quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Brigadeiro Vegano ou Os velhos rótulos para novas histórias

Nada é o que parece ser. Com esse título me agarro ao passado. Prendo-me às lembranças de sabores experimentados há uma década. Prendemo-nos. Não sou diferente de ninguém que agora me lê. Ficamos todos buscando escamotear o novo com as vestes do passado para alimentar essa febre de viver o que já foi vivido, de sentir de novo o prazer já  fruído; de gozar o mesmo gozo e beijar os mesmo gosto.

foto: Aika Maria

Enganamo-nos para causar a sensação de que nada mudou, mas mudou. O mundo mudou e já não somos os mesmos. Presos ao passado mal conseguimos conceber a possibilidade de algo novo; e se a concebemos, se mesmo a criamos, carecemos de coragem para ousar apresentá-la tal como é.

E envolvemo-nos em deliciosos aromas, porções de mel e canela, testamos a textura com desvelado louvor e deslizamos nossas mãos com óleos saborosos e surge algo único e inédito. E numa  tentativa louca de recriar o vivido, referenciamos a criação com nome e sobrenome conhecidos, ou esforçamo-nos por moldá-lo semelhança e forma com o velho script. Fetiche! Ou buscamos o novo nome, mas não abrimos mão da forma. 

E não há um novo substantivo que consiga nominar algo realmente inédito e especial. Ainda mais se camuflado sob o manto do engano, sob o disfarce do que já foi, vestido pela ultrapassada fórmula. E a disfarçamos de conhecido e [re]conhecido. Como se a aprovação - sempre ela - dependesse de que isso seja aquilo, só que seja diferente, mas seja também aquilo e, sempre o fetiche no que foi um dia. Não no que é.

Quando fingimos ser o que não é; quando tentamos enganar a nós e aos outros com os velhos parâmetros tão batidos de ‘o sucesso de público e crítica’, gosto de mentira escapa, e trava a garganta e os dedos. 

Ao novo deve ser dado o direito de ser exatamente como é. Sem apegos saudosos ao que foi. Sem fetiches ou fantasias. Sem fingir-se de aprovado. Ao novo cabe ser o que é: Inédito. Com seus próprios sabores, aromas; forma sem fórmulas!  Um devir, um percurso, uma estrada, um teste, uma hipótese não demonstrada. Um fluxo de fruição!


Tentar vestir o novo com as velhas roupas do passado só fará de ambos - passado e presente - falsos. Falso o que foi, e já não é. Falso o que é, e, por fetiche, não pode atualizar-se no ser. 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Vitamina Central - Asa Sul - Brasília

Foto: João Neto
Não há como falar em tradição quanto se trata da ainda jovem Brasília. Cidade se firmando nesse campo. Mas dá para falar de lugares e hábitos que ao longo das décadas que formam a capital federal do Brasil estiveram presentes na vida de muitos e muitos de nós que estamos aqui há mais de duas décadas. Um desses lugares é sem dúvida o Vitamina Central, na 506Sul, coração da W3.



O forte, por certo, são as vitaminas de frutas, com ou sem leite, batidas e servidas numa grande jarra. O preço é super amistoso, quase tanto quanto são gostosas as vitaminas.

Foto: João Neto

Mas não só de batida de frutas vive o lugar. Há diversos salgados cujo aroma literalmente toma conta do ambiente. Despertando muito desejo em quem, como eu [vocês já sabem] não pode comer glúten! Mas tranquilo... Tem pão de queijo e é de responsa. 

Foto: João Neto

No Vitamina Central você encontra gente de todas as idades. Muitos levando seus filhos, onde habitualmente tomavam vitaminas quando crianças. Assim também os mais velhos confirmam presença no lugar que resiste ao burburinho ininterrupto e revelador dos afetos e memórias que são abrigados pelo lugar.

Foto: João Neto

Por essas e por minhas próprias memórias de afetos, Vitamina Central é super recomendado aqui. Mas atenção! Não funciona no domingo. 

Entrou por uma porta, saiu pela outra... quem quiser e puder que conte outra! 

