terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Gosto

Outro dia uma-amiga-de-uma-amiga-minha contava que não consegue cozinhar só para ela. Nos fins de semana, quando não sai para almoçar com amigos ou amigas – ou ambos – acaba se alimentando de tudo-e-qualquer-coisa que encontra na geladeira. Argumentava, que não vê graça em preparar uma refeição completa para si mesma, preparar a mesa e comer sozinha.

Pensando sobre o tema, busquei referências para falar sobre o assunto. No último sábado, por exemplo, comecei a preparar a refeição ao meio dia, terminei o cafezinho – aromatizado com amêndoas – às quatro da tarde, no sofá, completamente satisfeita (e sozinha). Desde a escolha do menu, passando pela compra dos ingredientes, a decoração da mesa e à escolha da música, tudo foi minuciosamente selecionado com a finalidade de me proporcionar um momento de afetividade e magia.

Aprendi em casa que comida é expressão de afeto. O ato de cozinhar é declaração de amor. Cozinhar é linguagem. O tempo e a energia dedicados à preparação de um prato, a forma de apresentação, o cuidado com a arrumação da mesa, a harmonização do prato com a bebida e a música, com o clima fala sobre a relação entre quem prepara e para quem se prepara.

Cozinhar, para mim, é: Pura Magia. Combino elementos com sabores, com texturas, com aromas e com cores diferentes. Essa combinação tem algo de alquimia e de intuição. Os elementos e os sentidos são equibilibrados num bom prato, porque a nutrição é antes de tudo equilíbrio e o paladar não é um sentido solitário.

Ao contrário, a ele estão inexoravelmente associados o olfato, o tato, a audição e a visão. A refeição é, portanto, integração dos sentidos com tudo o que compõe o momento. Por isso mesmo, deve ser vivido com consciência e presença.

Pode ser ainda oportunidade de reunir pessoas queridas para confraternizar, compartilhar o tempo, as idéias e o prazer da comida. Esses encontros, regados a boa bebida, a leveza e a alegria são oportunidades incríveis de pausar a vida e entregar-se ao hedonismo pleno.

E aí vem a questão: É possível extrair prazer, afeto e nutrição quando se está sozinha?

Ixi, claro!- Não hesitaria em responder. Importa saber, no entanto, o quão importante você é para si mesma, o quanto de estima e cuidado tem por si. Quando a auto-estima está em alta, fica fácil dedicar poucos minutos ou horas preparando uma deliciosa refeição, arrumar uma bela mesa, com direito a melhor louça e as taças incríveis de cristal – presente especial do último Natal - com direito a flores, criar um clima, escolher trilha sonora, especialmente para si. Esta é uma manifestação inequívoca de cuidado e afeto.

Escolher os melhores ingredientes, equilibrar os elementos da refeição para que seja nutritiva e saborosa; preparar com atenção e com desejo; temperar com o coração, sentindo a seleção de especiarias e compensando sal, doce, ácido e básico – yin e yang – optando por aromas harmônicos. Arrumar o prato ‘’como se fosse um ramalhete de flores do campo’’ significa nutrição plena do corpo e da alma.


Durante a refeição importa saborear, trazer para as papilas gustativas, o olfato, o tato e, por que não a audição, boas lembranças. Viver o momento, estar presente. Sentir de verdade a temperatura, a textura, o sabor, o aroma. Sentir a música ao fundo, sem ser agredida por ela, é puro prazer. Aposto que não dá nem para sentir o tempo passar ao viver intensamente esse momento inteiramente seu, porque:


TODA MULHER TEM O DIREITO DE RECEBER PRAZER E AFETO – PRINCIPALMENTE DE SI MESMA.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Chega a Primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.(Cecília Meireles)



Sábio ciclo da vida, sábias palavras das avós que desde sempre nos ensinam que não há mal que nunca cabe, nem bem que dure para sempre. No cerrado essa lição é tão perceptível. Os gramados secos e cinzentos são rapidamente substituídos pelo verdejante vivo da primavera que chega. Os ipês amarelos, roxos, rosas, as paineiras todas floridas indicam que há vida em seus troncos secos e aparentemente ocos.

É certo que a primavera chega, como diz Cecília, é certo que a vida não esquece e a terra maternalmente se enfeita para as festas de sua perpetuação.

