''Basta estar vivo para morrer''. Amo ditos populares, alguns julgam clichês desprezíveis, outros os usam indiscriminadamente. Eu, criada a base de frase de paralamas de caminhão, durante as intermináveis viagens por terra nas férias de verão, sei vários. E eles sempre me vêm à mente. São os precursores do twitter. Em menos de 140 caracteres dizem tudo, com clareza e objetividade.
Hoje ao sair do prédio onde trabalho vi o burburinho. Há menos de 15m uma mulher morrera de ataque fulminante do coração. ''Basta estar vivo para morrer'' - pensei. E os macacos começaram sua algazarra no sótão.
Por que nós esticamos mágoas e rancores? Por que nos afastamos de quem amamos por birra? Por que super valorizamos o medo em lugar do amor, a dor em lugar da saúde, a mágoa em lugar da compreensão? Por que buscamos afetos fakes para suprir nossas carências reais? Por que investimos tanto tempo em ferir quem nos fere, quando o que no fundo do coração queremos é que o engano, a briga, o desentendimento nunca tivesse ocorrido?
Por que perdemos valiosos minutos de nossa vida longe de quem nos faz feliz? De quem amamos? Dos amigos? Dos sentimentos verdadeiros?
Nossa vida está por um fio todos os dias. É clichê, sim! Mas é! A qualquer instante eu ou você podemos simplesmente deixar de existir e conosco vai embora um amor, uma palavra de afeto não dita, um reencontro adiado. Vale a pena usar paliativos para estancar a dor da injustiça ou da decepção em lugar de buscar o reencontro, o diálogo franco, maduro e honesto? Vale a pena falar com quem quiser e perder quem nos ama e a quem amamos?
Só existe hoje. Apenas hoje existe, por que basta estarmos vivos para morrermos. Quero viver cada dia como se fosse o último, preferencialmente ao lado de quem amo de verdade e não acalentando meu ego com carícias fake. Quero que, longa ou curta, minha vida seja real e intensa. Com dores e amores.
Não espere 2011 para ser feliz, para iniciar a dieta, para fazer as pazes com o irmão, para reatar o relacionamento com a mulher que ama, para dar uma chance ao homem da sua vida.
Viva agora! Jogue fora agora todo o lixo, os cadáveres, as más lembranças, as dores mal curadas, as mágoas e os rancores. Aceite agora que você e os outros têm limitações.
Viva agora! Não espere o dia seguinte, esse tempo não existe.
Viva agora os melhores desejos para 2011! Não há garantias! Portanto, viva. Agora!
''Maria, Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta... Uma mulher que merece viver e amar'' como outra qualquer do planeta''(...)
Saiba Mais de Maria
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
Hoje eu vou de... Clarice Lispector
Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!
Clarice LispectorJá segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Carta de Natal
Querida Nanda,
É Natal e sua carta me encheu de alegria e saudade. Lê-la partindo para a realização de um sonho é inspirador. Ei de fazer meus percursos qualquer hora dessas. Saturno passou por mim (passou?) e não foi fácil, confesso sem nenhum constrangimento. Abalou estruturas, mas faz parte. Afinal, querida, todas as estruturas são instáveis.
E você, sábia que é, já percebeu. Viver-vivendo e passar-passando é como se vive. Não é fácil, mas é simples. Quero respirar fundo e viver-vivendo agora, por que o tempo, é de fato um sinalizador. Nós humanos temos nos iludido com ele, vivendo ora no passado, ora no futuro, evitando a todo custo o momento presente. Simplesmente a maior parte de nós não sustenta viver o presente: sempre arrastando as correntes do passado, voltando a ele ao menor sinal de deslocamento no presente ou se projetando no futuro: medos e devaneios.
Sim, querida, não há tempo para desperdiçar. Mas desperdiçar é negar o agora e (pre)ocupar-se com o futuro. Não é tão fácil, eu sei. Atenção é uma palavra chave, um passo atrás do outro, respirando. Aprendi que atenção na respiração é tudo. O caminho mais curto para o agora/presença é respirar. Quando sentir-se invadida pela ansiedade, respire. Simples assim: respire e coloque todo o seu foco na respiração. Basta uns poucos minutos e você volta para o agora.
Nanda, você já é. É todo o seu potencial se realizando, dia após dia. Poema após poema. Mas entendo suas dúvidas e angústias quanto à escrita e nossa missão de escrever, do trabalho árduo. Sinto também.
Ao tempo em que desejo, fujo.
E deito e rolo e escapo
Me debruço sôfrega
Vomito
Cuspo
Choro
E rio e sinto e canto
E escrevo e escrevo e escrevo.
Exausta e plena
Fecho os olhos
Respiro e durmo.
...Mas é Natal! Tempo de renovar afetos e desejos.
Desejo a ti e ao universo muita paz, amig@s, sabores, sons, encantamento, poesia, abraços, saúde, pés no chão e cabeça nas nuvens, peito aberto, consciência, silêncio interior e, parafraseando Carpinejar, a liberdade de um amor para se prender.
Boa viagem e volte sempre!
M.C.
P.S. Quero viver cada dia, a espera de respostas, mas quais são as perguntas afinal?
É Natal e sua carta me encheu de alegria e saudade. Lê-la partindo para a realização de um sonho é inspirador. Ei de fazer meus percursos qualquer hora dessas. Saturno passou por mim (passou?) e não foi fácil, confesso sem nenhum constrangimento. Abalou estruturas, mas faz parte. Afinal, querida, todas as estruturas são instáveis.
E você, sábia que é, já percebeu. Viver-vivendo e passar-passando é como se vive. Não é fácil, mas é simples. Quero respirar fundo e viver-vivendo agora, por que o tempo, é de fato um sinalizador. Nós humanos temos nos iludido com ele, vivendo ora no passado, ora no futuro, evitando a todo custo o momento presente. Simplesmente a maior parte de nós não sustenta viver o presente: sempre arrastando as correntes do passado, voltando a ele ao menor sinal de deslocamento no presente ou se projetando no futuro: medos e devaneios.
Sim, querida, não há tempo para desperdiçar. Mas desperdiçar é negar o agora e (pre)ocupar-se com o futuro. Não é tão fácil, eu sei. Atenção é uma palavra chave, um passo atrás do outro, respirando. Aprendi que atenção na respiração é tudo. O caminho mais curto para o agora/presença é respirar. Quando sentir-se invadida pela ansiedade, respire. Simples assim: respire e coloque todo o seu foco na respiração. Basta uns poucos minutos e você volta para o agora.
Nanda, você já é. É todo o seu potencial se realizando, dia após dia. Poema após poema. Mas entendo suas dúvidas e angústias quanto à escrita e nossa missão de escrever, do trabalho árduo. Sinto também.
Ao tempo em que desejo, fujo.
E deito e rolo e escapo
Me debruço sôfrega
Vomito
Cuspo
Choro
E rio e sinto e canto
E escrevo e escrevo e escrevo.
