Mostrando postagens com marcador Mães Pela Igualdade. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mães Pela Igualdade. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 15 de maio de 2017

10 Coisas que Diria a uma Jovem Grávida

Carta à Jovem Gestante

São muitos os caminhos que levam à concepção. Apenas um conduz à maternidade. Seja como for, por uma fração de segundos houve uma força tão irresistível entre um homem e uma mulher, que gerou uma fusão atômica. E desta fusão de células: A fecundação. 

Naquele momento, o milagre da multiplicação das células logo faz do encontro fortuito ou da maior expressão de afeto, Vida. 

E a força da vida é tão arrebatadora que podem surgir dúvidas. Será que sou capaz de criar uma criança? Terei condições? Ter ou não ter? Como será? Que faço com meus planos, minha carreira, meus estudos? Porque agora? 

Mesmo com dúvidas, a vida não espera e as células seguem se multiplicando. Enjoos, tontura, azia, sono... muito sono. Vida que cresce dentro de outra vida.

Serei um monstro se não quiser ter? Se tiver, sou uma irresponsável? Se desistir, sou criminosa? Vou ser presa? Como vou cuidar do bebê?

A barriga cresce com as dúvidas. O sonho materno alimentado por ocitocina e padrões sociais. Ter ou não ter?

O que eu posso te dizer?

Fiz minha escolha aos 20 anos. Faltavam 11 matérias para eu me formar. Tinha dúvidas sobre o relacionamento. Não havia certeza alguma. Sempre quis ser mãe, mas precisava ser naquele momento?  
Escolhi ter.

Não foi fácil, não é simples. 
Foi maravilhoso e assustador quase sempre. Abri mão de planos, de sonhos, mudei de rumo completamente. Ela me pariu mãe, no momento em que eu a pari. Parir é tornar-se mãe. Nasci mãe com ela, ela nasceu de mim. 

Ela é o fruto da fusão de dois átomos. É a síntese de nós dois. Nela estamos unidos para sempre. Nela - e em seu irmão - seremos para sempre um só corpo, uma só carne. E nada, nem ninguém poderá nos separar. A força do encontro, fortuito ou planejado, permanece vivo nos filhos. Nesse sentido, toda união que gera filhos, nascidos vivos [ou não], é para sempre.

Os desafios são enormes, assim como as alegrias. É tão lindo, quanto difícil ser mãe. As dúvidas não cessam se desisto de ter ou se escolho ter. Dúvidas são companheiros eternos desde a fecundação. 

Filhos não vêm com manual. E um é sempre, necessariamente, diferente do outro, ainda que sejam gêmeos univitelinos. O aprendizado nunca termina, mesmo quando são adultos. São nossos mestres desde a barriga. E o aprendizado é desafiador. 
O choro de um bebê pode ser desesperador quando não conseguimos perceber o que eles querem. E assim vamos pela vida aperfeiçoando a observação nas micro expressões faciais dos filhos. Errando muito, acertando às vezes sem qualquer garantia que vai dar certo.  E um dia a gente acorda e o bebê está com 24 anos: universidade, namorado(a), própria casa e fazendo chá para aquecer, te ensinando – sempre ensinando – sobre as ervas do jardim. Assim é.

O aprendizado quase nunca foi fácil, medo, insegurança, raiva, desespero, extase, alegria, tudo ao mesmo tempo. Valeu a pena, é o que posso dizer. 

Pequenos conselhos, caso escolha seguir o meu caminho:

01. Nunca estamos prontas, essa é a maior certeza que tenho;
02. Relaxe: o mundo não é estéril e o contato com micróbios desenvolve anticorpos e fortalece o sistema imunológico;
03. Não implique: Avós – dos dois lados – são o melhor presente que podemos dar aos filhos;
04. Desencane: Haja o que houver, a culpa sempre será sua diante do analista. Então: dê limites, mas também dê colo;
05. Lembre-se: ‘’Porque não’’, não é resposta;
06. Ocupe seu lugar: Você é a mãe, seja de que jeito que for, sempre será a mãe;
07. Atenção: Não existe criança sem pai. Seja de que jeito for, ele sempre será o pai;
08.  Não vai ser fácil, mas é recompensador;
09. Os pais – mãe e pai – dão, os filhos recebem. Sempre! E tudo o que você fizer por ele/a, tenha certeza, é o seu melhor naquele momento; e
10. Haja o que houver, seja qual for sua decisão sobre o bebê, você já é mãe e sempre será! 




