Desnecessário dizer que estando na Galícia tinha de ir a Santiago de Compostela, sua capital. A cidade, mundialmente conhecida em razão das peregrinações, é um primor. Ruas estreitas, prédios antiquíssimos, janelas estupendas.
É, claro, um destino de turismo religioso, que mostra a força da fé e da igreja católica na mobilização de seus fiéis. Nesse ponto, assusta perceber um comportamento algo alienado e o bom e velho comércio dos objetos santos.
Eu mesma, passando por Santiago, não poderia deixar de fazer mãe, avó e ex-sogra felizes, por isso tratei de adquirir uns rosários para presentear. Senti-me pouco confortável, mas, como cada ser sabe sua jornada, em respeito a la madre, la abuela y la abuela de los niños, investi alguns euros para um lote no céu.
Além do comércio da fé, desanima o tamanho das filas para a visita (paga) à catedral. Entendam, nem na Notre Dame eu entrei, em razão da fila, não seria em Compostela que o faria. Não sou o tipo de viajante que faz qualquer coisa para carimbar a "cartela dos monumentos visitados", ao contrário, prefiro percorrer as ruas, preferencialmente sair do circuito turístico e tentar, na medida do possível, interagir com os locais, suas histórias e os sabores tradicionais da região.
Aliás, posso afirmar que tenho tido muita sorte, e por isso sou imensamente grata, porque venho encontrando pessoas incríveis nos lugares por onde tenho passado, dispostas a contar-me a história que está por detrás dos discursos dos guias.
Em Santiago não foi diferente. Depois de de um tour rápido pelas várias praças e igrejas. Depois de fotografar todos os monumentos e suas filas monumentais, encontramos nossas anfitriãs em Santiago: Ana, Bea e Pilar, da e-burbulla. Aí começou a parte mais interessante da viagem. Ouvimos comentários ótimos sobre a cidade, rimos, experimentamos um autêntico Albariño (vinho típico da Galícia), que lamento não ter comprado para levar ao Brasil.
Albariño é branco, seco e refrescante. Um vinho que alegra e que traduz um verão como poucos. As meninas de e-burbulla nos passaram uma bela lista de albariños de responsa, embora hoje saiba que não será muito fácil encontrá-los no Brasil.
Mas o Albariño foi apenas o aperitivo para o que viria depois, logo mudamos de paragem e fomos a um pequeno restaurante de um amigo de Ana, num beco estreito e escondido, em que experimentamos picadas regionais. Pimientos grelhados, peixinhos fritos e, no meu caso, vieiras. A coloquei na boca, pedaço por pedaço deixando que o sabor fosse pouco a pouco tomando conta da boca, claro, pão para passar no prato, limpando os restos de molho. Para acompanhar uma clara com limón - bebida que consiste em meio copo de cerveja preenchido com suco de limão galego. Estupidamente gelado e refrescante a mistura é deliciosa, daquelas que dá vontade de tomar várias.
A sobremesa não poderia ser outra, pedi a tradicional torta de santiago, mais por uma necessidade incontrolável de experimentar que por fome. Um leve sabor de laranja permeia a massa fresca e macia de trigo e o sabor vai se abrindo em flores dentro da boca, enchendo de prazer quase sexual quem a experimenta. A torta, especialidade do lugar, é imperdível.
Terminada a comilança, partimos para uma cafeteria debruçada sobre a colina, num belíssimo jardim interno, onde seguimos por toda a tarde entre copas de água, licores e cafés, trocando confidências e sonhos. As horas passaram lentas enquanto ríamos e contávamos histórias muito nossas, "conversas de menina," histórias de 6 mulheres de diferentes nacionalidades que o destino reuniu em Compostela, naquela tarde de verão inesquecível.
Fim de tarde, fizemos nosso próprio percurso, uma caminhada por dentro sob o olhar atento e atencioso umas das outras. Merece um brinde: Que o dia em Santiago seja apenas o primeiro de uma série de brindes e parcerias com essas mulheres guerreiras e doces de Santiago de Compostela, de Berlim e de Buenos Aires!
P.S. Sem a foto planejada, mas como todo meu coração.
O meu Deus eu vou embora pra Espanha e e tenho que aprender sobre os pontos turisticos e como catolica estou facinada pela historia.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado...
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