quarta-feira, 23 de maio de 2012

Hoje vou de...Valek


Nada contra

Não tenho nada contra homofóbicos. Eu, inclusive, tenho muitos amigos que são. O problema é que tem uns homofóbicos escandalosos, que não conseguem ser discretos. Ficam dando pinta que não gostam de gay, sabe? Tudo bem ser uma pessoa rancorosa e preconceituosa, mas não em público. Entre quatro paredes e bem longe de mim, tudo bem. Nada contra mesmo.
É impressionante o quanto eles se acham no direito de ficar com pouca vergonha na frente de todo mundo. Outro dia ouvi um cara dizer, em plena luz do dia e para quem quisesse ouvir, que “gay é abusado, mexe com homem na rua mais do que homem mexe com mulher”. Acredita? Mas já vi e ouvi coisas piores. “Tenho nojo de homem se pegando” ou “essas menininhas que se beijam não são bissexuais coisa nenhuma, só querem chamar atenção dos homens” ou ainda “te sento a vara, moleque baitola”, e por aí vai. E se alguém critica, logo apelam para “ah, foi só uma piada” ou “é a minha liberdade de expressão” ou ainda “está na Bíblia”. O horror, o horror.
Ser homofóbico é uma opção, mas ninguém tem a obrigação de aceitar, né. É muito constrangedor ver alguém olhando feio para duas pessoas do mesmo sexo se beijando. Como eu vou explicar para os meus filhos que existe gente intolerante? O pior é que nem na escola as crianças estão a salvo. Querem ensinar nossos filhos a serem homofóbicos, imagina! Quando você percebe, já é tarde demais: uma amiga minha foi chamada pela diretora porque o filho foi pego espancando um colega no intervalo. Tudo porque o rapaz era gay. Minha amiga, coitada, não aguentou a decepção de ter um filho homofóbico. Ela diz que é só uma fase, que vai passar. Por garantia, levou o menino no psicólogo.

Acredite, homofobia tem cura. Soube de uns casos de conversão que parecem até milagre. Em um dia, a pessoa estava lá, odiando gays, militando contra o direito dos homossexuais ao casamento civil, fazendo marcha pela família e tudo o mais. Mas com um pouquinho de empatia e bom senso, eles começaram a ver que não tinham nada que se meter com a sexualidade dos outros. E como o respeito é todo-poderoso e misericordioso, os ex-homofóbicos viram que os gays eram boas pessoas e também mereciam os mesmos direitos. Hoje dão testemunho de tolerância.

Murillo Chibana
Agora, tão preocupante quanto homofóbicos exibidos e sem-vergonha são aqueles que não se assumem. Aqueles que não saem do armário, que se fazem de pessoas normais e sem ódio no coração, mas que, no fundo, no fundo, também são fiscais de cu alheio. Pensa comigo: você sai com uma pessoa dessas, sem saber da opção de ignorância dela, e começam a pensar que você também é homofóbico, igual a ela. E todos sabemos que homofóbicos são abominações, ninguém quer ser confundido com um deles. Além disso, onde enfiar a cara quando eles resolverem se revelar e soltarem um “odeio viado” assim, do nada?
Mas não me leve a mal. Não tenho nada contra os homofóbicos, apenas não concordo com a homofobia. Essa doença quase sempre vem acompanhada de outros preconceitos, como o machismo e o racismo. É um caminho sem volta. Fico triste de ver tantos jovens se perdendo nesse mundão de ódio gratuito. É por essas e outras que prefiro ter um filho gay a um filho homofóbico. Ah, você quer saber se eu vou aceitar e amar um filho que virar homofóbico? Como alguém já disse por aí, eles não vão correr esse risco; vão ser muito bem educados.

Grande descoberta, agradeço a `Paulo Cequinel' do O Ornitorrinco

Qual o valor da vida de nossos filhos e filhas?

Qual o valor da vida de nossos filhos e filhas?

‘’A sociedade tratou dois meninos assassinados de modo desigual, mas a morte violenta os igualou’’