Exausta e plena
Fecho os olhos
Respiro e durmo.
...Mas é Natal! Tempo de renovar afetos e desejos.
Desejo a ti e ao universo muita paz, amig@s, sabores, sons, encantamento, poesia, abraços, saúde, pés no chão e cabeça nas nuvens, peito aberto, consciência, silêncio interior e, parafraseando Carpinejar, a liberdade de um amor para se prender.
Boa viagem e volte sempre!
M.C.
P.S. Quero viver cada dia, a espera de respostas, mas quais são as perguntas afinal?
Carta de Natal
Querida Nanda,
Sua carta me encheu de alegria e saudade. Lê-la partindo para a realização de um sonho é inspirador. Ei de fazer meus percursos qualquer hora dessas. Saturno passou por mim (passou?) e não foi fácil, confesso sem nenhum constrangimento. Abalou estruturas, mas faz parte. Afinal, querida, todas as estruturas são instáveis.
E você, sábia que é, já percebeu. Viver-vivendo e passar-passando é como se vive. Não é fácil, mas é simples. Quero respirar fundo e viver-vivendo agora, por que o tempo, é de fato um sinalizador. Nós humanos temos nos iludido com ele, vivendo ora no passado, ora no futuro, evitando a todo custo o momento presente. Simplesmente a maior parte de nós não sustenta viver o presente: sempre arrastando as correntes do passado, voltando a ele ao menor sinal de deslocamento no presente ou se projetando no futuro: medos e devaneios.
Sim, querida, não há tempo para desperdiçar. Mas desperdiçar é negar o agora e (pre)ocupar-se com o futuro. Não é tão fácil, eu sei. Atenção é uma palavra chave, um passo atrás do outro, respirando. Aprendi que atenção na respiração é tudo. O caminho mais curto para o agora/presença é respirar. Quando sentir-se invadida pela ansiedade, respire. Simples assim: respire e coloque todo o seu foco na respiração. Basta uns poucos minutos e você volta para o agora.
Nanda, você é. É todo o seu potencial se realizando, dia após dia. Poema após poema. Mas entendo suas dúvidas e angústias quanto à escrita e nossa missão de escrever, do trabalho árduo. Sinto.
Ao tempo em que desejo, fujo.
E deito e rolo e escapo
Me debruço sôfrega
Vomito
Cuspo
Choro
E rio e sinto e canto
E escrevo e escrevo e escrevo.
Exausta e plena
Fecho os olhos
Respiro e durmo.
...Mas é Natal! Tempo de renovar afetos e desejos.
Desejo a ti e ao universo muita paz, amig@s, sabores, sons, encantamento, poesia, abraços, saúde, pés no chão e cabeça nas nuvens, peito aberto, consciência, silêncio interior e, parafraseando Carpinejar, a liberdade de um amor para se prender.
Boa viagem e volte sempre!
M.C.
Sua carta me encheu de alegria e saudade. Lê-la partindo para a realização de um sonho é inspirador. Ei de fazer meus percursos qualquer hora dessas. Saturno passou por mim (passou?) e não foi fácil, confesso sem nenhum constrangimento. Abalou estruturas, mas faz parte. Afinal, querida, todas as estruturas são instáveis.
E você, sábia que é, já percebeu. Viver-vivendo e passar-passando é como se vive. Não é fácil, mas é simples. Quero respirar fundo e viver-vivendo agora, por que o tempo, é de fato um sinalizador. Nós humanos temos nos iludido com ele, vivendo ora no passado, ora no futuro, evitando a todo custo o momento presente. Simplesmente a maior parte de nós não sustenta viver o presente: sempre arrastando as correntes do passado, voltando a ele ao menor sinal de deslocamento no presente ou se projetando no futuro: medos e devaneios.
Sim, querida, não há tempo para desperdiçar. Mas desperdiçar é negar o agora e (pre)ocupar-se com o futuro. Não é tão fácil, eu sei. Atenção é uma palavra chave, um passo atrás do outro, respirando. Aprendi que atenção na respiração é tudo. O caminho mais curto para o agora/presença é respirar. Quando sentir-se invadida pela ansiedade, respire. Simples assim: respire e coloque todo o seu foco na respiração. Basta uns poucos minutos e você volta para o agora.
Nanda, você é. É todo o seu potencial se realizando, dia após dia. Poema após poema. Mas entendo suas dúvidas e angústias quanto à escrita e nossa missão de escrever, do trabalho árduo. Sinto.
Ao tempo em que desejo, fujo.
E deito e rolo e escapo
Me debruço sôfrega
Vomito
Cuspo
Choro
E rio e sinto e canto
E escrevo e escrevo e escrevo.
Exausta e plena
Fecho os olhos
Respiro e durmo.
...Mas é Natal! Tempo de renovar afetos e desejos.
Desejo a ti e ao universo muita paz, amig@s, sabores, sons, encantamento, poesia, abraços, saúde, pés no chão e cabeça nas nuvens, peito aberto, consciência, silêncio interior e, parafraseando Carpinejar, a liberdade de um amor para se prender.
Boa viagem e volte sempre!
M.C.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Carta de Anita para Caio X - O Jardim
Querido Caio,
Desenvolvemos uma cumplicidade tal que não há como deixar de ser Caio Marques. Ele és tu. Nada ou ninguém poderá te tirar essa identidade roubada, que aos poucos foi se pegando em tua pele e amalgamando idéias e sentimentos. Sinto que preciso de tuas cartas para seguir adiante. Não quero olhar para trás, para o velho Caio que criei para mim. Quero o novo Caio, com quem partilho as delícias da última aventura pelo interior, doce de leite e pão de queijo à noite, com gosto de falta grave.
Pois bem, íamos ao campo, eu e Alva - não lhe falei sobre ela? (estás certo de que não falei sobre ela antes?) Bem, comecemos então apresentando-a. Alva é a criatura mais doce que conheci em muito tempo. Sua voz é suave e os olhos verdes grandes são profundos e expressivos. Seus gestos são limpos e leves, e em seu sorriso mora uma sofisticação completamente despretensiosa. Alva é.
Eu a conheci logo no primeiro dia de viagem e a amizade se estabeleceu facilmente entre nós ao concordarmos que precisávamos - antes de tudo - de um sorvete para refrescar a tarde quente e úmida. Ao ser convidada a compartilhar sua companhia no domingo, senti-me profundamente acolhida. Decidimos entre um trago e outro, que iríamos ao campo.
A ruralidade me encanta, sempre me encantou e nos últimos anos tenho sido atraída por ela mais e mais. De várias formas. Já havia compartilhado isso contigo (ou com ele) quando falei sobre a casa no campo que habitara meus sonhos por anos e que encontrei para alugar nas planícies centrais quando lá estive. Ainda assim, muito ainda tenho de aprender sobre o meio rural e suas peculiaridades, sou garota da cidade, nascida e criada em grandes centros urbanos.
