segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Laços (Ties)



É preciso dizer algo mais?

É preciso dizer mais?

domingo, 28 de novembro de 2010

A Menina e a Concha

Querida R.,

Sinto saudades de algo indizível que tive e perdi. Sinto saudades do afeto, sinto saudades de ti.

Sinto-me feliz por lê-la realizada e feliz com as perspectivas de voltar a terra natal. Sua carta foi um afago necessário.

Por aqui a vida segue seu curso, com obstáculos transpostos a cada instante pelo frescor das águas passageiras. Prefiro assim acreditar, por isso me chamas sonhadora.

Dia desses caminhava pela praia fim de tarde, predileta hora do dia, quando avistei uma Menina. Ela se encantara com uma grande Concha, que encalhara na areia. Olhava-a fascinada.

Sentei-me para observar a cena, enquanto a brisa passava descompromissada pelos cabelos - meus e da menina - sem rumo certo.

A curiosidade fluía na ponta dos dedos da criança, enquanto seus olhinhos brilhantes, sorrateiros procuravam a voz da vigilância e a concha reluzia ante os raios de sol que teimavam em permanecer aquela hora.

Vendo-se livre e sentindo-se fascinada, estendeu a mãozinha afoita em direção à concha, que lhe retribuiu o afago, abrindo uma breve fenda macia em sua casca rija. Imediatamente, não apenas sorria a eMenina com os olhos e mãos, como com todo o rosto infantil. Iluminara-se e pulava e dançava rodopiando na areia a conquista.

Investiu mais uma vez em direção à Concha, que lhe sorriu um sorriso de concha, macio e desajeitado, mais amplo e afetuoso que antes. A garotinha exultava e queria mais e mais. Aprofundavam - a Menina e a Concha - o afeto e a confiança.

A Concha, no entanto, por sua própria natureza, tinha limites. Não era possível abrir-se mais, por mais que tentasse. Mas a criança, por sua própria condição, não compreendeu. E as crianças podem ser cruéias às vezes: queimam rabo de gato, colocam sal em lesmas, matam formigas.

A Menina, como criança que era, não entendeu os limites da Concha e quis abrir-lhe ainda mais, quis morar dentro dela.  As mãozinhas nervosas, então, deixaram por um instante a delicadeza de que necessita a Concha. A garota insiste, tenta, quer abrí-la a todo custo. Busca colher, pazinha, faca, tira da sacola mágica um machado, um serrote, usa todas as ferramentas disponíveis até que encontra bem no fundo do saco algo que lhe poderia ajudar a abrir a Concha.

Saca, rápida, o fórceps com que viola a Concha, cruel como apenas as crianças feridas podem ser, revela toda a fragilidade da Concha. Esta, constrangida por ver-se assim exposta, (en)cerra-se em sua vergonha e dor para não mais se abrir.

A Menina inconsolável grita e esperneia, faz birra, sentindo-se abandonada, até que exausta dá-se conta da dor que causara à Concha. Senta-se na areia desolada, balança seu corpinho para frente e para trás em busca de consolo, enquanto de longe tudo registro. Percebo seu olhar distante, e lágrimas que teimam em lavar o rostinho triste: Perdera a Concha de seus sonhos infantis.

O sol já se deitava quando me perguntei: 'teria eu sido uma criança obstinada?' Naquele momento, querida amiga, uma nuvem encobre o pouco de sol que ainda restava, apagando o meu dia antes da hora.

Sua amiga sempre,

Anita Lopes

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Caio ou Seja Lá Quem Você For

Caio (ainda te chamarei assim?),

Emudeci, enquanto meu corpo inteiro tremia com o sangue gelado correndo lento nas veias, ao ler sua traição. Ainda agora sinto-me lenta e a língua morta, repousa dentro da boca seca. Quem é esse homem com quem me correspondi todo esse tempo, afinal? Quem é esse com quem compartilhei os meus melhores sentimentos? Quem sou eu que me permiti viver tal mentira?