Alguma dica de café da manhã em Brasília? 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Torta de Cacau Veggan -

Alimentar-se com consciência é também #CuidardeSi.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Pão e Vinho - Lago Norte

Café da manhã em Brasília rende muitas possibilidades. Desde a feira do CEASA até a padaria mais ajeitada do Lago Norte [meu bairro de casas predileto]. Reza a lenda que quando os primeiros moradores chegaram a Brasília, o Lago Norte era tão distante e deserto que quem comprava um lote, ganhava outro. Bons tempos aqueles! [Quisera eu!] O bairro é tranquilo e os moradores tem um perfil bem mais multicultural que no seu irmão-gêmeo Lago Sul. Aliás, Lago Norte ainda reserva maravilhas não registradas por esta blogueira, que virão muito em breve, porque em termos de Dicas de Brasília, não há como não registrá-las. Mas deixemos de blá, blá, blá e vamos ao que interessa agora: Café da manhã na Pão e Vinho. 

foto: João Neto
A padaria é bem abastecida, tem belos doces num balcão vitrine de comer com os olhos.  Tudo que alguém alérgica a glúten e intolerante a lactose não pode. Mas sabe como é... Eu sou, mas vocês não são, então. #Ficaadica.  Por que os pãezinhos [carioca, cacetinho, de sal, francês] parecem deliciosos e eles fazem o famoso ''na chapa''.

foto: João Neto
O café da manhã é servido em área aberta em mesinhas simpáticas, mas o cheiro de carne assando invade o espaço ocupando toda a poesia de forma rude. Ainda assim, a Kátia nos atendeu super bem. Com uma simpatia que cativa. 

foto: João Neto
O biscoito de queijo é imperdível* e há várias opções para alguém, que como eu, tem restrições alimentares. Entre cuscuz [nordestino], tapiocas e ''otras cositas más''. E, claro, tem todas as boas opções de uma padaria variada, incluindo crepes. A chapa é comandada pela Nalvinha e o café tirado pela barista Daniela. 


E para quem quer acompanhar... Semana que vem tem mais. Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem tiver dicas de café da manhã em Bras'Ilha, que nos conte outra! 









Respeite os direitos de autoria. Se for citar, dê créditos à autora.






quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Buenos Aires, mi amor! - I

Esta semana uma amiga me pediu dicas de Buenos Aires. Bem, BAires é daquelas cidades inolvidáveis. Além de tudo, vinha sendo para nós brasileiros, um destino acessível. Há várias formas de ir a BAires. Você pode comprar um pacote de viagens [meio chato] ou comprar as passagens e optar por uma das diversas formas divertidas de se hospedar por lá [ou em qualquer outro lugar do planeta.



A primeira vez que fui à capital portenha para turismo, decidi que queria iniciar minha filha e meu filho, então adolescentes, na magia e clima espontâneos dos hostels. Ainda não foi daquela vez. Mas é muito possível e bem recomendável essa opção barata e divertida de hospedagem. É fácil encontrar um bom hostel em qualquer parte do mundo.  Vale a pena ler atentamente a descrição do local e principalmente as referências deixadas pelos hóspedes. Em geral há acomodação coletiva masculina, coletiva feminina, coletiva mista e privativa. A maior vantagem é que você pode conviver com outros viajantes e lá mesmo conseguir dicas bem legais de lugares não tão turísticos ou formas mais descoladas [e baratas] de fazer as mesmas visitas que os turistões vão fazer. Quer achar um hostel bacana em BAires? É qui!

Mas vida é fluxo e, portanto, impermanente. Tivemos de mudar os planos para agregar mais duas pessoas ao nosso grupo familiar e acabou por ficar mais interessante alugarmos um apartamento. Sim, é possível alugar apartamento em Buenos Aires por preços ótimos. A relação custo benefício em relação a hotéis é muito boa. Na época pagamos $750 dólares por 20 dias num apartamento  para 5 pessoas super bem localizado. Escolhemos ficar em Palermo e de lá podíamos fazer quase tudo a pé, além disso estávamos muito próximos de uma estação de metrô e havia ônibus para todo lado. Vários dos pontos que queríamos visitar estavam ao lado.