É, pois, momento de celebrar as cores, os aromas, o novo ciclo de vida. É tempo de amor, romance, passear no parque de mãos dadas e comer pipoca ao ar livre. Tempo de reunir os amigos e as amigas em torno da mesa cheia de afetos, de sabores e de cheiros gostosos e aconchegantes, deliciosamente embalados por vinho branco e fresco levemente frutado - mas não doce, por favor - na temperatura ideal para o clima ameno desta época do ano.

Tempo de guardar as cores neutras do inverno em grandes caixas no alto do armário e vestir-se de cor-de-rosa e jasmim, de amarelo, de alfazema e fazer parte da paisagem alegre da temporada das flores. Hora de cortar os cabelos radicalmente e deixar os cachos livres e soltos para saborearem a brisa do fim da tarde.

É tempo de primavera, de renovar-se, de florir, mas como bem disse o Edu outro dia - compartilhando seus sentimentos aqui - ''É preciso desejar o novo, florar "revolucionariamente", pois o rio não corre parado''. Abrir-se em rosas escancaradamente lindas. Deixar a primavera tomar conta do coração e deixar-se banhar pela energia da temporada, que teimosa invade os vidros dos escritórios, libertando nosso bem mais precioso: o amor, porque



TODA MULHER TEM DIREITO A FLORES, AGORA E SEMPRE.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Tempo e o Vento...

Há dias em que o tempo voa,
Há outros em que as  horas
[preguiçosas]
se arrastam
[lentamente].


Hoje nem começou e o vento balança as cortinas contra o vidro sujo da janela.


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Passado Passou




'O passado passou!'A frase ficou em minha cabeça como uma trilha sonora suave. Com os olhos voltados para trás, uma amorosidade insuspeita tomou conta de mim. Nada. Nada de que me arrependa. Reconheço a humanidade. A menina, a moça, a mulher que fui fez escolhas, agiu e reajiu como fora possível.


Reconciliei-me com o passado. Dele resta amorosidade e compreensão por mim e por aqueles com quem compartilhei o caminho, com quem ainda compartilho a jornada. O passado passou e o que ficou foi acolhimento e gratidão pelas histórias vividas, pelo aprendizado, pelas escolhas, pela experiência.


Ouvi certa vez que as escolhas, como as experiências não são boas ou más.São escolhas e experiências simplesmente. A escolha de hoje foi um texto com gosto de brisa de fim de tarde, com jeito de pôr-do-sol no Arpoador, com cheiro de chuva POR QUE


TODA MULHER TEM DIREITO A RECONCILIAR-SE COM O PASSADO

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pequenos Prazeres




Há um prazer indescritível, como uma brisa suave em fim de tarde, que toma conta de mim quando recebo um livro pelo correio. Sentir seu cheiro, percorrer avidamente todas as linhas das orelhas e da contracapa. Se este livro foi comprado num sebo, aí é melhor ainda. Há uma curiosidade quase infantil por saber se virão notas, grifos ou comentários.


Busco adivinhar-lhe as origens. Descubro pelo envelope que esse maravilhoso exemplar - "Um Teto Todo Seu'', de Vírginia Woolf - veio de um sebo no Paraná, mais precisamente na centro da capital - Curitiba - da Papirus, onde, certo dia, alguém o depositou. Que terá motivado a desfazer-se de tal preciosidade? Terá tido prazer com a leitura dessas linhas esplendidamente escritas por Virgínia? Ou terá sido aborrecido? Foi um homem ou mulher que antes o usufruiu?


Folheio despretenciosamente o livro, não em busca de defeitos, mas de pistas sobre outras pessoas que tenham interagido com o ensaio da escritora inglesa. Nada, nenhum vestígio. Será que não causou qualquer sentimento? Ou será que caiu nas mãos de alguém excessivamente metódica e organizada que lavra suas notas em pequenos ou grandes blocos de papel que traz consigo no momento da leitura? Não sei.


Não há como saber. Infelizmente. Eu, de outro lado, sempre deixo muitos rastros por onde passo. Não sei ler apenas com os olhos. Preciso de mais. O tato me é fundamental e o diálogo com a autora: indispensável. Grifos, notas, post its coloridos e até manifestações de concórdia, tristeza, dor, exultação: com o olhar, com as mãos ou mesmo em voz alta. Tudo faz parte dessa relação que estabeleço com o livro, com as letras e com a autora. Puro prazer, traduzido em brilho nos olhos e sorriso sutil. Pura felicidade.


