sexta-feira, 16 de abril de 2010

XII Carta para Caio

Caio,

Sua última carta me fez refletir longamente. Quem deixou quem afinal? Essa é uma pergunta que não havia me ocorrido. Talvez não nos tenhamos deixado, mas sim deixado a vida nos levar para onde ela queria que fossemos. Talvez tenhamos permitido tal estado de coisas para não termos de decidir sobre nós. Era mais fácil para ambos deixar que tudo corresse como se destino fosse.

É possível que se fizer uma auto-análise mais cuidadosa possa chegar à conclusão que minha partida tenha sido uma espécie de revanche, mas sendo assim, terei me sentido abandonada por você quando de sua ida para o norte?

É possível, mas, de certo modo, injusto de minha parte, pois nunca fizéramos planos. Você nunca me prometeu nada. Na verdade vínhamos vivendo a paisagem, deixando que a trama fosse mais importante que o desenlace. Jamais faláramos sobre o que queríamos afinal de nós dois, ou mesmo o que sentíamos realmente.

Era bom. Simples assim. Estar com você era muito bom. Compartilhar momentos, idéias, boas refeições era maravilhoso. Poder expor todas as angústias e ansiedades que a paixão pelo trabalho me impunha depois de longas e desgastantes discussões era especialmente acolhedor.

Mas nossa trama não tinha teia que a sustentasse, a ausência de planos comuns nos fez tomar rumos muito diferentes. Hoje, morando tão longe de ti, percebo que talvez não houvesse mesmo outro caminho para nós. E tenha de me confortar com as cartas que trocamos vez ou outra.

Talvez – é quase certo – você não se adaptasse a esta cidade. Ela não é para você, embora muito aqui me lembre nós dois e a vida que não vivemos. Ás vezes sinto saudades de tudo o que fomos um para o outro e de tudo o que poderíamos ter sido, e não fomos. Sinto falta das viagens que não fizemos, das idéias que não compartilhamos, dos abraços que não demos. Sinto falta, dos sonhos não sonhados e dos planos não realizados. Sinto falta do que poderíamos ter sido. Não fomos.

Walt Whitman tem um poema em que fala sobre a estrada que não tomamos. Sim, estive pensando sobre a estrada que não tomamos, mas isso de nada nos adianta agora. Nada pode nos ensinar, senão que não estamos juntos, não há nem trama, nem paisagem para nós agora. Só distância.

Olhando para a estrada que tomei, não chego a me arrepender. Ela me trouxe a esta magnífica cidade, me aproximou de pessoas especiais que não teria conhecido se nossas circunstâncias fossem outras. Conhecer K., Maria e d. Maroca foi realmente especial para mim. Tem sido enriquecedor, e o novo trabalho estimula a criatividade, embora por vezes me deixe algo insegura.

Mas isso já é outro assunto. Vou deixando-te por aqui. Cheia de saudades da estrada que percorremos juntos, deixando para trás o caminho que não fizemos.

Sempre sua,

Anita

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