Em 2006, no auge da comoção pública ocorrida em razão da morte do menino João Hélio, publiquei artigo de opinião neste site em que questionava não apenas a exploração da dor pela mídia convencional, como também os discursos inflamados pela diminuição da maioridade penal, que mais uma vez surgiam ante um fato exaustivamente exposto nas TVs, jornais e rádios brasileiras.
Há várias formas de matar uma criança
Na mesma semana, um adolescente de 17 anos fora torturado, violado e morto, com requintes de crueldade na vizinha cidade de Anápolis, a segunda mais importante no estado de Goiás. Não foi publicada sequer uma linha nos jornais do Distrito Federal ou do país, e, mesmo em Goiás, apenas um pequeno jornal semanário (Jornal Opção) deu a notícia com pouco mais de 200 caracteres, quase num pé de página.
Qual a diferença entre João Hélio, o menino de seis anos, morto em razão de um assalto mal sucedido e o garoto sem nome, de 17 anos, torturado, violado e assassinado em Goiás? Por que os defensores da diminuição da maioridade penal, os paladinos da pena de morte, do movimento lei e ordem, nada falaram sobre o caso? O que motivou os editores de telejornais, jornais e rádios do país a sequer se preocuparem em dar a notícia? Por que não houve clamor popular, comoção pública, debates em torno da crescente violência que assola o país?
Tantas perguntas, uma única resposta. O que diferencia o garoto sem nome de João Hélio é que aquele causara rebuliço na família seis meses antes, por que revelara que era homossexual. E por que era homossexual, foi torturado, violado e friamente assassinado.
Retrato de uma sociedade adoecida em que a vida, a integridade física e emocional são valores relativos. Uma cultura que pune cruelmente todo aquele que não reza pela cartilha da maioria, que não realiza as expectativas identitárias, em especial e principalmente, que ousa desobedecer o código da heteronormatividade e das identidades de gênero binárias.
O que têm em comum João Hélio e o garoto sem nome? Eles têm mãe. Mas poderiam ter tantas outras coisas em comum, qualidades que jamais saberemos por que ambos foram vítimas da violência.
Ainda assim, para João Hélio, cuja identidade sexual e de gênero ainda não estava plenamente expressa, a sociedade bradou por justiça, os meios de comunicação inflaram o debate em torno da segurança pública, os políticos de plantão levantaram suas bandeiras de tolerância zero. Enquanto repousa anônimo o garoto torturado, violado e assassinado em Anápolis, e ninguém, exceto a própria mãe, clamou por justiça. A sociedade os tratou de modo desigual, mas a morte violenta os igualou.
É preciso que nossos filhos e filhas tenham direitos iguais. É necessário que a vida, a integridade física e emocional sejam valores absolutos em nossa sociedade. Respeitar e garantir os direitos civis de brasileiros e brasileiras sem qualquer distinção, inclusive a de orientação sexual, é garantir o estado democrático de direito.

Maria Cláudia Cabral é Advogada, blogueira, faz parte do movimento Mães pela Igualdade

Publicado originalmente em Congresso em Foco de 23/05/2012 http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/outros-destaques/qual-o-valor-da-vida-de-nossos-filhos-e-filhas/

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Abre-fecha

fecham-se portas
abrem-se janelas 

é a vida...
feita de portas e de janelas
de encontros e de [des]pedidas

segunda-feira, 14 de maio de 2012

As Brumas de Avalon - Adeus, Avalon!





foto: Thaís Werneck
'Todo mundo tem uma história inacabada,


guardada num canto empoeirado do peito.
Em geral, são histórias que nos recusamos a terminar,
e, por isso, as completamos com nossos sonhos.
E a história fica lá guardada, meio realidade e meio delírio,
como uma espécie de fauno em uma área enevoada e
 mística que não queremos banir de nossas vidas.
É o verdadeiro Avalon, aquela terra da lenda,
 onde essas histórias vivem para sempre mágicas dentro de nós.''
(Aline Mirili Mac Cord)


Escapo para Avalon desde cedo... Talvez, desde sempre. E ainda que queira fechar a porta, não é possível, mas se fosse, não seria Avalon, seria? Avalon, em verdade, mora em mim. Mas às vezes, receio cruzar as brumas e me perder no caminho de volta, embora perder-se, neste caso, fosse a melhor parte da estória. 

Acho até que todo mundo tem uma dessas para desencantar, a tal história inacabada. Ou não. Mas talvez, só talvez, ser inacabada seja a grande qualidade oculta dessas histórias e o que as mantém tão vivas e mágicas.

Conheço gente que tirou a poeira e a névoa e fez o sonho virar realidade. Fico me perguntando como? Vire e mexe eu meto os pés pelas mãos, tropeço em meus próprios pés, derrubo suco de laranja na roupa e caio de boca na magia de Avalon. É ridículo, eu sei, mas a sorte dos ridículos é que ser ridícula é direito líquido e certo.

Aline diria que as histórias são inacabadas porque a gente escolhe que seja assim. No fundo [e concordo com ela], o que dá vida a esses seres mitológicos é a nossa insistência em mantê-los vivos [bem vivos] em nós.

O risco é que em Avalon o que parece ser realidade é muito pouco confiável. Fruto da imaginação e do desejo, ancorado num mar de expectativas e sonhos. A insistência em mater o reino da fantasia vivo, termina por impedir a experiência de histórias reais, com pessoas reais. Impede ainda ver aqueles seres mágicos, despidos de [nossas] fantasias.

