Tua resposta me arrebata. Sinto-me tão presente e tão inteira agora. Embora seja o que sou, sou o que falta dizer sobre mim. Sou a experiência dita, a mentira vivida e a vívida mentira dos dias que me acompanham. Soou tão teu o relato sobre aquele que mentia, mas soou também parte do que vivemos [vivemos?]. Nossa mentira profunda e verdadeira, sobre um amor não correspondido ou amor inventado, exagerado, intenso e manso. A um só tempo um conflito em branco e preto, um espaço, um ponto e uma linha.
Aquele Caio que fostes causou em mim tanto que tive de despir-me completamente, distraidamente diante de ti. Desejo oculto? Inconsciente talvez. Desejo de viver com Caio a história, mas com que Caio quisera viver? Afinal, quem é Caio? E que história é essa que não vivo e persigo dia após dia. Estarei em busca do fim do arco íris ou tocar o horizonte com a ponta dos dedos?
De repente me ocorre que minto também ao abandonar o que vivo e me jogar nos braços do que gostaria de viver [fantasia?]. Talvez nunca esteja onde estou, mas onde gostaria de estar [passado ou futuro]. Assim que o tempo vivido é na verdade sonhado, intocável, surreal. Sinto-me uma criança pequena na ponta dos pés tentando sem êxito alcançar o inalcançável.
É, por certo, mais uma ficção inventada por mim. Um papel, uma máscara, uma cena para ver-me livre da enorme responsabilidade por quem sou [quem sou?]. Ficção, tenho escolhido a ficção, onde a vida real talvez me trouxesse a sorte de um amor tranquilo e cálido, prefiro as peripécias e dramas do amor criado e (re)criado a cada carta.
Caio, o verdadeiro Caio [Marques], se é que existe um verdadeiro, percorre um caminho de despir-se diante de si e olhar-se no espelho. Vê a criança que foi e o homem que se tornou. Ele me conta, e suas cartas me despiram a alma, por isso a confissão que precisava fazer. Estou farta da farsa, só não sei ainda como livrar-me das máscaras. Por tanto tempo estiveram aqui, que sinto não saber como removê-las. Tampouco posso prever o que debaixo delas há.
Mas fez-me bem ler teu nome, acompanhado do sobrenome: tão sonoro! Alberto Tibagi, muito prazer, Maria Anita Lopes do Canto. Despida diante de ti e a caminho da verdade que falta e da verdade que sobra.
Sua sempre,
M.A.L.C
[A.L.]
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