Mais importante ainda foi a experiência de viver por uns dias como portenhos. Havia uma panadería [padaria] ao lado do prédio, então comprávamos ''media lunas'' frescas pela manhã e pudemos experimentar os gostos e sabores dos quitutes que eles habitualmente comem no café da manhã.
Lembre-se, num hotel, serviriam o mesmo café da manhã que em Nova Iorque, Paris ou Rio de Janeiro. Alguma novidade nisso? Quer tentar alugar um apêzinho em Buenos Aires? O melhor caminho é o Airbnb.  Por meio do site [super seguro] você pode tanto alugar uma casa ou apartamento inteiro, como também alugar um quarto na casa de alguém. 

Pessoalmente eu hoje prefiro ficar na casa das pessoas. Isto porque em geral pessoas que se colocam a receber outras em suas casas tem gosto por receber e muito boa vontade para dar boas dicas da cidade. Referências sobre lugares onde os nativos habitantes vão efetivamente, e portanto, é uma oportunidade de conhecer a cidade pelos olhos de quem realmente vive nela e não mergulhar na ilusão dos passeios pré programados pelos guias.  Mas essa é uma posição pessoal minha. Você pode sentir necessidade de privacidade e não se sentir seguro ou confortável na casa de outrem. Se assim é, opte mesmo por alugar um espaço inteiro. De qualquer modo, é uma forma bem mais barata que hotel e bem mais interessante.

Mas se você, como eu, vai mais longe na experiência de compartilhar espaços, interagir, trocar experiências e partilhar a vida, então uma outra boa opção pode ser o Couchsurfing. Neste caso, não há remuneração em troca da hospedagem. Couchsurfing costuma ser uma organização de pessoas no mundo inteiro que amam viajar, amam conhecer novas culturas e, sobretudo, amam pessoas. Então, receber pessoas é um prazer. Em geral, pequenas gentilezas ''em troca'' da hospedagem são bacanas. Cozinhar algo, ensinar algo, partilhar vivências, músicas, enfim... Se é seguro? Sim, em geral é bem seguro, mas como no exemplo do hostes e do Airbnb, vale a pena olhar com atenção as referências deixadas por hóspedes e combinar tudo bem direitinho. 

Hoje publiquei as dicas de hospedagem, agora você já tem um 'lar' na capital argentina. Depois virão as dicas de onde comer, onde ir e os ''pulos do gato'' quanto a compras e segurança. 

Entrou por uma porta e saiu pela outra, quem quiser e souber que conte outras dicas de Buenos Aires. 



Respeite os direitos da autora. Dê créditos se for reproduzir. 

domingo, 17 de agosto de 2014

Café da Manhã em Brasília - As cores e sabores da CEASA

Brasília tem muito o que fazer e o que conhecer. Desde sua arquitetura e urbanismo modernistas às belezas naturais que a emolduram, a capital federal é muito mais que o centro político administrativo do Brasil. Brasília tem cores, retas e curvas; a vegetação instigante do cerrado; a multiculturalidade das pessoas vindas de várias partes do país e do mundo. E tem também uma variada e interessante culinária - misto de hábitos e gostos - resultado da mescla de seus habitantes fixos e sazonais.  Então, que tal começar pelo começo e ir experimentando os sabores do café da manhã na cidade?

Começar pelo começo é mesmo iniciar na Central de Abastaecimento - CEASA. O que remete às memórias da adolescência em São Paulo. É o resgate do prazer de percorrer a rua da feira às 6h da manhã vendo os feirantes organizando suas bancas, combinando cores e texturas, gritando suas ofertas e fazendo gracejos. 

foto: João Neto
A CEASA-DF é onde a cidade-viva se encontra nas manhãs de sábado [terças e quintas], onde a feira enche o espaço dos armazéns de cheiros, sons e cores. A central é o retrato da diversidade cultural de Brasília. É possível encontrar pessoas de várias nacionalidades comprando e distintas origens étnicas e regionais. Da cajuína cristalina de Teresina aos azeites importados e às especiarias da Casa de Queijos, tudo ali é possível encontrar. 