Você diz que por vezes me sentiu testá-lo. Eu não o testei, por que mesmo depois da catatonia que me causou a  confissão anterior, eu queria acreditar em você. Por isso nada comentei. Sua tentativa de me livrar do homem que não me merece, foi frustrada, e você sabe. Por que eu queria acreditar que fora amada. Meus olhos brilhavam só em pensar nele. Eu queria inventar um ego frágil para justificar suas (dele?) escapadas sorrateiras. Tentava dizer a mim mesma 'Caio se sente só, não dá conta de estar só, por isso seduz'. Caio precisa ser amado, admirado, para aninhar a criança ferida que mora em seu peito, e preencher seu vazio'. 

Justificava, enquanto a dor dilacerava meu peito. Tentava ser o lado forte da relação, segurar-lhe a mão, mesmo à distância. Depois daquela traição - a outra - quando despido diante de mim Caio afirmou o reconhecimento de sua fragilidade e a decisão de procurar ajuda, meu coração - já espancado - se encheu de esperança. Por isso, não comentei a confissão que fizestes em nome dele. Àquela altura já não me importava, ele admitira que precisava de ajuda. Ele me pedira para segurar sua mão e caminhar a seu lado - mesmo à distância - para modificar aquelas condutas que vinha repetindo e que causavam tanta dor e desacerto na vida dele. E eu acreditei, e me dispus, e me despi da dor para estar com ele. 

Valeu a tentativa, Caio (ou seja lá quem você for). Você, que tudo acompanhou, percebeu mais que eu o engano em que me envolvera. O amor cegava minhas escolhas. A entrega a Caio me afastou de mim inexoravelmente, fui diminuindo e diminuindo até tornar-me esse trapinho, que ora estou. Passará, Caio?  Sim, passará, ainda que tenha vaga lembrança de mim, sei que encolhida num cantinho do banheiro, atrás da porta, está  - cansada de apanhar - uma menina, uma mulher que pode ser - e foi - uma companheira como poucas. 

Você diz que não me traiu de fato, ao tempo em que afirma a traição. Você mentiu, enganou, foi outro. Sinto-me traída, embora você (?) não sinta que traiu. Quando diz em sua derradeira carta que não revelou por que não era o momento de eu saber a verdade, sinto raiva. Não há momento certo para a honestidade numa relação, qualquer que seja, Caio(?). 

Reconheço seu esforço amigo em desmitificar aquele Caio que me fazia brilhar os olhos. Torná-lo mais real que o rei, mas ainda assim não me afastou da fantasia que criei para ele: o homem perfeito para mim. Agradeço. 

Entre eu e você nunca houve de fato o tal pacto mencionado em sua mensagem. Afinal, quem é você nessa história, se não um homem que tomou o lugar dele nas cartas para me fazer ouvida. Não posso me queixar de não ter sido ouvida, lida, correspondida por você. Então, me pergunto: 'Quem é o verdadeiro Caio Marques? Ele ou você? 

Ele não é Caio Marques, abandonou a identidade que criamos - eu e ele - para ser quem é. Um homem grande com menino ferido dentro do peito, que não quer ver o guri por medo da dor. E quanto mais esconde o menino, mais a ferida infecciona, espalhando purulência e dor. A dor que ora trago comigo. 

Mas se quer saber, te prefiro Caio Marques, embora chamar esse nome me remeta a tristeza, mais que alegria por ora. Foi você que me fez companhia, afinal, todos esses anos em que me relacionei com ele - me relacionei com ele? - me leu e segurou minha mão, mesmo à distância. Seja Caio Marques, então, se é seu desejo sê-lo, mas me perdoe um pouco a cada dia, por expurgar a dor que ainda sinto pela perda de todos os castelos de areia construídos com aquele que chamei Caio Marques. 

