Fui dormir às três da manhã, hora do Brasil. 24 horas no ar. Acordei às 5:20, hora de San Salvador. Precisava concluir a apresentação. Quando vi já eram 8:20, não havia tomado café e o ônibus do evento já me aguardava. Tomei uma chuverada rápida, parti. Cheia de idéias, repleta de dúvidas.
Minha apresentação se modificou ao longo da manhã pelo menos dez vezes, a partir das falas ouvidas durante os debates. Quando por fim apresentei, já não falaria somente sobre as quebradeiras de coco, mas também sobre todo o processo de construção de algumas das políticas públicas brasileiras dos últimos tempos.
Não pude deixar de mencionar a importância das conferências, em especial a das Mulheres e a da Cultura, em razão do tema que debatíamos. O II PNPM igualmente mencionado, alguns exemplos de como vimos tratando mulheres e cultura, em especial em programas como o Cultura Viva e o Talentos do Brasil. Não me permiti ficar silente quanto ao paradoxo da regularização fundiária na Amazônia que tem colocado em cheque os fazeres tradicionais de algumas comunidades, notadamente extrativistas, em nome da padronização dos procedimentos. Há que tratar diferente os diferentes, já preconiza há 20 anos o princípio constitucional da isonomia.
As comunidades tradicionais são diferentes e não podemos tratá-las como tratamos outros posseiros, agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Mas a discussão desse tema a partir dessa perspectiva pode não ser música aos ouvidos de algumas pessoas muito queridas para mim. Embora me importe, não posso deixar de registrar minhas observações face ao problema. Afinal, ainda sou um ser individual, que como tal tem opiniões próprias.
Não à toa, embora seja uma simpatizante do PT, jamais me filiei a qualquer partido político, agremiação, organização sindical ou entidade de classe. Mesmo a OAB, que fiz parte nos primeiros anos de formada por força do exercício da profissão só me viu no dia do exame e no dia de fazer o juramente e pegar a carteira. Jamais fui dada a atrelar meu pensamento a pacotes fechados de idéias, embora seja, agora percebo, só nesse mundo. Talvez me faça falta fazer parte de um grupo, talvez não. Ainda não fechei essa idéia.
...E não me venha dizer que quem não se filia à esquerda, certamente está à direita por exclusão. Não admito tal preconceito, por que desde que me entendo por gente abomino preconceitos, desprezo o desprezo, como diria Morin.
A apresentação foi um sucesso, e compartilhar com mulheres da Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Costa Rica, Argentina e Espanha o debate sério sobre desenvolvimento, cultura e o papel das mulheres foi gratificante. Mais que isso, encantar-me mais uma vez com a incrível capacidade que nós temos de virar a mesa, rodar a baiana e dar a volta por cima.
Agora, aos braços do Morfeu, que me espera ansioso na cama enorme do hotel.
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