Por isso, quando vi minúsculas flores amarelas que coalhavam as margens da estrada fiquei encantada com a vivacidade dourada. Foi quando descobri que tais flores - tão lindas - são chamadas 'mal-me-quer'. Elas são na verdade uma praga que assola terrenos não cultivados. Ao ouvir aquilo desliguei-me do percurso por uma fração de segundos.
Não sei desde quando ou onde nasceu o jardim como metáfora do amor ou dos relacionamentos, mas ela cabia muito bem com o comentário sobre o mal-me-quer. Não pude evitar os pensamentos sobre isso. Senti naquele momento que quando deixamos de cultivar o amor, quando permitimos que ventanias destruam nossas mudas, e logo voltamos a cultivar nosso terreno sem fazer uma profunda e cuidadosa limpeza, corremos o risco - mais que isso, é quase certo - que ervas daninhas ou pragas como o mal-me-quer invadam a área, primeiro sorrateiros, com jeito moleque e colorido de ser, para irem tomando conta de tudo.
E quando nos damos conta, ela está cobrindo toda a área, e o que era o terreno carinhosamente cultivado, torna-se área tomada pela florzinha-amarela-linda-e-ordinária, que sufoca as sementeiras.
Mas a mal-me-quer não é má. Ela é o que é: uma praga, uma erva daninha. Essa é sua natureza e por isso deve ser aceita e respeitada. Ela, como planta oportunista que é, ocupa espaços não cultivados ou cultivados sem o devido cuidado. E a quem compete limpar a terra, arar e semear? Aos jardineiros. Se eles, que são quem são: responsáveis pelo cultivo, não cuidarem da terra, terão seus canteiros tomados pela mal-me-quer.
Seus canteiros serão arrasados. tristes, eles sentirão raiva e culparão o clima, a terra, o tempo, as sementes; sentirão raiva e virarão as costas para o cultivo, achando que cultivar não vale a pena. Querido Caio, não há maior engano. Cultivar vale a pena, mas como tudo nessa vida, só e somente só ser o fizermos completamente presentes e atentos ao canteiro e ao cultivar. Apenas com atenção os jardineiros podem perceber a aproximação do mal-me-quer, da tempestade, da ventania e proteger seu canteiro arrancando pela raiz o mal-me-quer, protegendo o canteiro das intempéries da natureza.
É, meu lindo amigo, cultivar é simples, mas não é fácil. Há que amar seu canteiro para que a sementeira vingue e cresça forte e viçosa. O trabalho é árduo, mas vale a pena, por que não há nada mais lindo e acolhedor que um belo jardim.
Abraço sincero,
A.L.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Quando o Carteiro Chegou...
...Nada como receber carta à moda antiga. Abrir a caixa de correspondência e encontrar um envelope destinado especialmente a você. Felicidade é isso também!
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Pelotas II
Não há como conhecer de fato uma cidade sem andar a pé e enfronhar-se por seus arredores. Pelotas é uma cidade plana, seu traçado é preciso como um tabuleiro de xadrez - ou será de damas? - e suas ruas arborizadas o suficiente para tornarem as caminhadas confortáveis. Andar a pé é ótimo antídoto para as profusas calorias dos doces irresistíveis.
Aos arredores de Pelotas tive acesso por meio da mais nova 'amiga de infância'. Fui gentilmente convidada - povo de Pelotas é muito gentil e acolhedor - a almoçar em casa de mama. A casa, localizada num sítio delicioso, é confortável e transborda generosidade e afeto. Reflexo de seus habitantes, seu Bruno e D. Aura.
A cozinha é aberta para a sala, linda como não havia ainda visto. A comida de D. Aura enche não apenas o estomâgo e os olhos, principalmente aquece o coração. Mas, segundo soube, seu Bruno também é versado em panelas, sendo autor de licores e geléias, feitos com os frutos da própria terra.
Sim, há um belíssimo pomar e uma grande horta, onde pude colher amoras frescas (daquelas bem redondas boas para preparar tortas). Alface, tomates, milho, de tudo se planta ali. Há também galinhas, bezerros e umas tantas ovelhas a berrar.
Há mais, muito mais a ver e a sentir no Sítio Águas Claras. No passeio pelos jardins descobri lugares incríveis. Começamos por um jardim em que um ponei tranquilo pastava. Lá havia espécies vegetais de vários lugares. Havia canela e maple - sim, aquele que é símbolo do Canadá - para a preparação de delicioso xarope a se derramar nas panquecas dos filmes com gosto de infância e gulodice.
Mais adiante, a magia de um labirinto, copiado ipsis literis daquele que se encontra na nave central da catedral de Chartres. Experiência inenarrável, é necessário ir lá e conferir a energia que brota do centro do labirinto. Sons distorcidos em suave eco, mãos que formigam aquecidas mesmo a 12º.
Seguindo pela trilha abaixo, logo se vê um pequeno jardim japonês, com seu restelo ao lado, pronto para auxiliar o visitante a mergulhar no silêncio interior. Seu Bruno conta a história do jardim, ao tempo em que explica toda a simbologia ali contida. Mas vocês acham que fica por aí? Não mesmo.
Ainda há mais, quando pensamos que o passeio já surpreendeu o suficiente, há mais magia. E adiante, um lugar que chamei de 'lugar de las abuelas''. Distribuídos em círculo estão os bancos de pedra que arrodeiam a fogueira, com seu caldeirão de ferro. Imaginei o encontro ''de las brujas'', mulheres pensadoras, sensíveis e cheias de histórias, mulheres ancestrais repletas de sabedoria, compartindo com as mais jovens os segredos do feminino sagrado.
Ao lado, um lago calmo, refletindo a luz do céu e os eucaliptos do jardim dos patriarcas. E o caminho prossegue a perder de vista, ladeado pelas pilhas de lenha separada. Ainda não havia acabado quando a chuva fina chegou. Seguimos em direção ao outro lado da casa, encantei-me com um recanto - meu perdoe seu Bruno, esqueci o nome - em que foram dispostos bancos e um balanço para dois, em que se pode ver o pôr do sol, à frente, marcado em pedras altas, o evento quando do solstício de inverno - à esquerda - e o soslstício de verão - à direita - a inebriar-me.
Sol e chuva. Chuva e sol, e conheci o carvalho plantado por Andréa (minha mais nova amiga de infância), e lembrei inexoravelmente que dentro de mim e de todos nós há semente do fruto do carvalho, pronta a germinar e crescer e tornar-se árvore frondosa e forte. Como anda sua semente? Germinou recentemente?
O sítio Águas Claras é também pousada, pois a casa que é guardada pelo frondoso carvalho (3qtos, cozinha, sala equipados) é hospedagem para aqueles que querem e valorizam o não fazer, o silêncio e os sons, os sabores e os odores do paraíso. Há ainda quem pergunte 'o que há para fazer lá?' Você acredita? Nem eu!
Se quiser fruir o paraíso, dá um toque para Andréa (andreachies@hotmail.com)*.
