quinta-feira, 28 de abril de 2011

A Visita


A notícia de que virá me deixou desconcertada. Sinto um misto de alegria por enfim encontrá-lo e ansiedade. Talvez, por que não dizer, receio. Por tanto tempo nos correspondemos, eu achando que tu eras alguém que não eras. Depois veio a confissão de que usurpara um lugar que não era teu - ou era e não sabia? - aquela confissão foi um choque para mim. 

De repente o homem em quem depositei confiança e afeto não existia. Em seu lugar um homem dissimulado e falso, afeto a mentiras e enganos, com um plano sórdido o substituíra. Está bem, me dissestes por ocasião da confissão que tudo o quanto fizestes foi para me dar respostas. E eu as procurava. Como procurei respostas para os silêncios, as ausências, as histórias mal contadas! E eu as encontrara, finalmente. 

Como lidar com isso? Quis ficar, quis partir.  A história que compartilhamos enquanto ainda usavas essa máscara de Caio Marques, as palavras e a presença ao longo de todos esses anos que me correspondia pensando que eras um [e eras outro], me fizeram decidir ficar e seguir com as cartas. Confesso não tem sido fácil. Eu procuro ser leve, contar histórias poéticas, busco esconder a mágoa e a raiva que sinto por ter sido enganada todo esse tempo. Não, Caio, não é simples.

Não sei, sinceramente, se vale a pena. Não sei como vou te olhar nos olhos, sabendo-os cínicos. Esses teus olhos claros de menino, transformaram-se em olhos de traição. Tento conter palavras ríspidas, tento evitar denunciá-lo. Foram vários os delitos: violação de correspondência, falsidade ideológica... Meu desejo mais instintivo é arrancar-lhe a máscara em praça pública. E ver tua tão cuidada reputação descer o ralo.

E penso... vale a pena? Descer a esse nível, gastar meu tempo com tão mesquinha atitude. Não estaria me equiparando a ti em mesquinhez e falta de caráter? Ao mesmo tempo sinto-me enredada nessa teia delirante de mentiras. Tento me afastar, não me permites. Não me permito. É como se esperasse que no próximo segundo tudo fosse mudar. Tu pudesses mudar. 

Assim que te recebo em minha casa, com o sangue gelado correndo nas veias. Esperando a reação que terei ao olhar teu olhar. Sinto medo, nunca se sabe o que uma mulher traída é capaz de fazer, mas a resposta é sim. Venha, serás bem recebido e quem sabe com olhos nos olhos as coisas se acertem.

Até lá,

Anita Lopes




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