sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Fragmentos [1]

hoje acordei
algo havia quebrado
o estilhaçar tomou todos os cantos
da casa
[não foi prato, nem vidraça]
Tal qual Travolta
deslizo o olhar da esquerda para a direita
vice versa e o contrário
Não sei precisar
o que quebrou [?]
mas sei!
algo partiu
[Fragmentos - Maria Cláudia Cabral - EM CONSTRUÇÃO]

domingo, 4 de outubro de 2015

Carta sobre a Casa Amarela

Querido Caio,

Algo novo e fresco chega aos poucos. Ainda não sei de quê se trata, nem aflige saber. Estou naqueles dias que importa sentir. Saber aqui não interessa. 

É como se entrasse em uma casa pela primeira vez. Aquela casa amarela que fica na mesma rua em que moro. A que olho de longe todos os dias quando saio e quando volto. E que às vezes não olho, mas sinto perto. 

É como se passasse pela rua, a mesma rua de todos os dias e a porta estivesse entreaberta. Posso ver a entrada e a sala de estar. Sinto-me convidada a espio e o que vejo é uma saleta clara, com poucos adornos e móveis precisos como as palavras em seu muro.

Encho-me de coragem e olho. De súbito me percebo na sala de estar. A curiosidade e o encantamento quase infantis são maiores que a cerimônia. Revela-se aos poucos um salão amplo, com um piso brilhante, que reflete os pés [e pernas] que ali se sustentam. E ainda bem impressionada com o frescor e a claridade que preenchem o ambiente, antevejo umas tantas outras portas - fechadas - umas tantas janelas abertas ou entreabertas e vou me encantando ainda mais com o lugar. Há um suave odor agridoce e envolvente.

Daí… de uma dessas portas entreabertas, através de uma fresca bem estreita, posso ver um fio de prata a reluzir. Surpreendo-me! E sorrio um sorriso discreto e me sinto estranhamente acolhida. Saber que há um fio de prata por detrás daquela porta me faz sentir um tanto íntima. Ainda que timidamente.

E tu, Caio, como te sentes?

Sempre tua,

Anita

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Menina e o Gato - Poema


foto: Maria Cláudia Cabral

A Menina descobre o mundo
Infinito espaço da sala de estar

Vê o gato.
Encanta-se por seu movimento manso
Fica intrigada
Ansiosa por tocá-lo, assusta-se
Ao assustar-se, o afasta

O gato a olha,
intrigado
Vira-se e segue seu caminho.


A Menina enamorada diz:

''gato que me fitas com olhos de vida, que tens lá no fundo?''*




*Álvaro de Campos, Obra Poética de Fernando Pessoa

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Sobre Nós - os Nós


Di Cavalcanti. Mulher deitada e cachorro. 1954. Óleo sobre tela. Acervo Itaú.



Sobre o que significa relacionamento ou relacionar-se com os outros no novo século. Sobre como as pessoas têm visto seus pares. Sobre o espaço individual, sobre o sobrenatural... Sobre o olhar, sobre olhos que se tocam - essa indiscreta invasão.

Olhares.

Sobre pais e mães e filh@s e ti@s e sobrinh@s... Sobre maridos e esposas, sobre companheir@s e parceir@s, sobre amantes, amores, amigo@s. Sobre todos nós.

Os nós.

Sobre como o eu cresce e o tu diminui, sobre como os nós se agravam e gravam as relações com marcas inolvidáveis. Sobre afastamento e aproximação. Sobre como o meu é maior que o seu, que é maior que o nosso, que é muito maior que o dos outr@s, próximos ou distantes. Sobre o contrário.

Crianças.

Sobre como as tardes arrefecem diante das horas que passam, dando lugar à escuridão da noite - queiramos ou não. Sobre como ser diferente da massa pode causar burburinho.

Deus-nos-acuda!

Sobre o afeto, atenção e amizade. Sobre interesse, bajulação e carência e os grandes olhos dos moradores da Matrix. Sobre a ilusão da vida. Sobre perspectivas. Sobre borboletas que voam no jardim, sobre o paraíso e os sonhos. Sobre imaginar um mundo melhor e mais justo. Sobre um lugar onde não hajam lacunas no meio do caminho. Sobre reticências e páginas em branco. Sobre significados. Sobre ter o que dizer e o silêncio. Sobre sentimentos e sen-tidos.

Caminhos

Sobre o querer e o desejar. Sobre Schoppenhauer. Sobre Freud. Sobre Jung. Sobre Caetano.
Sobre razão e sensibilidade - Austen - sobre pensar e agir. Sobre o impulso e o pulso. Sobre a vida, a morte. Sobre escolhas.

Desígnios

Sobre perguntas silenciosas, sentimentos ocultos. Sobre sonhos, desejos, impulsos, caminhos. Sobre a liberdade.

Escolhas.