Carta à Jovem Gestante
São muitos os caminhos que levam à concepção. Apenas um conduz à maternidade. Seja como for, por uma fração de segundos houve uma força tão irresistível entre um homem e uma mulher, que gerou uma fusão atômica. E desta fusão de células: A fecundação.
Naquele momento, o milagre da multiplicação das células logo faz do encontro fortuito ou da maior expressão de afeto, Vida.
E a força da vida é tão arrebatadora que podem surgir dúvidas. Será que sou capaz de criar uma criança? Terei condições? Ter ou não ter? Como será? Que faço com meus planos, minha carreira, meus estudos? Porque agora?
Mesmo com dúvidas, a vida não espera e as células seguem se multiplicando. Enjoos, tontura, azia, sono... muito sono. Vida que cresce dentro de outra vida.
Serei um monstro se não quiser ter? Se tiver, sou uma irresponsável? Se desistir, sou criminosa? Vou ser presa? Como vou cuidar do bebê?
A barriga cresce com as dúvidas. O sonho materno alimentado por ocitocina e padrões sociais. Ter ou não ter?
O que eu posso te dizer?
Fiz minha escolha aos 20 anos. Faltavam 11 matérias para eu me formar. Tinha dúvidas sobre o relacionamento. Não havia certeza alguma. Sempre quis ser mãe, mas precisava ser naquele momento?
Escolhi ter.
Não foi fácil, não é simples.
Foi maravilhoso e assustador quase sempre. Abri mão de planos, de sonhos, mudei de rumo completamente. Ela me pariu mãe, no momento em que eu a pari. Parir é tornar-se mãe. Nasci mãe com ela, ela nasceu de mim.
Ela é o fruto da fusão de dois átomos. É a síntese de nós dois. Nela estamos unidos para sempre. Nela - e em seu irmão - seremos para sempre um só corpo, uma só carne. E nada, nem ninguém poderá nos separar. A força do encontro, fortuito ou planejado, permanece vivo nos filhos. Nesse sentido, toda união que gera filhos, nascidos vivos [ou não], é para sempre.
Os desafios são enormes, assim como as alegrias. É tão lindo, quanto difícil ser mãe. As dúvidas não cessam se desisto de ter ou se escolho ter. Dúvidas são companheiros eternos desde a fecundação.
Filhos não vêm com manual. E um é sempre, necessariamente, diferente do outro, ainda que sejam gêmeos univitelinos. O aprendizado nunca termina, mesmo quando são adultos. São nossos mestres desde a barriga. E o aprendizado é desafiador.
O choro de um bebê pode ser desesperador quando não conseguimos perceber o que eles querem. E assim vamos pela vida aperfeiçoando a observação nas micro expressões faciais dos filhos. Errando muito, acertando às vezes sem qualquer garantia que vai dar certo. E um dia a gente acorda e o bebê está com 24 anos: universidade, namorado(a), própria casa e fazendo chá para aquecer, te ensinando – sempre ensinando – sobre as ervas do jardim. Assim é.
O aprendizado quase nunca foi fácil, medo, insegurança, raiva, desespero, extase, alegria, tudo ao mesmo tempo. Valeu a pena, é o que posso dizer.
Pequenos conselhos, caso escolha seguir o meu caminho:
01. Nunca estamos prontas, essa é a maior certeza que tenho;
02. Relaxe: o mundo não é estéril e o contato com micróbios desenvolve anticorpos e fortalece o sistema imunológico;
03. Não implique: Avós – dos dois lados – são o melhor presente que podemos dar aos filhos;
04. Desencane: Haja o que houver, a culpa sempre será sua diante do analista. Então: dê limites, mas também dê colo;
05. Lembre-se: ‘’Porque não’’, não é resposta;
06. Ocupe seu lugar: Você é a mãe, seja de que jeito que for, sempre será a mãe;
07. Atenção: Não existe criança sem pai. Seja de que jeito for, ele sempre será o pai;
08. Não vai ser fácil, mas é recompensador;
09. Os pais – mãe e pai – dão, os filhos recebem. Sempre! E tudo o que você fizer por ele/a, tenha certeza, é o seu melhor naquele momento; e
10. Haja o que houver, seja qual for sua decisão sobre o bebê, você já é mãe e sempre será!