Nesse cenário quase onírico o café da manhã é capítulo à parte. E, claro, as opções são variadas. 


foto: João Neto


Lembrar da feira em SP aos domingos é lembrar do inescusável pastel da chinesa no início da rua, no final da feira. Para quem se entrega aos prazeres do trigo, Pastel do Mineiro é o endereço. Mas se você, como eu, tem alergia a glúten, a feira oferece opções. Tapioca é um caminho. Entre laranjas e melancias a banca é concorrida, mas vale a pena a espera. Sempre se pode encontrar gente bacana para conversar na fila ou reencontrar amigas que há muito não se vê. 

foto: João Neto
São quatro tapioqueiras produzindo uma quantidade de sabores bem diversa nos recheios. Acompanha café - claro - mas há de se reivindicar uma opção sem açúcar. Vá com apetite e aproveite o dia! 

Entrou por uma porta, saiu pela outra... E quem quiser, que me conte outra dica de Brasília para curtir o café da manhã no fim de semana.



Respeite a autoria. Dê crédito à autora.



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Raízes e Asas






As raízes se escondem 
Na profunda Terra escura
Enquanto as asas se exibem desavergonhadas

As raízes são de virgem
As asas são de leão.

Sou peixes com ascendente em escorpião

Nessa vida vim para bater asas e ganhar o mundo. 

Mas um dia...

Um dia Serei árvore. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Brasília, minha Bras'Ilha 54 anos!






Bras'Ilha, a cidade que escolhi pra mim, é a mais perfeita tradução de quem sou. Saio de Bras'Ilha [mesmo que por instantes], mas Bras'Ilha não sai de mim. E cada vez que volto a redescubro. Ela pode parecer óbvia em suas linhas e curvas, nas suas proporções monumentais, mas é nos jardins secretos das superquadras que mora sua alma. É preciso percorrê-los para descobrir-lhe a magia e a pureza. Bras'Ilha, minha cidade faz anos. E que nos próximos 54 anos possamos honrar e viver sua natureza libertária [no sentido profundo e verdadeiro da palavra], em sua estética revolucionária, mística, diversa e à frente de seu tempo. Que possamos nos libertar de usurpadores de última hora que teimam em acorrentar a cidade a velhos e rançosos modelos que a aprisionam nas teias de podres poderes e ilusões. Que sejamos o que a cidade nasceu para ser: Livres, Leves, Criativos e Amorosos! *

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Diário de Bordo - Pirenópolis - GO


Tinha muito mais a contar de São João Del Rei  - MG, mas engatei uma viagem para Pirenópolis-GO, uma semana depois. Então tá, né? Pirenópolis foi por um tempo uma das minhas 5 cidades favoritas no mundo, dividindo com Nova Iorque [elas têm nada em comum!], já quis até morar lá [por um tempo ou para sempre]. Mas ela ficou meio ''cheia demais'', ''barulhenta demais'', ''confusa e descuidada demais''. Por um tempo fiquei sem dar o ar da graça. Fui  some last week end e... Surpresa!

A cidade está se preparando para a Copa 2014. Talvez seja a única cidade que eu tenha visto no último ano que visivelmente está se preparando para a Copa. O acesso ao município está melhor conservado e melhor sinalizado. A entrada da cidade foi totalmente remodelada, tendo sido colocada placa de boas vindas em 4 idiomas (inglês, francês, espanhol e alemão). Quer mais?



Praticamente todas as fachadas de casas do centro histórico foram restauradas, a obra de reconstrução da Igreja da Matriz foi concluída, o Theatro restaurado e em funcionamento, uma subsede da UEG - Universidade Estadual de Goiás, cursos de inglês por todo lado, mais hospedagens familiares, mais pousadas (chegam a 110 atualmente). Acha pouco para uma cidade de 21mil habitantes?

A cidade está toda bem sinalizada e conservada, mas está acima de tudo viva! Pirenópolis está sabendo unir proteção ao patrimônio com fluxo, turismo e cultura.

E agora tem FliPiri 2014, uma das melhores festas literárias do país.