Não te riscarei. Sigamos traçando nossos mapas por cartas. Sigamos, sigamos, a vida segue.


Sua sempre,

Anita Lopes

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Alberto Tibaji: Querida Anita

Alberto Tibaji: Querida Anita: "Confesso, Anita.Sua última carta me desarrumou. Algo me dizia que você desconfiava da minha traição. Confesso.Tenho roubado incessantemente ..."

domingo, 21 de novembro de 2010

Assim é...

às vezes, por mais que se queira, não é possível esquecer a sensação de dolorosa surpresa que uma despretenciosa leviandade nos causa. É a dor de ser traída {em seu sentido mais amplo[intimidade (o que não necessariamente - ou sumariamente - envolve conjunção carnal) e cumplicidade], em seu sentido mais cruel}.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Fórceps

Sente o tórax ser aberto a fórceps
Ouve o estalar das costelas
exposta em praça pública, 
Dor, assoreando o espírito.

Desce devagar as escadas do inferno
Sente o couro arder
Cai a pele
Nua, em carne viva

Queima na fogueira
Bruxa solta
grito encarcerado na garganta rouca.

Sente(se) exausta: último degrau
Um Dragão a espreitar o tremor
Olhos distantes miram a paisagem árida

Debruça [se]
Agarra [se] aos joelhos
Finalmente...

Uma lágrima rola
Chora

(In Caderno de Costuras, Maria Cláudia Cabral)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Nostalgia

foto:Maria Cláudia Cabral




Nostalgia não é uma palavra linda?

Nostalgia é o sentimento que chega nos fins de tarde, imediatamente após o ocaso. Naqueles cinco segundos dos últimos raios de sol. É intraduzível.

Com ela - a nostalgia - vem um profundo suspiro e um olhar viajante que parte sem rumo.

Um dia alguém a definiu magistralmente como "lembrança do que foi; esperança no que há de ser"


Debruço-me sobre as lembranças do que não vivi e sinto nostalgia.









Respeite a autoria. Se for citar, dê crédito a autora.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Blog da Maria: Festa de Aniversário é Sagrada

Blog da Maria: Festa de Aniversário é Sagrada: "Há dois anos atrás fui convidada para a festa de aniversário de uma amiga querida. Ela quis arrasar, contratou um salão enorme e fez uma fes..."

Festa de Aniversário é Sagrada

Há dois anos atrás fui convidada para a festa de aniversário de uma amiga querida. Ela quis arrasar, contratou um salão enorme e fez uma festa daquelas 'super', para muita gente. Naquela noite saí do trabalho muito tarde, depois de uma semana exaustiva, mas ainda assim pensando no que iria usar para ir ao evento. Não consegui. O cansaço foi maior e adormeci. No dia seguinte, ouvindo as estórias deliciosas sobre a festa, pensei: 'Que bom que foi tudo isso, assim ela não deve ter sentido minha falta'. Ledo engano, ficou magoada: não fui ao aniversário de 50 anos dela. 



Aprendi com minha amiga Roberta que festa de aniversário é sagrada. E é, cada dia estou mais convencida. Não importa se o aniversariante convidou 6 ou 7 amigos/as intímos/as ou se é uma balada para mais de 50 pessoas. Se te convidou, acredite, sua presença é importante. 




Para quem organiza uma festa de aniversário, cada convidado é significante. E até que os primeiros cheguem, há sempre o frio na barriga, o medo escondido no fundo do baú de que apareça ninguém. Pode parecer projeção minha - e há grande chance de ser - mas conheço 'n' pessoas que já me confessaram esse medo nem tão secreto. 





Por essa razão, hoje em dia, só furo festa de aniversário por motivos muito sérios. Sinto-me honrada – literalmente - por ser convidada a comemorar um aniversário. Obrigada Marcelo, obrigada Thaís por me incluírem nesse seleto grupo de convidados. 











Respeite a autoria. Se for citar, dê créditos.