terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Hoje vou de... Verdades sobre Silas Malafaia

Silas Malafaia e a Teologia da Estupidez
Enviado por luisnassif, seg, 04/02/2013 - 21:53
Por Alyson Freire
Da Carta Potiguar
Silas Malafaia e a Teologia da Estupidez: Homossexuais e Bandidos?

Alyson Freire

Não há surpresas ou novidades quando o pastor Silas Malafaia fala. Cada vez em que é entrevistado ou empresta sua voz para algum programa de natureza política ou religiosa, assistimos e ouvimos o mesmo desfile de preconceitos, inverdades e sofismas. Bem sabemos que os disparates e infâmias habituais de sua retórica convicta e fundamentalista enojam e irritam. Entretanto, convém não perder a capacidade, e a paciência, de nos chocarmos e nem “acomodar com o que incomoda”, como diz a letra de uma bela canção.

E por que não devemos nos calar ou tão simplesmente dar de ombros, ignorar a ignorância? Porque o silêncio nos torna cúmplices da ignorância. Aliás, se é verdadeiro que em certas circunstâncias o silêncio pode ser mais eloquente do que a palavra, em outras o silêncio é o adubo fértil para o crescimento da ignorância e da barbárie. Por isso, cabe não calar. Falar a verdade ao poder e criticar os preconceitos é combater incansavelmente contra o silêncio que naturaliza ambos.
Voltemos, pois, a Malafaia, este paladino e missionário do ódio. Coube a jornalista Marília Gabriela a hercúlea tarefa de suportar o discurso de Malafaia, entrevistando-o em seu programa “De Frente com Gabi”. E se a jornalista por vezes se exaltou com as afirmações do pastor ou por este a atropelá-la em suas perguntas e raciocínios, penso que ela aguentou em nome de um compromisso com a verdade e com a sensatez; afinal, a mentira para ser desmascarada deve ser antes exposta.

O que disse o pastor desta vez? Num exemplo cristalino de homofobia cordial, disse que amava os homossexuais da mesma forma como ama os bandidos: “Eu amo os homossexuais como amo os bandidos”. Este amor misericordioso que Malafaia afirma cultivar não passa de um ardil ideológico que finge aceitar e acolher mas apenas para tentar “corrigir”, “reorientar”, “ajustar”. Em outras palavras, domesticar e “curar” a homossexualidade segundo os “meus valores” e “minha verdade”. Não creio que os homossexuais precisem deste amor denegador da liberdade e da autonomia individual. O amor de Malafaia é um amor tutelar, de correção moral e interesseiro.

A correlação valorativa entre “homossexuais” e “bandidos” é odiosa. Ela objetiva reforçar o vínculo entre homossexualidade e desvio, sustentando, sorrateiramente, a ideia de que a homossexualidade assim como o fenômeno da delinquência atenta e prejudica a sociedade. Em outros termos, a analogia diz o seguinte: os bandidos existem, são um fato social, mas precisamos mudá-los, puni-los e “ressocializá-los” para que não lesem a sociedade. Sem afirmar diretamente, Malafaia pensa o mesmo sobre os homossexuais; eles são um fato social, existem, mas precisamos corrigi-los para que não lesem à família, os bons costumes, etc..

A piedade e a compreensão amorosa do pastor são, com efeito, estratégias retóricas para a normalização pastoral e sexual. Nesse ponto, Malafaia se serve abundantemente de preconceitos e concepções de gênero, família e sexualidade que não se sustentam, nem do ponto de vista do conhecimento científico nem socialmente – haja vista todas as transformações culturais, sociais e jurídicas das últimas décadas.

Tentando atenuar os aspectos mais, digamos, etnocêntricos e interessados de suas opiniões, o pastor recorre a ciência em vez da religião pura e simplesmente; refugia-se em argumentos pseudo-científicos e pesquisas que nunca cita a fonte, Malafaia busca, com isso, preencher de autoridade, poder de verdade e neutralidade os seus preconceitos e sua intolerância. À bem da verdade, Malafaia achincalha a ciência – mais uma razão para não nos calarmos.