*Não faço posts patrocinados. A dica é dada dentro do espírito de compartilhar o que de melhor vivencio em minhas andanças por aí. Aproveitem e se forem lá, não deixem de escrever suas impressões do lugar que publico na maior satisfação.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
A Torcida Campeã
Havia, durante todo o ano, uma expectativa de vitória no ar. O Inter e sua torcida aguardavam ansiosos pelo jogo de hoje. Apostaram todas as fichas e sonharam acordados dias e noites esse momento. Viveram projetados no futuro incerto, como se certo fosse.
D'Alessandro, ansioso, não dormira. Visivelmente abalado emocionalmente passou anônimo todo o primeiro tempo. No segundo cometeu erros absurdos para um atleta de seu quilate. O emocional suplantou seu talento e o nocauteou. Guiñazu, líder reconhecido, estava irreconhecível. O time chutou a gol 11 vezes, não acertou nenhuma.
Viveu 2010 aguardando esse dezembro em Abu Dabi e quando o momento chegou, por temor ou por ansiedade, pôs tudo a perder.
Mas a Torcida foi um espetáculo. Cerca de 5mil assistiram ao vivo, enquanto milhares de corações colorados vibravam no RS, no Brasil. Enquanto, mesmo torcedores de outros times, emitiam boas vibrações para o time do Internacional. Numa mescla de ansiedade, nervosismo e força, a tudo acompanhou: intensamente. E gritou e rezou e torceu e chorou.
E apesar dos erros, das imperfeições e fragilidades tão humanas de seu time, estava lá para apoiá-lo. Esteve lá para expressar sua tristeza e decepção. Está lá para, mesmo decepcionada, estender-lhes as mãos. As cidades gaúchas, caladas pela frustração, silenciadas pela dor da derrota, estão cá a condoer-se pelos gols não feitos, pelo título deixado pelo caminho.
O espetáculo da Torcida Campeã é show de amor, que mesmo ferido, doído, sonhos desfeitos, se cala e chora, preparando-se para, no próximo desafio, vestir novamente a camisa, encher-se de orgulho e cantar, e gritar e torcer por seu time do coração, deixando para trás as decepções. Não importam os erros e o mal desempenho de alguns - são antes de tudo humanos - por que o amor pelo time é maior e a tudo supera.
Hoje vou de Frida Khalo...
´Acho que é melhor nos separarmos e eu ir tocar minha música em outro lugar com todos os meus preconceitos burgueses de fidelidade.´´
Frida
Frida Khalo y Diego Rivera``Rivera pintou a história e sofrimento do seu povo. Frida pintou sua própria história e sua própria tristeza. Frida Kahlo e Diego Rivera haviam de ficar juntos para sempre.``
domingo, 12 de dezembro de 2010
Diário de Bordo - Pelotas I
Pelotas é meu destino, agora. Cá estou, a reboque das atividades com projetos culturais. A cidade é mais que a terra do doce ou das charqueadas, muito embora tal cultura seja forte componente da identidade cultural local.
Os prédios históricos, as praças belíssimas, a gente acolhedora - embora alguns digam ''metida a besta'' - são marcas dessa cidade gaúcha tão particular.
Há valores intrinsecamente ligados a mim. Bem perto daqui chegaram meus antepassados açorianos, pela Lagoa dos Patos, nos idos de 1767. As famosas charqueadas foram trazidas a estas paragens por um conterrâneo - Pinto Martins - das terras do Ceará, origem de parte do clã que me trouxe a este mundo.
Logo, as veias que me ligam a este útero riograndense não são frágeis, mas significativas o suficiente para ser cativada por essas paragens sem retorno.
Sinto-me em casa. Os doces de origem portuguesa, tão propagados por aqui, são apenas mais um pista de que esse lugar faz parte de mim, como eu, neófita dessas terras, sou parte dele.
Mas além dos doces, prédios históricos e charqueadas, o que há nessa parte quase desconhecida do Brasil?
Vamos vendo, em etapas, conforme os segredos dessas terras forem sendo a mim revelados. Por hoje, entrou por um porta, saiu pela outra - quem quiser que conte outra - curtam a curiosidade sobre a mais bela cidade ao sul do Rio Grande do Sul.
Os prédios históricos, as praças belíssimas, a gente acolhedora - embora alguns digam ''metida a besta'' - são marcas dessa cidade gaúcha tão particular.
Há valores intrinsecamente ligados a mim. Bem perto daqui chegaram meus antepassados açorianos, pela Lagoa dos Patos, nos idos de 1767. As famosas charqueadas foram trazidas a estas paragens por um conterrâneo - Pinto Martins - das terras do Ceará, origem de parte do clã que me trouxe a este mundo.
Logo, as veias que me ligam a este útero riograndense não são frágeis, mas significativas o suficiente para ser cativada por essas paragens sem retorno.
Sinto-me em casa. Os doces de origem portuguesa, tão propagados por aqui, são apenas mais um pista de que esse lugar faz parte de mim, como eu, neófita dessas terras, sou parte dele.
Mas além dos doces, prédios históricos e charqueadas, o que há nessa parte quase desconhecida do Brasil?
Vamos vendo, em etapas, conforme os segredos dessas terras forem sendo a mim revelados. Por hoje, entrou por um porta, saiu pela outra - quem quiser que conte outra - curtam a curiosidade sobre a mais bela cidade ao sul do Rio Grande do Sul.
sábado, 11 de dezembro de 2010
O Pulso ainda pulsa...
My Art for Sale tirou o fôlego. Eu estava morta e não sabia. Comecou a 4a. edição da feira de arte, na inauguração da nova sede do mundo.ag, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil!
...o pulso ainda pulsa. Pude sentí-lo no ar perfumado e quente já no caminho. Havia um vibração intensa no deslocamento de paisagem urbana e no reencontro com novos amig@s.
...o pulso ainda pulsa, e pulsou ainda mais quando vi ``minha cadeira`` de outono. É essa aí ao lado, posta na lista de desejos-da-vida-inteira.
...o pulso ainda pulsa: intenso, forte, vibrante. Voltou o gosto, o paladar, o sabor. Voltaram os desejos, anseios e sonhos. Pulsou em Porto Alegre, pulsa em mim, irreverente, deslumbrado e forte.
Mundo.ag é magia pura. Mergulhei num mar amarelo mel, mergulhei naquelas janelas e senti perder-me no inolvidável mundo novo.
Os artistas ali reunidos fazem parte da nova cena contemporânea gaúcha e encantam até céticas almas vindas do planalto central do Brasil.
O My Art For Sale fica até 23 de dezembro, a visita é gratuita, no entanto deve-se fazer agendamento prévio por correio eletrônico contato@mundo.ag ou por telefone. Se passar por POA, não deixe de ir. Imperdível.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Hoje Vou de ... Carpinejar
''Quando se quebra a palavra não existe modo de recuperar o caráter. Igual a cavalo: depois de uma fratura, não corre mais. Nem adianta alegar que “aconteceu” ou que não teve como controlar (desculpa ainda mais calhorda, ao transferir a culpa e se isentar do ato).''