Entrou por uma porta, saiu pela outra... Qualquer hora conto outra.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Poeminha Besta



Ao tempo em que desejo,
fujo
E deito e rolo e escapo
Me debruço sôfrega
Vomito
Cuspo
Choro
Rio e danço
Escrevo um rabisco
toco o céu da boca
Sinto
mergulho num infinito
Deito, me retorço
E canto
Exausta e plena
Fecho os olhos
E Suspiro.







sábado, 29 de março de 2014

Diário de Bordo - Fortaleza

Vir a Fortaleza é sempre um grande prazer, afinal algumas das minhas raízes estão aqui. 
No entanto, a primeira observação quanto a viagem é sobre a OceanAir - agora AVIANCA - cujo serviço de bordo supera bem o das tradicionais(?) Gol e TAM. Além de simpático, o lanche servido foi pelo menos honesto. Nada de goiabinhas Balducco (arght), nem de biscoitinhos Piraquê (nada contra, nada a favor) cheios de gordura trans e muito glúten.

Além do excelente serviço, tive a grata surpresa de um dos melhores pousos já vivenciados. Quando jurava que o avião ia se desestabilizar ao tocar o solo - dada a velocidade da aeronave a tão poucos metros do chão - o piloto conseguiu beijar suavemente a pista. AVIANCA merece meus sinceros aplausos e agradecimentos por seu carinho com @s passageir@s.

Estando em terra, só alegria ao rever irmã. Irmã é uma das figuras mais importantes da minha vida. Sou grata por tê-la por perto, mesmo quando está longe. Levou-me para jantar num lugarzinho ultra charmoso, pertinho da casa dela, o que me propiciou o prazer de caminhar pelas calçadas. 

Comida boa, nada que mereça nota. Atendimento simpático para os padrôes locais, carta de vinhos sofrível, senti muita falta de um bom espumante nacional, desses produzidos no vale do São Francisco e que estão sendo exportados para a Europa e recebem prêmios por aí. A decoração valia ouro: Super agradável, pequeno e aconchegante.

O trânsito, como nas principais capitais brasileiras, é caótico. Quando vamos nos dar conta que precisamos repensar transporte no Brasil? Quando a indústria automobilística vai avançar no sentido de minimizar os prejuízos que vem causando ao meio ambiente? Quando vai repensar seu modelo de negócios?

De toda sorte, cheguei sem tropeços a meu destino. A reunião foi extremamente exitosa, embora tenha começado com algum atraso e, de brinde, na volta, serpenteiei por outra parte da cidade - Parangaba, Montese, etc - bairros que só conhecia de ouvir falar na propaganda do caminhão de gás.

Missão cumprida, seria hora de voltar ao lar-doce-lar: Brasília? Novos desafios surgem, em velhos modelos. Novos desafios surgem aqui, em novos modelos. Que fazer?

Entrou por uma porta e saiu pela outra. Daqui a pouco conto outra.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Disney Desfaz, Disney Faz







Como assim dormir até ser beijada pelo príncipe encantado? Esperar numa torre, presa e infeliz até que o herói, sobre um cavalo branco, espada em punho a salve? Por que ser pobre, miserável e explorada e só conseguir mudar a vida após ser reconhecida por um príncipe?



Bom, eu não sei quanto a vocês, mas eu amei as princesas de Grimm e de Perrault queimando seus soutiens em Schrek III. Defendo dioturnamente o direito e a autonomia das mulheres, especialmente quanto à sexualidade. Como milhares de outras mulheres no Brasil e no mundo, pago minhas contas - em dia, diga-se de passagem - ganho cada centavo que gasto com o suor do meu rosto e a fadiga de meus neurônios - com muito orgulho.



No entanto, as mulheres do mundo inteiro, inclusive a que vos escreve, foram atropeladas por Grimm e Perrault. Mais modernamente, arrebatadas por Hollywood e suas deliciosas comédias românticas. Por mais que intelectualmente já se tenha superado o mantra sagrado ''felizes para sempre'', que conscientemente o exercício da independência e da autonomia seja praticado, nada, nada consegue arrancar do canto escuro dos baús mais escondidos o sonho de encontrar um par.



