domingo, 31 de janeiro de 2010

VIII Carta de Anita Lopez a Caio Marques

Querido Caio,

Quantas coisas interessantes tenho visto, ouvido e sentido por aqui. Quantas pessoas tenho conhecido. Algumas novinhas em folha, outras com jeito de que já conheço há séculos.

Estive viajando por cidades circunvizinhas. Sentindo a energia do lugar. Nesse percurso encontrei pessoas verdadeiramente especiais. Algumas delas, estou certa, você adoraria conhecer.

Tomei contato com idéias que intuía. Sabe aquela sensação de já saber algo que lhe está sendo dito naquele momento? Senti-me assim dia desses.

O sol continua brilhando forte, os dias pegam fogo e as noites são cálidas. Nos fins de tarde há uma brisa suave e alentadora que me coloca em contato comigo e com o planeta.

Ao escrever esta mensagem ouço o barulho do mar, sinto a brisa entrando pela larga porta da varanda e vejo coqueiros, areia branca e fofa, o mar esmeralda e o imenso azul celeste em seus diversos matizes. É lindo, tudo aqui é lindo.

Meus sentidos estão todos muitíssimos aguçados ultimamente. Os sabores são inebriantes. Sinto-me viva, esplendorosamente viva!

Estou encantada e feliz por estar aqui, agora. Grata, imensamente grata pelo que tenho experimentado. Pelas histórias que tenho ouvido e o acolhimento com que fui recebida.

Sinto-me plena, um amor imenso resplandece em mim. Algo brilhante e bom está acontecendo aqui, neste momento.

Com afeto,

A.L.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

VII - Carta de Anita Lopez a Caio Marques

Caio,

Em plena viagem exploratória de meu novo lar-doce-lar deparei-me com excelentes condições. O clima é ameno e as pessoas simpáticas. A cidade é bonita com suas construções simples e o comércio oferece tudo o que é necessário, além de haver boas opções culturais e artísticas. Há uma belíssima biblioteca aqui e para mim o paraíso tem livros, muitos livros.

Estou hospedada na casa de D. Maroca. Senhorinha muito alegre e falante, viúva e com muitas histórias para contar. Vive com ela seu filho mais velho: José e uma criada mal-criada, que costumam chamar Lerinha. A casa é confortável, tem um belo piano - o que me realiza - e ouço atentamente as histórias da cidade que D. Maroca viu crescer.

Desde muito jovem ela veio de uma pequena vila ao norte da província com seus 12 irmãos e irmãs e a mãe que ficara viúva. Os mais velhos cuidavam os mais novos. D. Maroca era caçula e o mimo de todos. Contou-me que por causa disso tornou-se uma mocinha bem mimada, que tinha todos os desejos realizados no momento em que queria. Não admitia ser menos que o centro das atenções. E era, segundo ela, muito namoradeira. Suas histórias são engraçadas, numa outra oportunidade contarei mais de D. Maroca e suas aventuras na cidade.

Busco por um lugar para chamar de meu. Os imóveis são bons, porém poucos estão disponíveis para aluguel. Além disso, você sabe, ainda hoje uma mulher sozinha é vista com desconfiança em alguns lugares. Aqui é um deles. Por outro lado, convivo há muitos anos com olhares que vão do curioso ao reprovador e isso não costuma me constranger.

Tem sido constante a companhia do senhor K. Ele foi designado pelo escritório central para auxiliar-me na exploração do novo território e tem feito um excelnte trabalho. Seu entusiasmo pela cidade é contagiante e costuma mostrar-me lugarzinhos charmosos onde poderei distrair-me das pressões do dia-a-dia.

Faz sol aqui o ano inteiro e é um hábito local banhar-se nas praias nos finais de semana. Outro hábito delicioso é o de assistir o pôr-do-sol numa velha ponte abandonada ao som de violeiros que poeticamente colocam trilha sonora nesse fantástico espetáculo da natureza.