Mas ao tentar retomar a história que sobrevera naquele país de fantasia, pode acontecer de finalmente enxergar o que foi, percebendo que 'o que seria' é apenas fruto da própria imaginação. O que é, finalmente se revela, e em nada se assemelha às terras de Avalon. Já não há brumas, fadas, bruxas e cavaleiros errantes. Há apenas o que É.

Assim, abre-se a possibilidade de tomar o trem só de ida para o presente, fechar as portas de Avalon, seguir sem olhar para trás. Surge a possibilidade de agradecer pelas experiências e pelo aprendizado proporcionados por Avalon.

Há alguém com um terreno em Avalon que queira compartilhar sua experiência?



terça-feira, 8 de maio de 2012

Comidas de Rua - Brasília

É assim há muito tempo. Fico com esse desejo nada oculto de escrever um guia de lugarzinhos charmosos, gostosos e escondidinhos em Brasília [e nas cidades por onde ando]. Acaba que os dias passam, os meses passam e eu fico com um post aqui outro acolá sobre o tema.

Os da cidade em que vivo atendem pela tag 'Dicas de Brasília' e não se restringem a comidinhas de rua, bares, restaurantes, mas também contemplam diversos tipos de serviços [em geral bem ruins na capital federal], além de passeios.





Os das viagens que faço recebem a alcunha 'Diário de Bordo', em geral acompanhados de um subtítulo com o nome da cidade. Algumas delas, seja pela frequencia com que visito, seja pela imensidade de histórias para contar, recebem versões I, II, III and so on...



E não é que esses dias estava almoçando no bandejão do meu trabalho [carinhosamente chamado de Cólera] com os coleguinhas de repartição quando revelei esse meu lado ''guia-de-todas-as-coisas-menos-óbvias-das-cidades'''?! Meninos ficaram alvoroçados com as sugestões. Quase todos vindos de outras paragens, jovens e em busca de referências que possam lembrar ou [des]lembrar suas cidades nativas.

Foi aí que me dei conta que havia abandonado, não o desejo, mas o hábito de registrar essas experiências [gastronômicas ou não] vividas nas pistas de Brasília. E assim, resolvi retomar a idéia. Sai caro, é verdade, por que aqui não recebo 'jabá' para falar de um-seu-ninguém. Ao contrário, prezo muito a autononia de opinião.

E, decidida a retormar, pergunto aos amigos/as que acompanham o blog: Por onde começar? Deveria ser a partir de referências geográficas, especialidades, gênero??

Enquanto não recebo sugestões e não tomo a decisão, vou ficando por aqui, morta de vontade de comer um empanado de queijo mussarela frito, perfumado com salsinha e acompanhado de chopp gelado.



Entra por uma tesourinha* e sai pela outra, quem quiser que escreva outra.

Para entender melhor a cidade: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=1575 Pesquisa de Flávia de Oliveira Maia Pires, que  é mestre em linguística, com graduação em Letras – Português do Brasil como Segunda Língua, ambos pela Universidade de Brasília.
Contato: Flávia de Oliveira Maia Pires pelo e-mail fmaiap@gmail.com.



O Sorriso





O elogio sincero, o sorriso, os afetos fazem a vida ser cada dia melhor!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pão e Poesia

''O poeta é um fingidor,
finge tão completamente ,
que chega a fingir que é dor,
a dor que deveras sente''.
(F.Pessoa)



E nesse fingir não intencional reside a alma de toda [minha] poesia, do pôr-do-sol, das alegrias. Lá, na palavra dita às avessas, e na escrita no verso [qual verso?] mora a poesia. Muitas vezes disse, não sou poeta, embora várias vezes finja. E fingindo, quase me convenço desse ser poeta.

mas expresso. Sim, não poderiam me acusar de não expressar. Digo nos silêncios, nas pausas ou no exagero dos gestos, na fala acelerada ou no texto afobado. De súbito surge para expressar e se não surge os olhos [indiscreto olhar] delatam o sentimento [ou a ausência].

Revelo, o sentimento fingido, a dor inventada, logo desvelada. Brado o exagerado, me desmilinguo, desmaio os sonhos no amanhecer encarnado.

Mas como (...) quando a dúvida assola a alma em meio ao poema? Expor, essa necessidade quase compulsiva, acontece. E as probabilidades, viram possibilidades e arriscam. Será?

Interrogações invadem o texto e escancaram os olhos, enquanto a boca, muda [traidora] mantém-se silente.

Dúvidas vem, dúvidas vão. É o medo a espreitar o verso e a me virar do avesso.

Mas o amor não deixa dúvidas, só de finta finca o pé a roçar no assoalho, enquanto a cabeça tomba levemente à esquerda e quando o canto da boca suave se suspende e o olhar desmaia, numa expressão de afetos envergonhados e desejos [desa]vergonhados... Só de fingimento [será?].