É verdade, aquela que escreveu contra a ditatura dos pares ora escreve sobre o sonho do príncipe encantado, admitindo que descobriu ser mais comum do que imaginava. Há milhões de mulheres independentes no mundo inteiro, que (in)conscientemente desejam o tal par. Estarrecida dei-me conta que essa fantasia pode também me assombrar. Será? Tenho vida financeira equilibrada, conquistas profissionais que me orgulham, um filho e uma filha lindos, dois e meio casamentos no currículo, muitos livros e discos...


Bom, tenho observado que embora tenham uma incrível vida de autonomia e independência e não querendo objetivamente casar-se, quando sabem que o outro não quer casar-se com elas muitas mulheres sentem-se fortemente atingidas em sua autoestima.




Abalada a validez diante do mundo, o estômago dá sinais de vida. Sim, ele corresponde ao poder pessoal segundo estudiosos de medicina chinesa. O estômago começa a gritar. Mostra o quanto está ferido. Dói diariamente. Antes e depois das refeiçoes. Na hora de deitar e logo ao acordar. É como se lá houvesse uma ferida dessas bem antigas, das que criam casca, sabe? Então, como se nas últimas semanas, ciente da fragilidade houvesse visto a casca e o encanto houvesse se quebrado. Sem a poção de inconsciência dada pela bruxa má do oeste, eis a tal casca soltando-se pouco a pouco da superfície lisa da mucosa estomacal. Consegue imaginar a dor?


Só o completo massacre cultural sofrido por gerações e gerações de mulheres explica tal situação. Caso o parceiro as pedisse em casamento, provavelmente, na maior parte dos casos, não topariam a aventura. No entanto, ao escutar que o companheiro não deseja tal envolvimento a autovaloração sofre sensíveis abalos: 'Porque não quer casar-se comigo?' Não sou, por acaso, uma mulher digna de compromisso social?' 'E todas a minhas qualidades pessoais e intransferíveis, não contam?'




Assim, mulheres bonitas, inteligentes, bem sucedidas profissionalmente, estáveis financeiramente, divertidas e maduras ficam reféns de desejos/não desejos de seus parceiros. Colocam em xeque todas as suas qualidades, dependentes do 'carimbo' de valorosas, que só pode ser recebido se o homem em questão quiser casar-se com elas.



Durma-se com um barulho desses!!!





Maria Cláudia Cabral. Respeite os direitos autorais. Se citar, dê crédito a autora.

terça-feira, 25 de março de 2014

Eu preciso lhe dizer: Homossexualidade é um jeito de ser, simples assim!





Eu preciso lhe dizer. Documentário de Douro Moura, com a participação de Mães pela Igualdade

Maria, Marias...Brasil de Muitas Marias...

fonte: http://www.muraki.org.br/mulheres-são-maioria-entre-os-novos-empreendedores


A participação de mulheres líderes (delegadas) foi inesquecível, 41% de participação feminina, na 1ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário em 2008, a que acompanhei. No momento de retirar o certificado, a grande inspiração: Havia uma fila específica para as 'Marias'.

Somos muitas Marias no nosso Brasilzão. Somos Marias do norte, do sul, do sudeste, do centro-oeste. Somos Marias do nordeste. Bravas e fortes Marias. Somos Marias negras, pardas, amarelas, somos Marias arco-íris, multicores,coloridas, multi-facetadas. Somos Marias indígenas e quilombolas. Somos Marias no enfrentamento às desigualdades. Na luta pela igualdade de gênero, de raça e de etnia. Pelo respeito às diferenças, pelo direito à crença e pelo direito ao aborto legal.

Marias do Amparo, Marias da Conceição, Marias das Graças, Auxiliadoras e da Concepção. Somos Marias trabalhadoras rurais, Marias marisqueiras, sindicalistas, jornalistas, advogadas, professoras, pesquisadoras, psicólogas. Tão diferentes Marias! Somos tantas, todas juntas na luta por direitos básicos, direitos fundamentais. Direito de ser Maria!