Quando prenuncia, num claro julgamento moral e especulativo, que a formação de famílias homoparentais ou a criação de filhos por casais homossexuais terá consequências sociais e psicológicas nefastas e nocivas, Malafaia esquece que, segundo Freud, a família independentemente das orientações sexuais do casal é a origem e o palco da maior parte dos problemas emocionais e psíquicos por conta dos conflitos subjetivos que envolvem a constituição do eu nas relações e identificações familiares. Aliás, a grande maioria das psicoses estudadas por Freud era produto das dinâmicas emocionais, repressivas e traumáticas da família vitoriana.

O artigo “Desconstruindo preconceitos sobre a homoparentalidade” dos psicólogos Jorge Gato e Anne Maria Fontaine cita diversos estudos psiquiátricos, psicológicos, sociológicos e antropológicos que desmentem as pré-noções estigmatizantes de que a criança em famílias homoparentais sofreria danos em seu desenvolvimento psicológico. Todos os estudos mencionados pelos autores foram unânimes na constatação da não-existência de uma excepcionalidade ou de diferenças substanciais que tornem a homoparentalidade especialmente danosa para o desenvolvimento emocional, cognitivo e sexual da criança em comparação às famílias heteroparentais. Inclusive, em algumas casos, de mães lésbicas, por exemplo, estudiosos verificaram um ambiente familiar no qual as crianças sentiam-se mais a vontade, livres e confiantes em discutir temáticas de caráter emocional e sexual, ocasionando um efeito positivo no desempenho escolar.

Em contrapartida, as dificuldades das crianças criadas em famílias homoparentais aparecem exatamente no plano das relações sociais, ou seja, obstáculos na aceitação e reconhecimento social por conta de contextos sociais discriminatórios como a escola. Mas, ainda assim, os estudos mostraram variações importantes nesse ponto a depender do país e região.

O que podemos concluir com os resultados das pesquisas científicas é que os problemas que estas crianças enfrentarão no futuro se devem precisamente de pessoas como Malafaia. Quer dizer, do preconceito, da intolerância e da ignorância que Malafaia pratica, semeia e propaga.

Portanto, o que atrapalha e lese o desenvolvimento psicológico e social é o preconceito e a intolerância, os quais Malafaia transforma em bandeira. As religiões se tornam nocivas à humanidade quando são eivadas de ódio e ignorância por profetas fundamentalistas e intolerantes que alimentam incompreensões.

Por mais que canse, devemos continuar a combater e criticar os absurdos odiosos do pastor Malafaia, pois ele, por sua retórica e status, goza de um poder de interferência na vida social capaz de favorecer violências simbólicas e físicas contra grupos e minorias sexuais que já tem de enfrentar práticas homofóbicas em seu cotidiano. Se não quisermos cair presas da retórica do preconceito e sua violência simbólica, devemos sempre exercitar a crítica pública. É com ela que podemos cultivar uma cultura de direitos humanos e de reconhecimento capaz de transformar uma esfera pública refratária ao debate racional dos direitos e das violências sofridas por minorias e grupos vulneráveis em uma esfera pública refratária a estupidez, a barbárie e ao preconceito. Para essa transformação ocorrer, então, é preciso jamais se cansar de se contrapor ao preconceito.

Um comentário:

  1. Valho-me do meu neto German Martins da Rocha que, aos 8 anos, vê assim o fato de ter duas mães (comentário publicado no facebook dele):

    "Eu sou uns dos raros acontecimentos do mundo tenho duas mães uma é fotógrafa profissional e poeta a outra é ambientalista eu gosto bastante das duas elas são muito legais uma é a Nayre,e a outra é a Ana as veses eu fico de castigo mas não deixo de gostar delas. elas me deixam patinar no gelo,me pagam sanduiches e me levam no cinema.agora ninguem pode brigar comigo porque quando eu tinha só uma mãeera facíl de brigar comigo mas agora ninguem pode com as duas epara teminar eu superei os textos da mãe ana com razão:german"

    Eu, avô coruja e destrambelhado, nada mais preciso acrescentar: meu menino esgotou o assunto.

    ResponderExcluir

O que você acha?