Quem me lê poderá achar que sou apegada aos livros. Não posso dizer que sou. Na verdade eu os amo e por amá-los quero-os livres para voarem e pousarem em outros cantos, para dialogarem com outros leitores e fazerem felizes - ou não - outros corações. No entanto, é de registrar que alguns exemplares são tão caros a mim, pela relação que estabelecemos - eu e suas linhas - que não consigo me desvencilhar deles. Guardo-os carinhosamente, cheios de grifos, notas e post its para revisitá-los em algum momento - próximo ou distante - e quem sabe com olhos diferentes encontrar-me com eles. PORQUE


TODA MULHER TEM DIREITO AO (RE)ENCONTRO.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Você sabia que as tartarugas põem ovos no verão?




E que...


...O Ipê branco é espécie nativa do cerrado e do pantanal brasileiros? Muito apreciado por sua beleza e exuberância, fica totalmente branco quando da floração, que ocorre em geral no mês de agosto e dura apenas dois dias. O ciclo do Ipê branco é de doze meses, quando então ocorre nova floração.

E que...

A gestação na espécie humana cumpre um ciclo de nove meses ou 39 semanas? Desde a concepção, quando se inicia o ciclo, o organismo da mulher passa por numerosas transformações, enquanto o feto se desenvolve até que esteja pronto para o nascimento.


também que...

...O ciclo menstrual inicia-se no primeiro dia da menstruação? A menstruação é a descamação do endométrio, e consequente sangramento. Isto ocorre por que os ovários reduzem muito a secreção de hormônios, e estes, por vários mecanismos, reduzem o estímulo ao endométrio, ocasionando a morte de suas células e a descamação. A cada 28 dias, em média, um novo ciclo inicia.

Pois é...

A vida tem ciclos, há quem diga que a cada sete anos nossas vidas se renovam, e iniciamos um novo ciclo. O ipê branco, assim como outras espécies vegetais, tem seus ciclos - de floração (dois dias) e de espera (doze meses); as tartarugas põem seus ovos no verão, em períodos de doze meses também. Relacionamentos também têm ciclos. Começam com o enamoramento e chegam ao término - em algum momento - sem regras fixas ou períodos pré-fixados, apesar da farta literatura sobre a ''crise dos sete anos'' no casamento.


Venho refletindo há exatos vinte oito dias sobre o final do relacionamento. A reflexão, assim como a dor, foi parte do ciclo de luto inerente ao ocaso desse amor. Passei do espanto, à tristeza, da dor à gratidão. Da dúvida à compreensão. Busquei sinceramente razões para – tal qual num drama mexicano – sofrer. Não sofri. Não sofri por que vivi os últimos dezessete meses uma relação que se iniciou com um encantamento curioso e foi se constituindo - pouco a pouco - na melhor experiência a dois pela qual passei até hoje:companheirismo, carinho, respeito e confiança foram a tônica desse amor.


A despeito do e-mail (sim, ele terminou por e-mail tal qual Gregoire Bouiller), sou grata a esse homem que tanto me ensinou. Ele segurou minha mão quando precisei e me acolheu generosamente em sua casa, quando – longe da família – adoeci e precisei de ninho seguro e aconchegante. O que posso falar dele, senão dos bons sentimentos que o tempo, a convivência e a felicidade, foram tecendo em mim?


De outro lado, sinto-me tranquila porque me dei inteira. Fui meu melhor, todos os dias, a cada dia. Fui companheira, amiga, amante. Nada omiti sobre meus sentimentos, revelei minhas dúvidas, meus temores, meu amor despudoradamente. Estive presente, talvez tão completamente que não tenha sobrado espaço para que sentisse minha ausência. Mas entreguei-me e não me arrependo.


Vinte e oito dias se passaram. Um ciclo de mulher. Momento de descamar as células mortas e preparar-me para o novo ciclo que se inicia.Uma parte de mim se vai, outra surge das entranhas. Não afastarei as boas lembranças, nem o sentimento que ainda me leva a ele, mas vou retomar meu caminho. Escolhi ser feliz, PORQUE


TODA MULHER TEM DIREITO A ESCOLHER.



P.S. Obrigada pelo Post-it.