Senhor K apresetou-me uma boa amiga que algumas vezes nos tem acompanhado. Maria Amélia é extremamente ativa, falante e seus olhos brilham imensos e claros sobre sua pele bronzeada. Ela é inteligente e em poucos encontros já nos tornamos ótimas amigas. Temos muito em comum, embora eu não tenha metade da vivacidade de Maria Amélia. Não há como entrar num salão acompanhada por ela e não ter todos os olhares imediatamente voltados para nós.

Como andam as coisas por aí? Você não tem escrito muito. Sua última correspondência era quase lacônica. Algo o aborrece? Sei que agora estamos mais distantes que nunca, mas foi o que escolhemos afinal. Cuide-se.

Vou ficando por aqui, repleta de boas expectativas quanto a nova vida.

A.L.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

VI - Carta de Anita Lopez a Caio Marques

Querido Caio,


Os dias passam rápido nesse início de novo ano. A notícia da remoção para outra parte do país me pegou de surpresa. Havia em mim um misto de receio e alegria pelo novo desafio. Eu, como você bem sabe, sou adepta a vida nômade.

Penso unicamente em todas as providências que terei de adotar para tornar a mudança de cidade efetiva e mais prazerosa que desgastante. No entanto, não posso deixar de registrar que R. entristeceu-se com a notícia. Somos muito próximas e com a partida minha querida amiga não poderá contar com nossos passeios ao entardecer, regados a boa prosa.

Ontem mesmo dei conhecimento a minha senhoria sobre a entrega do imóvel. Fui feliz naquele apartamento. Tudo tão limpo e iluminado. Mas estou certa que encontrarei um belo lugar para morar em meu destino. Tenho muita sorte com moradia, aliás, para ser justa, tenho mesmo muita sorte na vida e por isso sou grata. A remoção não poderia ter vindo em hora melhor.

Andei refletindo em como tudo acontece exatamente quando tem de acontecer. Que momento oportuno para esta mudança de cidade. É verdade que estava começando a me acostumar e até me encantar com a vila, mas sei que encontrarei lá boas razões para o encantamento.

Na próxima semana farei uma visita exploratória ao novo destino. Estou, confesso, bastante ansiosa com a perspectiva.

Por agora, meu amor, era o que tinha a dizer-te.

A.L.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sempre Novo De Novo

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido

Composição: Ivan Lins / Vitor Martins


Supostamente começou um novo ano, uma nova década. Finda a primeira do século XXI fica a sensação de que o tempo não para e que o mundo continua girando, de um modo ou de outro. Ontem ficou para trás com as boas e más lembranças. Depois da virada é um novo dia, tempo de renovar esperanças, fazer planos e realizar sonhos. Mas essa virada não acontece todos os dias, afinal?

A idéia aqui é que cada dia temos a possibilidade real de fazer ‘’a virada’’, deixando para trás o que não nos serve e tomando decisões – de fazer ou de não fazer – revolucionárias.

Nessa perspectiva venho virando a página todos os dias há vários meses. 2009 foi um ano de pequenas e grandes viradas diárias. Tomei decisões ousadas, troquei a pele várias vezes, mudei de casa, de trabalho, de planos e deixei para trás – mais de uma vez – velhos conceitos, antigos sonhos embolorados, decrépitas crenças ancestrais.

O ano de 2009 foi, definitivamente e a cada dia, um ano de mudanças. E eu as fiz como deveria, embora às vezes não sem alguma dor. Sinto-me hoje, primeiro dia útil (há dias inúteis?) de 2010, pronta para seguir virando, a cada 24h, a página da história, tomando decisões grandes e pequenas. Transformando os desafios da vida em experiências infinitamente interessantes e reveladoras de quem sou no mundo em que vivo. PORQUE

TODA MULHER TEM DIREITO A TORNAR-SE NOVA(s) A CADA DIA.



FELIZ DIA NOVO, A CADA DIA!!!