 

Ilusão. A culpa jamais fora dele, fui eu quem me abandonou em prol de uma existência acessória às cartas dele. Mas que cartas? Não eras tu que vivia por ele as cartas? E ele, será que vive de fato? 

Não vou dizer-te que foi fácil, querido Caio, olhar para 'meu' universo em desencanto. Imaginas como me senti ao perceber o engodo que havia criado para mim? Felizmente tua confissão caiu como uma tampa de bueiro em minha calçada, causou clamor popular por melhores condições e me fez acordar do estado de quase morte em que me encontrava.

Meus olhos voltaram a brilhar. A viagem com a querida Alba ensinou-me tantas coisas. Há novamente sorriso em meu rosto. Sabes que desde que vim morar aqui conheci tantas pessoas interesssantes. Voltei aos chás vespertinos com D. Maroca (e suas histórias incríveis), reencontrei Maria Amélia a exuberante jornalista que me foi apresentada no trabalho, e finalmente me dispus a aceitar alguns dos convites do senhor K. (lembra-se dele?)

Por aqui vou ficando, amigo Caio, por que há vida e vou vivê-la.

Abraço carinhoso de sua,

A.L.

P.S. Saio agora para encontrar o senhor K. Conto-te tudo na próxima missiva.


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