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Encontro de Amigas - Organização
Certa vez disse num texto que 'amores vêm e vão, amig@s são para sempre'. Vári@s amig@s vibraram, ainda mais por que foi publicado num dia dos namorados em que vári@s estavam sozinh@s. Mas os amores não precisam ir para cultivarmos e celebrarmos as amizades. Todo dia é dia de sinalizar para @s amig@s o quanto são importantes. Vamos celebrar! Organizar encontro de amigas é o mote de hoje.
No novo apartamento, esse bem pertinho do Amor, celebrei pouco com amig@s. Seja por que Amor é ''bicho do mato'', seja por que a felicidade de estar com ele tenha me afastado da órbita por um tempo. Afastar-se da órbita, não recomendo. De qualquer modo, convidei amigas para celebrar amizade nesta quarta-feira, 08/12.
Sessão de filme ''menina'', com direito a espumante, acepipes preparados com afeto pela anfitriã que vos escreve, bate-papo sobre assuntos diversos-importantes-fundamentais-na-vida-de-moças-indenpendentes-como-nós e post com fotinhos no dia seguinte. Detalhe: sem detalhes!
Para organizar um encontro de amigas, primeiro passo, convidá-las com pelo menos 3 ou 4 dias de antecedência. Moças-independentes têm agendas recheadas de reuniões, eventos, compromissos. E...
No caso desta quarta, teremos petiscos ''vegetables total'', que no próximo post de culinária publicarei com passo a passo. Contenham-se, acho que vão amar! São receitinhas novas - algumas do Chuck! Não deixem de cobrar a publicação deste post, ando muito emotiva, publicando só por demanda do coração.
No mais: portas abertas - da casa, do coração e da cabeça! Porque, afinal
TODA MULHER TEM DIREITO A CELEBRAR... INDEPENDENTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS
No novo apartamento, esse bem pertinho do Amor, celebrei pouco com amig@s. Seja por que Amor é ''bicho do mato'', seja por que a felicidade de estar com ele tenha me afastado da órbita por um tempo. Afastar-se da órbita, não recomendo. De qualquer modo, convidei amigas para celebrar amizade nesta quarta-feira, 08/12.
Sessão de filme ''menina'', com direito a espumante, acepipes preparados com afeto pela anfitriã que vos escreve, bate-papo sobre assuntos diversos-importantes-fundamentais-na-vida-de-moças-indenpendentes-como-nós e post com fotinhos no dia seguinte. Detalhe: sem detalhes!
Para organizar um encontro de amigas, primeiro passo, convidá-las com pelo menos 3 ou 4 dias de antecedência. Moças-independentes têm agendas recheadas de reuniões, eventos, compromissos. E...
- Peça às amigas que tragam as bebidinhas, preferencialmente no caso em questão, espumante!
- Reserve o filme ''menina'' na locadora;
- Pense na decoração temática (pique nique, boteco, glamour-girl - hífens decadentes - bah!);
- Providencie, já no dia do convite, os elementos de decoração.
- Lembre-se de chocolates - encontro de meninas tem de ter chocolates - e, claro;
- Reserve as receitas de acepipes temáticos.
No caso desta quarta, teremos petiscos ''vegetables total'', que no próximo post de culinária publicarei com passo a passo. Contenham-se, acho que vão amar! São receitinhas novas - algumas do Chuck! Não deixem de cobrar a publicação deste post, ando muito emotiva, publicando só por demanda do coração.
No mais: portas abertas - da casa, do coração e da cabeça! Porque, afinal
TODA MULHER TEM DIREITO A CELEBRAR... INDEPENDENTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Os Patos
Hoje li um texto que me colocou macacos no sótão. Decidi compartilhar com vocês por que mudou minha vida lê-lo. Tão simples, tão óbvio e eu não via. Vamos lá, então...
Você já parou para observar os patos na lagoa? Não, não é pegadinha. Logo após um confronto, intenso e rápido, separam-se, afastam-se em direções opostas. Daí, eles liberam toda a energia que se acumulou com o conflito, batendo vigorosamente as asas.
Assim, liberados da energia acumulada na luta, nadam em paz, como se nada tivesse acontecido.
Agora, pense um pouco, se o pato tivesse a mente que temos, ele manteria o confronto vivo no pensamento. Ele recriaria o ocorrido milhares de vezes em sua cabeça, formaria infindáveis diálogos internos e perderia horas e horas, dias e dias revivendo a dor e o sofrimento do confronto. A mente vai recriando e recriando a história, eternizando o conflito.
Agora, e se fôssemos como os patos? Se conseguissêmos calar essa voz interna que fica martelando na cabeça, repetindo e repetindo a história, apontando culpados, recontando e criando novos e tenebrosos detalhes? A voz insiste e cria novos diálogos fictícios, se disséssemos isso, se respondesse aquilo. Será que conseguimos?
Podemos calar essa voz, mas para isso precisamos ter consciência de que esta voz não é o que somos, é apenas o ego vociferando para manter o estado de dor e de indignação, enquanto nos distanciamos de nós e de nossos desejos reais.
Eu quero ser como os patos! E você?
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
domingo, 28 de novembro de 2010
A Menina e a Concha
Querida R.,
Sinto saudades de algo indizível que tive e perdi. Sinto saudades do afeto, sinto saudades de ti.
Sinto-me feliz por lê-la realizada e feliz com as perspectivas de voltar a terra natal. Sua carta foi um afago necessário.
Por aqui a vida segue seu curso, com obstáculos transpostos a cada instante pelo frescor das águas passageiras. Prefiro assim acreditar, por isso me chamas sonhadora.
Dia desses caminhava pela praia fim de tarde, predileta hora do dia, quando avistei uma Menina. Ela se encantara com uma grande Concha, que encalhara na areia. Olhava-a fascinada.
Sentei-me para observar a cena, enquanto a brisa passava descompromissada pelos cabelos - meus e da menina - sem rumo certo.
A curiosidade fluía na ponta dos dedos da criança, enquanto seus olhinhos brilhantes, sorrateiros procuravam a voz da vigilância e a concha reluzia ante os raios de sol que teimavam em permanecer aquela hora.
Vendo-se livre e sentindo-se fascinada, estendeu a mãozinha afoita em direção à concha, que lhe retribuiu o afago, abrindo uma breve fenda macia em sua casca rija. Imediatamente, não apenas sorria a eMenina com os olhos e mãos, como com todo o rosto infantil. Iluminara-se e pulava e dançava rodopiando na areia a conquista.
Investiu mais uma vez em direção à Concha, que lhe sorriu um sorriso de concha, macio e desajeitado, mais amplo e afetuoso que antes. A garotinha exultava e queria mais e mais. Aprofundavam - a Menina e a Concha - o afeto e a confiança.