Somos as Marias do rural e do urbano, do campo, da floresta, das bacias, das metrópoles, das aldeias e dos quilombos. Estamos em todas as partes, com sonhos, desejos, angústias e dúvidas. Queremos coisas diferentes, e, no fundo, as mesmas coisas. Somos diversas Marias, numa estrada una. Todas nós temos direitos, todas nós queremos mais.

Toda Mulher tem direito a uma vida com Paz, Amor e Respeito.


Avalanche



fonte: http://www.worth1000.com




Coração batia oco
pulmões murchos
em costelas apertadas
Espanto!


Úmidas mãos frias
súbita garganta louca
arrasta caminhos
avalanche rouca


Explode 
densos raios, afrouxa
Intensa lua
Coloca-me livre
Suavemente nua
Diante da tua
[In]decisão precisa




domingo, 16 de março de 2014

Dicas de Fortaleza - Tradição pé no chão no Rota do Sol Poente

A verdadeira arte de viajar...

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"

Mario Quintana

Fugi de casa. Vim parar em Fortaleza. Não poderia deixar de fazer aqui meu diário de bordo, nem de dar dicas de onde comer e passear na cidade. Voltei para casa. A casa das matriarcas, a casa de parte das minhas raízes, lugar de afetos, sabores e memórias. Compartilhar os cantinhos secretos de Fortaleza é o desafio. Para nós que não fazemos turismo de 'pacote'. Nem somos dados a 22 cidades em 10 dias, vale seguir as dicas de quem é da terra e as trilhas dos lugares onde os nativos vão.Camarão do Zé Lima é canto que só os nativos conhecem. E a fama do moço corre léguas, de tal modo que se parar na beira da estrada (estruturante) qualquer do povo saberá informar sobre o cabra que faz camarões de lamber os beiços. 

foto: Maria Cláudia Cabral

O local é agradável, corre vento fresco sob as árvores que cobrem as mesas na calçada. Localizado num final de rua, tranquilo e sereno, o atendimento é simpático e a fama do moço é maior que os sabores que oferece. Parece daqueles lugares que por um conjunto de peculiaridades caiu no gosto das pessoas, pela discrição e tranquilidade do lugar, longe do zum-zum da cidade grande, mas perto o suficiente para valer uma fugida na hora do almoço. Chegar ao Zé Lima é simples, na verdade. Basta seguir em direção a Caucaia. Na primeira rotatória, esquecer Caucaia e seguir em direção às praias. Na segunda rotatória entrar à esquerda, tomando a via estruturante e entrar na primeira oportunidade à direita. Nesta via vicinal seguir por cerca de 3km, observando à direita. Logo se avista o luminoso do Camarão do Zé Lima. Valem algumas dicas: 


  • Não vá no período de chuvas. As moscas insistem em compartilhar seu prato com você. Talvez à noite seja melhor;
  • Vá com amigos e amigas. O prato dá para 4 ou 5 pessoas tranquilamente e você gastará menos que uma sessão de cinema com pipoca;
  • Não tenha pressa. O lugar foi feito para relaxar;
  • Procure o Rodrigo, o garçom cantor de rock'n'Roll que tem funPage no FB;
  • Quase tudo é ''puxado'' no creme de leite, um bom vendedor da Nestlé esteve lá antes de você, então, cuidado se for intolerante à lactose!
  • Não tente algo com leite de côco, a tradição foi irremediavelmente atropelada.
      A comida é boa, o preço é justo. Não posso dizer que caí de amores, mas    não poderia deixar de contar desse cantinho que só os cearenses arretados conhecem. Contatos seguem abaixo: 




      Entrou por uma porta e saiu pela outra... Qualquer dia, conto outra...




