domingo, 10 de abril de 2011

A Casa da Felicidade

Querido Caio, 

Sabes que permaneço aqui. Tenho essa estranha dificuldade de desistir. Sigo escrevendo e escrevendo, não importa se há ou não resposta. Decidi que assim será, até que decida o contrário. Parece óbvio? E é, mas sou assim, afinal. Algo óbvia, algo surpreendente vez ou outra. Não me conheces? Ontem tive um sonho, quis mesmo compartilhar contigo. 



Um estranho sonho. Não era bom, nem mau. Apenas era o que era. Chegava a um lugar com portas enormes. Não havia placa ou identificação, nenhum cartão ou papel, nem aviso ou sinalização, mas eu sabia - coisas que sabemos por que sabemos - que ali era a casa da felicidade. 

As portas eram enormes, logo fui avisada que estavam fechadas por prazo indeterminado. Uma sombra cobriu meu olhar, tornando mais castanho do que é. Sorri levando os olhos à terra dos sonhos, dos desejos ainda não realizados e quase me virava para partir quando o porteiro me chamou num canto e mostrou um lugar secreto por onde entrar. Não sem me prevenir que era uma passagem secreta e que o segredo não poderia ser revelado a pessoa alguma. Menos ainda que havia sido ele a me mostrar o caminho. Sensação de dejá vu. Eu o conhecia, estou certa disso. Era-me tão familiar aquele olhar, aquelas mãos e seu andar claudicante...

Temerosa, não gosto de segredos - sabes disso - segui-o até a entrada. Parecia simples e reta, embora escondida. Caminhei confiante em direção ao centro da felicidade, tudo cheirava tão familiar. Os sons tomavam conta dos meus sentidos e percorriam minha pele - cada milímetro dela - e produziam um êxtase que há muito não sentia. Algo conhecido e distante. 

Por instantes fechei os olhos e me entreguei àquele universo de sensações, mergulhei nos sons e nas cores. Fiquei completamente embriagada pelos sabores, foi como ser Proust e morder uma madeleine...Ou como ser eu mesma e dar uma boa lambida num sorvete de açaí, ficar com a língua roxa, a boca roxa, até os dentes...  e feliz.

De repente: Parede! Sim, Caio, onde era mar de sensações surgiu uma parede. Ouvia uma voz que dissera:

Não pode!
Não fale!
Não prove!
Não pergunte!
Não expresse!
Não respire!
Não!

Sussurrara: apenas sinta, sinta agora. Fechei os olhos devagar, mas o eco das palavras ainda enchia o ambiente. Quem se importa, pensei... apenas sinta...

Acordei inexplicavelmente feliz, previsivelmente frustrada e quase não me reconheço. Exceto por que quis compartilhar contigo, não tenho ganas de remexer o assunto. Que as sensações e sentimentos e todas paredes que se erguiam, uma após a outra, a cada não que escutara, fiquem ali, no mundo dos sonhos estranhos, na ilusória casa da felicidade. 

Tanto tempo. Sei que estás muito ocupado com as novas atribuições. Sei que te preocupas com os desafios e obstáculos que tens encontrado. Não te apoquentes. Siga, siga seus caminhos, realize suas aspirações, materialize vitórias e, se quiser, me escreva. 

Sua,

A.L.

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