A Concha, no entanto, por sua própria natureza, tinha limites. Não era possível abrir-se mais, por mais que tentasse. Mas a criança, por sua própria condição, não compreendeu. E as crianças podem ser cruéias às vezes: queimam rabo de gato, colocam sal em lesmas, matam formigas.
A Menina, como criança que era, não entendeu os limites da Concha e quis abrir-lhe ainda mais, quis morar dentro dela. As mãozinhas nervosas, então, deixaram por um instante a delicadeza de que necessita a Concha. A garota insiste, tenta, quer abrí-la a todo custo. Busca colher, pazinha, faca, tira da sacola mágica um machado, um serrote, usa todas as ferramentas disponíveis até que encontra bem no fundo do saco algo que lhe poderia ajudar a abrir a Concha.
Saca, rápida, o fórceps com que viola a Concha, cruel como apenas as crianças feridas podem ser, revela toda a fragilidade da Concha. Esta, constrangida por ver-se assim exposta, (en)cerra-se em sua vergonha e dor para não mais se abrir.
A Menina inconsolável grita e esperneia, faz birra, sentindo-se abandonada, até que exausta dá-se conta da dor que causara à Concha. Senta-se na areia desolada, balança seu corpinho para frente e para trás em busca de consolo, enquanto de longe tudo registro. Percebo seu olhar distante, e lágrimas que teimam em lavar o rostinho triste: Perdera a Concha de seus sonhos infantis.
O sol já se deitava quando me perguntei: 'teria eu sido uma criança obstinada?' Naquele momento, querida amiga, uma nuvem encobre o pouco de sol que ainda restava, apagando o meu dia antes da hora.
Sua amiga sempre,
Anita Lopes
Sinto saudades de algo indizível que tive e perdi. Sinto saudades do afeto, sinto saudades de ti.
Sinto-me feliz por lê-la realizada e feliz com as perspectivas de voltar a terra natal. Sua carta foi um afago necessário.
Por aqui a vida segue seu curso, com obstáculos transpostos a cada instante pelo frescor das águas passageiras. Prefiro assim acreditar, por isso me chamas sonhadora.
Dia desses caminhava pela praia fim de tarde, predileta hora do dia, quando avistei uma Menina. Ela se encantara com uma grande Concha, que encalhara na areia. Olhava-a fascinada.
Sentei-me para observar a cena, enquanto a brisa passava descompromissada pelos cabelos - meus e da menina - sem rumo certo.
A curiosidade fluía na ponta dos dedos da criança, enquanto seus olhinhos brilhantes, sorrateiros procuravam a voz da vigilância e a concha reluzia ante os raios de sol que teimavam em permanecer aquela hora.
Vendo-se livre e sentindo-se fascinada, estendeu a mãozinha afoita em direção à concha, que lhe retribuiu o afago, abrindo uma breve fenda macia em sua casca rija. Imediatamente, não apenas sorria a eMenina com os olhos e mãos, como com todo o rosto infantil. Iluminara-se e pulava e dançava rodopiando na areia a conquista.
Investiu mais uma vez em direção à Concha, que lhe sorriu um sorriso de concha, macio e desajeitado, mais amplo e afetuoso que antes. A garotinha exultava e queria mais e mais. Aprofundavam - a Menina e a Concha - o afeto e a confiança.
A Concha, no entanto, por sua própria natureza, tinha limites. Não era possível abrir-se mais, por mais que tentasse. Mas a criança, por sua própria condição, não compreendeu. E as crianças podem ser cruéias às vezes: queimam rabo de gato, colocam sal em lesmas, matam formigas.
A Menina, como criança que era, não entendeu os limites da Concha e quis abrir-lhe ainda mais, quis morar dentro dela. As mãozinhas nervosas, então, deixaram por um instante a delicadeza de que necessita a Concha. A garota insiste, tenta, quer abrí-la a todo custo. Busca colher, pazinha, faca, tira da sacola mágica um machado, um serrote, usa todas as ferramentas disponíveis até que encontra bem no fundo do saco algo que lhe poderia ajudar a abrir a Concha.
Saca, rápida, o fórceps com que viola a Concha, cruel como apenas as crianças feridas podem ser, revela toda a fragilidade da Concha. Esta, constrangida por ver-se assim exposta, (en)cerra-se em sua vergonha e dor para não mais se abrir.
A Menina inconsolável grita e esperneia, faz birra, sentindo-se abandonada, até que exausta dá-se conta da dor que causara à Concha. Senta-se na areia desolada, balança seu corpinho para frente e para trás em busca de consolo, enquanto de longe tudo registro. Percebo seu olhar distante, e lágrimas que teimam em lavar o rostinho triste: Perdera a Concha de seus sonhos infantis.
O sol já se deitava quando me perguntei: 'teria eu sido uma criança obstinada?' Naquele momento, querida amiga, uma nuvem encobre o pouco de sol que ainda restava, apagando o meu dia antes da hora.
Sua amiga sempre,
Anita Lopes
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Caio ou Seja Lá Quem Você For
Caio (ainda te chamarei assim?),
Emudeci, enquanto meu corpo inteiro tremia com o sangue gelado correndo lento nas veias, ao ler sua traição. Ainda agora sinto-me lenta e a língua morta, repousa dentro da boca seca. Quem é esse homem com quem me correspondi todo esse tempo, afinal? Quem é esse com quem compartilhei os meus melhores sentimentos? Quem sou eu que me permiti viver tal mentira?
Você diz que por vezes me sentiu testá-lo. Eu não o testei, por que mesmo depois da catatonia que me causou a confissão anterior, eu queria acreditar em você. Por isso nada comentei. Sua tentativa de me livrar do homem que não me merece, foi frustrada, e você sabe. Por que eu queria acreditar que fora amada. Meus olhos brilhavam só em pensar nele. Eu queria inventar um ego frágil para justificar suas (dele?) escapadas sorrateiras. Tentava dizer a mim mesma 'Caio se sente só, não dá conta de estar só, por isso seduz'. Caio precisa ser amado, admirado, para aninhar a criança ferida que mora em seu peito, e preencher seu vazio'.
Justificava, enquanto a dor dilacerava meu peito. Tentava ser o lado forte da relação, segurar-lhe a mão, mesmo à distância. Depois daquela traição - a outra - quando despido diante de mim Caio afirmou o reconhecimento de sua fragilidade e a decisão de procurar ajuda, meu coração - já espancado - se encheu de esperança. Por isso, não comentei a confissão que fizestes em nome dele. Àquela altura já não me importava, ele admitira que precisava de ajuda. Ele me pedira para segurar sua mão e caminhar a seu lado - mesmo à distância - para modificar aquelas condutas que vinha repetindo e que causavam tanta dor e desacerto na vida dele. E eu acreditei, e me dispus, e me despi da dor para estar com ele.