quinta-feira, 6 de março de 2014

Silêncio e Sons

...de repente dei-me conta do barulho fora de mim. e do silêncio dentro. senti a fronteira tão nítida, tão despropositadamente perceptível. senti-me apartada do mundo. o barulho e eu. como se pudesse diminuir o volume da vida lá fora e deixar-me seduzir pelo silêncio cerrado cá dentro. como diferençar o silêncio surdo do ruidoso tilintar de talheres, bater de bocas, buzinas, música e portas fechando e abrindo? não sei. sei e sinto-me [nessas horas] alienígena no mundo de sons. o silêncio faz sentido, os sons me confundem as idéias. é como um daqueles filmes de Wenders em que os pensamentos dos passantes estão em mode-on. aquelas vozes, tantas vozes, a rua e seus sons tudo ao mesmo tempo fora de mim. mode-on. e basta girar o botão do volume ou mesmo ajustar a estação para conseguir voltar ao espaço de silêncio, tão hermeticamente fechado, tão asséptico e seguro. tão inodoro. vem a dúvida:  será que apenas para mim o barulho do mundo é tão presente?  de outro lado, seria o espaço de silêncio um flagrante de hiperfoco ou a confissão de deficiência de atenção?
...de repente  o silêncio e os sons estão aqui. fazem parte deste momento de escrita. sinto e ouço os dedos ansiosos sobre o teclado, ao mesmo tempo que alguém na sala ao lado fala ao telefone, um pássaro passa com seu canto, os carros rasgam a avenida molhada de chuva, alguém com pressa buzina, o ônibus na parada acelera para sair, a reunião na outra sala continua e os dedos ainda tamborilam sôfregos sobre o teclado. não há limite para a conversa, nem para os carros cortando o asfalto, não há pausa sequer nos dedos teimosos que insistem em tocar rápidos as teclas. tentativa inócua de concluir o raciocínio que iniciei ainda ontem sobre coisas do direito e o direito das coisas. o volume das vozes no corredor se eleva, o burburinho na sala ao lado segue, há quem grite embaixo do prédio sinalizando a chegada [ou a partida], enquanto ônibus e carros cortam o asfalto encharcado pela chuva. buzinas, mais buzinas. arremesso a goma de mascar no cesto de lixo. o som das próprias mandíbulas mascando já estava a enlouquecer as idéias. não é falta do que fazer, é falta de sentido. nesse momento não consigo encontrar o espaço de silêncio e longe dele não há sentido e dentro dele não há.
olho para o texto e imagino um buraco no meio, como se eu pudesse entrar pela fenda no texto, num espaço-tempo aleatório e cortar [bem no meio]. e dobrar e produzir outros sentidos e outros sentimentos. fazer as palavras e seus significados se resignificarem pelo recorte e pelas dobraduras. isso faz sentido. brincar com o texto e seus supostos significados estéticos, materiais e sensoriais faz sentido. outros usos do tempo podem não fazer tanto sentido. dizer o direito [não] faz sentido, não para mim, não assim. escrever essas quantas linhas para reafirmar entendimento pacificado em tribunais superiores e na corte maior, em parágrafos sucessivos, reafirmando e reiterando não faz sentido. o leitor já entendeu na primeira linha transposta. mas há que reafirmar e reafirmar. e não vejo sentido. e o mais importante, não sinto sentido. não há poética ou ética em repetir a menos que seja um refrão. e se for refrão não é parecer, é música. ou não é?
uma moto acelerou lá fora e alguém muito irritado insiste em buzinar. outro arrastou uma cadeira, o som dos saltos altos salta aos ouvidos no corredor. todos os sons. tantos sons. e eu, incapaz de concluir o repeteco-tereco-teco. estranhos sentidos. estranhas entranhas. sons. silêncios. letras e os meus dedos ainda produzem ruídos enquanto escrevo esse tanto sem fim. 

Teu lugar, minha poesia



foto: Ierê Ferreira







Teu lugar me causa poesia.
Quero escrever em tuas paredes,
macular teus muros
marcar meus beijos
em becos escuros.
Tua presença me desconcerta tanto
que tropeço alheia,
[traio-me]:
emudeço.
Sinto um frio fino percorrer a espinha,
olho de soslaio, escapo em desatino.
Tuas palavras me revelam rouca,
me confessam louca
de desejo [e medo].
E nos teus lábios sinto o cheiro quente
do desejo ardente

Oculto sem pudor.