domingo, 28 de outubro de 2012

Buenos Aires, mi amor!

Coisas incríveis acontecem em Buenos Aires. [Ou a imaginação fica solta]. Palermo Hollywood, próximo a calle Jorge Luis Borges e a Plaza Cortázar, reserva surpresas a quem anda por ali descompromissada. 


A visita ao Malba não estava nos planos de quem havia decidido nada planejar e não visitar lugares conhecidos. Mas a matéria na revista da Gol, me fez mudar o rumo da história. Beatriz Milhazes estava expondo no museu. Não poderia perder a oportunidade de ver o trabalho.

Beatriz Milhazes (Brazilian b. 1960) 
O beijo
Mergulhei no frescor da obra de Beatriz. Voltei encantada, ou melhor, não voltei. Caminhava pelas ruas de Palermo ainda mergulhada nas cores de Beatriz, nas formas e nas palavras que davam nome às obras. Caminhei muitas e muitas quadras com aquele gosto de mentos na boca, com a sensação de beijo suave percorrendo minhas pupilas. 




Beatriz Milhazes, 2009 - Canela

Mas Palermo Hollywood é um lugar com magia própria. Algo contraditório e logo suas cores abriram espaço em meus sentidos. Lá a feira de novos estilistas e artesãos se mistura a espaços mix e a lojas sofisticadas. Bares, bistrôs e restaurantes são refúgios repletos de aconchego e beleza.

Voltei ao 'El Francés', local onde tomara um branco refrescante na sexta-feira com Carlito e Laura. Naquele fim de tarde um item do cardápio me chamara a atenção. Tinha de experimentar. O lugar estava cheio e o público era bem variado. 

Sentei numa mesa bem posicionada e cuidadosamente construí meu espaço sobre a pequena mesa: livro, caneta, post-its e bloco de anotações. Pedi um tinto, para aquecer a alma algo úmida da chuva fina que caía lá fora e entrei no desafio de desvendar minha alma imoral, junto com Nilton Bonder. 

Sorriso discreto aboletou-se no meu rosto a medida que fui avançando nas linhas do rabino. Não era apenas a leitura que o desperatara, era o desmesurado prazer de estar ali, numa tarde de domingo qualquer de outubro, vendo a chuva fina cair, acolhida por um malbec, completamente dona de mim e do espaço tempo vivido. 

Olhei em volta, como que para me apropriar um pouco mais daquela sensação, de modo a fazer dela uma memória vívida em meus arquivos. Foi quando deparei-me com a jovem mulher que anotava e lia na mesa em frente. Intrigante... Sua figura autônoma e leve refletia sentimentos que conhecia naquele instante. Estaria projetando nela minha própria leveza e autonomia?

[fragmento de Uma história em Buenos Aires - em fase de amadurecimento].



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