Valeu a tentativa, Caio (ou seja lá quem você for). Você, que tudo acompanhou, percebeu mais que eu o engano em que me envolvera. O amor cegava minhas escolhas. A entrega a Caio me afastou de mim inexoravelmente, fui diminuindo e diminuindo até tornar-me esse trapinho, que ora estou. Passará, Caio? Sim, passará, ainda que tenha vaga lembrança de mim, sei que encolhida num cantinho do banheiro, atrás da porta, está - cansada de apanhar - uma menina, uma mulher que pode ser - e foi - uma companheira como poucas.
Você diz que não me traiu de fato, ao tempo em que afirma a traição. Você mentiu, enganou, foi outro. Sinto-me traída, embora você (?) não sinta que traiu. Quando diz em sua derradeira carta que não revelou por que não era o momento de eu saber a verdade, sinto raiva. Não há momento certo para a honestidade numa relação, qualquer que seja, Caio(?).
Reconheço seu esforço amigo em desmitificar aquele Caio que me fazia brilhar os olhos. Torná-lo mais real que o rei, mas ainda assim não me afastou da fantasia que criei para ele: o homem perfeito para mim. Agradeço.
Entre eu e você nunca houve de fato o tal pacto mencionado em sua mensagem. Afinal, quem é você nessa história, se não um homem que tomou o lugar dele nas cartas para me fazer ouvida. Não posso me queixar de não ter sido ouvida, lida, correspondida por você. Então, me pergunto: 'Quem é o verdadeiro Caio Marques? Ele ou você?
Ele não é Caio Marques, abandonou a identidade que criamos - eu e ele - para ser quem é. Um homem grande com menino ferido dentro do peito, que não quer ver o guri por medo da dor. E quanto mais esconde o menino, mais a ferida infecciona, espalhando purulência e dor. A dor que ora trago comigo.
Mas se quer saber, te prefiro Caio Marques, embora chamar esse nome me remeta a tristeza, mais que alegria por ora. Foi você que me fez companhia, afinal, todos esses anos em que me relacionei com ele - me relacionei com ele? - me leu e segurou minha mão, mesmo à distância. Seja Caio Marques, então, se é seu desejo sê-lo, mas me perdoe um pouco a cada dia, por expurgar a dor que ainda sinto pela perda de todos os castelos de areia construídos com aquele que chamei Caio Marques.
Não te riscarei. Sigamos traçando nossos mapas por cartas. Sigamos, sigamos, a vida segue.
Sua sempre,
Anita Lopes
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Alberto Tibaji: Querida Anita
Alberto Tibaji: Querida Anita: "Confesso, Anita.Sua última carta me desarrumou. Algo me dizia que você desconfiava da minha traição. Confesso.Tenho roubado incessantemente ..."
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
Assim é...
às vezes, por mais que se queira, não é possível esquecer a sensação de dolorosa surpresa que uma despretenciosa leviandade nos causa. É a dor de ser traída {em seu sentido mais amplo[intimidade (o que não necessariamente - ou sumariamente - envolve conjunção carnal) e cumplicidade], em seu sentido mais cruel}.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Hoje vou de... Nanda Barreto
tenuíssimos
eu e tu, agora,
somos o enquanto.
estamos tanto
dentro
quanto
fora.
tu e eu, agora,
somos dúvidas.
cálidas.
tênues.
indivisíveis
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Fórceps
Sente o tórax ser aberto a fórceps
Ouve o estalar das costelas
exposta em praça pública,
Dor, assoreando o espírito.
Desce devagar as escadas do inferno
Sente o couro arder
Cai a pele
Nua, em carne viva
Queima na fogueira
Bruxa solta
grito encarcerado na garganta rouca.
Sente(se) exausta: último degrau
Um Dragão a espreitar o tremor
Olhos distantes miram a paisagem árida
Debruça [se]
Agarra [se] aos joelhos
Finalmente...
Uma lágrima rola
Chora
(In Caderno de Costuras, Maria Cláudia Cabral)
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Nostalgia
Nostalgia é o sentimento que chega nos fins de tarde, imediatamente após o ocaso. Naqueles cinco segundos dos últimos raios de sol. É intraduzível.
Com ela - a nostalgia - vem um profundo suspiro e um olhar viajante que parte sem rumo.
Um dia alguém a definiu magistralmente como "lembrança do que foi; esperança no que há de ser"
Debruço-me sobre as lembranças do que não vivi e sinto nostalgia.
Respeite a autoria. Se for citar, dê crédito a autora.
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Blog da Maria: Festa de Aniversário é Sagrada
Blog da Maria: Festa de Aniversário é Sagrada: "Há dois anos atrás fui convidada para a festa de aniversário de uma amiga querida. Ela quis arrasar, contratou um salão enorme e fez uma fes..."
Festa de Aniversário é Sagrada
Há dois anos atrás fui convidada para a festa de aniversário de uma amiga querida. Ela quis arrasar, contratou um salão enorme e fez uma festa daquelas 'super', para muita gente. Naquela noite saí do trabalho muito tarde, depois de uma semana exaustiva, mas ainda assim pensando no que iria usar para ir ao evento. Não consegui. O cansaço foi maior e adormeci. No dia seguinte, ouvindo as estórias deliciosas sobre a festa, pensei: 'Que bom que foi tudo isso, assim ela não deve ter sentido minha falta'. Ledo engano, ficou magoada: não fui ao aniversário de 50 anos dela.
Aprendi com minha amiga Roberta que festa de aniversário é sagrada. E é, cada dia estou mais convencida. Não importa se o aniversariante convidou 6 ou 7 amigos/as intímos/as ou se é uma balada para mais de 50 pessoas. Se te convidou, acredite, sua presença é importante.
Para quem organiza uma festa de aniversário, cada convidado é significante. E até que os primeiros cheguem, há sempre o frio na barriga, o medo escondido no fundo do baú de que apareça ninguém. Pode parecer projeção minha - e há grande chance de ser - mas conheço 'n' pessoas que já me confessaram esse medo nem tão secreto.
Por essa razão, hoje em dia, só furo festa de aniversário por motivos muito sérios. Sinto-me honrada – literalmente - por ser convidada a comemorar um aniversário. Obrigada Marcelo, obrigada Thaís por me incluírem nesse seleto grupo de convidados.
Respeite a autoria. Se for citar, dê créditos.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Diário de Bordo - São Paulo
Ir a São Paulo é louco e mágico. A Paulicéia é desvairada e o trânsito continua cada vez mais caótico. Tempo é dinheiro. E as pessoas estão sempre no corre-corre. Mas, vamos combinar, em São Paulo há muitos lugares bons para comer! Dá para estar lá 365 dias e não repetir um endereço, ficando 100% satisfeito em todos.
Ontem, de passagem pela cidade, aproveitei o intervalo entre a última reunião e o check-in em Congonhas para experimentar os famosíssimos pastéis de feijoada. Ué, nunca ouviu falar de pastéis de feijoada! Bem, eu tampouco. Como sou louca por uma novidade, não hesitei um só instante.
Não satisfeita e encantada com o cardápio delicioso, pedi linguiça tipo calabreza com provolone e orégano(hummm), acompanhada de pimentas biquinho - aquela linda que não arde - aproveitei cada pedacinho do acepipe que chegou à mesa cantando na frigideira de ferro.
E como ''miséria pouca é bobagem'', brindei com torresminhos super frescos e crocantes.
Claro que acompanhamos com uma geladíssima. Horas de imenso prazer entre amigas, rindo e contando estórias só nossas.
O pastel é feito no Barbirô, que fica ali na Vergueiro, 1889.
Respeite a autoria. Se for citar, dê crédito.
Ontem, de passagem pela cidade, aproveitei o intervalo entre a última reunião e o check-in em Congonhas para experimentar os famosíssimos pastéis de feijoada. Ué, nunca ouviu falar de pastéis de feijoada! Bem, eu tampouco. Como sou louca por uma novidade, não hesitei um só instante.
Não satisfeita e encantada com o cardápio delicioso, pedi linguiça tipo calabreza com provolone e orégano(hummm), acompanhada de pimentas biquinho - aquela linda que não arde - aproveitei cada pedacinho do acepipe que chegou à mesa cantando na frigideira de ferro.
Claro que acompanhamos com uma geladíssima. Horas de imenso prazer entre amigas, rindo e contando estórias só nossas.
O pastel é feito no Barbirô, que fica ali na Vergueiro, 1889.
Respeite a autoria. Se for citar, dê crédito.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
O Poderoso Chefão: Receita Inesquecível num Clássico do Cinema
''Um homem que não se dedica a familia
nunca será um homem de verdade''.
( O Poderoso Chefão, parte I, 1972)
Uma dessas cenas marcantes para mim, que amo receitas e cinema, é aquela em que um dos 'funcionários' de Don Corleone está preparando um espaguete e conta ao Michael, filho dileto do don, os segredos da receita tradicional italiana.
''primeiro refoga o alho e a cebola, junta as almôndegas, tomates frescos, e, claro, um pouco de polpa de tomates, tempera com sal, basílico e...'' vem o segredo revelado pelo cinema: junta uma colher de açúcar.
Infelizmente o homem precisa sair urgente para fazer um serviço para o capo, nos deixando apenas o aroma e o sabor do espaguete a preencher a imaginação.
Na minha experiência sugiro que o alho seja aduzido apenas depois que as almôndegas já estejam quase douradas, antes de juntar os tomates frescos, a polpa e o manjericão. Isto porque, se juntamos antes o alho certamente irá ficar dourado demais, deixando um acento amargo marcante no molho.
A massa, claro, deve estar ao dente. Esse ponto garante a manutenção da alma da pasta: firme, mas não crua e deve ser acompanhado de parmesão ralado na hora.
A receita foi testada, e aprovada por Bella e Bito - os filhotes de plantão - num sábado à noite de família reunida.
Para quem vai experimentar: Bom apetite!
Se você também tem uma receita bacana que viu em filmes, me conte. Vamos trocar figurinhas e publicar aqui as melhores receitas do cinema.
Respeite dos direitos de autoria. Se for citar, dê créditos à autora.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Diário de Bordo - Lisboa II
A viagem a Lisboa foi uma pausa na vida. Embora tenha ido a trabalho para A Coruña (é assim mesmo que se escreve em galego) e tenha tido uma reunião em Lisboa, todas as outras horas de minha estada em Portugal foram dedicadas a aproveitar os dias.
Dias quentes aqueles, jamais tinha ido à Europa no verão. Só de lembrar meus olhos se enchem daquele brilho distinto, e deslizam lânguidos para o alto, buscando dar corpo às lembranças dos dias idos.
Sentia-me feliz e abençoada só de estar ali, sentindo o tempo passar por mim preguiçoso, enquanto eu, feito criança, saltitava aqui, ali e acolá.
Visitar o Museu do Fado foi uma experiência incrível. Confesso que entrei um pouco pelo tema e muito pelo calor que fazia fora. Sabia nada sobre o fado, exceto que é música tradicional lusa, que Chico Buarque compusera um e que Amália Rodrigues é uma de suas deusas. É claro que conheço Madredeus, que gosto sem saber se é fado ou não, mas me dêem licença poética para exagerar sobre minha ignorância a cerca do tema, afinal isso me garante algo de mágico à narrativa.
A ordem dada ao Museu não chega a ser de todo interessante, no entanto, o quanto aprendi cercada de fado por todos os lados, o quanto senti cada nota percorrer-me a pele, os olhos e os ouvidos num carinho envolvente e melancólico, como um fim de tarde com brisa, sem ser triste.
Descobri que há algo de contestação no fado, que nasceu nos portos de Lisboa. Algo que li no Museu e que, segundo alguns, por imprecisão histórica não está expresso, mas implícito aqui e acolá, como se os portugueses não se orgulhassem dessa origem popular e malandra do fado. Confesso aos irmãos do outro lado do oceano, que foi justamente essas origens 'na resistência' que mais me encantaram.
A cada linha que lia sobre a história do fado em seu museu, lembrava-me da história da capoeira no Brasil, razão de rótulos e comentários que ligavam sua prática à vadiagem e à vida desregrada das periferias, dos portos em nosso país.
Bebendo um pouco mais na fonte, não pude deixar de relacioná-lo ao movimento hip hop e via, no fado, um irmão bem mais velho do rap, por suas origens e sua história ligada ao povo, às ruas e aos primórdios da globalização construída por Portugal no período das grandes navegações.
Bebendo um pouco mais na fonte, não pude deixar de relacioná-lo ao movimento hip hop e via, no fado, um irmão bem mais velho do rap, por suas origens e sua história ligada ao povo, às ruas e aos primórdios da globalização construída por Portugal no período das grandes navegações.
Há, certamente no fado, um lirismo melancólico da gente do lado de lá do oceano, que é fascinante. As horas no Museu passaram sem que eu pudesse sorver tudo o que me poderia proporcionar. Saí triste por não poder ver tudo, mas com uma felicidade intimista, que creio, só o fado pode propiciar.
foto:Maria Cláudia Cabral |
Em frente ao Museu está o Largo do Chafariz de Dentro, em que charmosas tascas servem a esplêndida comida portuguesa - com certeza! Lá, experimentei Ameijoas à Bulhão Pato, iguaria tradicional que enlouquece os sentidos. Estando de frente para o Largo, o primeiro restaurante a sua esquerda, serve as melhores ameijoas que provei em Lisboa, combinadas com super simpático atendimento de Cecília e uma geladíssima completaram mais uma tarde incrível na capital lusa. Recomendo fortemente a experiência (da capital lusa, do museu do fado e da gelada com ameijoas no Largo).
Se você, como eu, quis saber mais, sugiro abaixo alguns links que tratam sobre o fado:
http://www.edusurfa.pt/Area.asp?seccao=2&area=6&artigoid=7907
http://pt.shvoong.com/books/1735220-hist%C3%B3ria-fado/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fado
http://youtube.com/fado
Respeite os direitos de autoria. Se for citar, dê crédito a autora.
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