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Hoje vou de... Verdades sobre Silas Malafaia

Silas Malafaia e a Teologia da Estupidez
Enviado por luisnassif, seg, 04/02/2013 - 21:53
Por Alyson Freire
Da Carta Potiguar
Silas Malafaia e a Teologia da Estupidez: Homossexuais e Bandidos?

Alyson Freire

Não há surpresas ou novidades quando o pastor Silas Malafaia fala. Cada vez em que é entrevistado ou empresta sua voz para algum programa de natureza política ou religiosa, assistimos e ouvimos o mesmo desfile de preconceitos, inverdades e sofismas. Bem sabemos que os disparates e infâmias habituais de sua retórica convicta e fundamentalista enojam e irritam. Entretanto, convém não perder a capacidade, e a paciência, de nos chocarmos e nem “acomodar com o que incomoda”, como diz a letra de uma bela canção.

E por que não devemos nos calar ou tão simplesmente dar de ombros, ignorar a ignorância? Porque o silêncio nos torna cúmplices da ignorância. Aliás, se é verdadeiro que em certas circunstâncias o silêncio pode ser mais eloquente do que a palavra, em outras o silêncio é o adubo fértil para o crescimento da ignorância e da barbárie. Por isso, cabe não calar. Falar a verdade ao poder e criticar os preconceitos é combater incansavelmente contra o silêncio que naturaliza ambos.
Voltemos, pois, a Malafaia, este paladino e missionário do ódio. Coube a jornalista Marília Gabriela a hercúlea tarefa de suportar o discurso de Malafaia, entrevistando-o em seu programa “De Frente com Gabi”. E se a jornalista por vezes se exaltou com as afirmações do pastor ou por este a atropelá-la em suas perguntas e raciocínios, penso que ela aguentou em nome de um compromisso com a verdade e com a sensatez; afinal, a mentira para ser desmascarada deve ser antes exposta.

O que disse o pastor desta vez? Num exemplo cristalino de homofobia cordial, disse que amava os homossexuais da mesma forma como ama os bandidos: “Eu amo os homossexuais como amo os bandidos”. Este amor misericordioso que Malafaia afirma cultivar não passa de um ardil ideológico que finge aceitar e acolher mas apenas para tentar “corrigir”, “reorientar”, “ajustar”. Em outras palavras, domesticar e “curar” a homossexualidade segundo os “meus valores” e “minha verdade”. Não creio que os homossexuais precisem deste amor denegador da liberdade e da autonomia individual. O amor de Malafaia é um amor tutelar, de correção moral e interesseiro.

A correlação valorativa entre “homossexuais” e “bandidos” é odiosa. Ela objetiva reforçar o vínculo entre homossexualidade e desvio, sustentando, sorrateiramente, a ideia de que a homossexualidade assim como o fenômeno da delinquência atenta e prejudica a sociedade. Em outros termos, a analogia diz o seguinte: os bandidos existem, são um fato social, mas precisamos mudá-los, puni-los e “ressocializá-los” para que não lesem a sociedade. Sem afirmar diretamente, Malafaia pensa o mesmo sobre os homossexuais; eles são um fato social, existem, mas precisamos corrigi-los para que não lesem à família, os bons costumes, etc..

A piedade e a compreensão amorosa do pastor são, com efeito, estratégias retóricas para a normalização pastoral e sexual. Nesse ponto, Malafaia se serve abundantemente de preconceitos e concepções de gênero, família e sexualidade que não se sustentam, nem do ponto de vista do conhecimento científico nem socialmente – haja vista todas as transformações culturais, sociais e jurídicas das últimas décadas.

Tentando atenuar os aspectos mais, digamos, etnocêntricos e interessados de suas opiniões, o pastor recorre a ciência em vez da religião pura e simplesmente; refugia-se em argumentos pseudo-científicos e pesquisas que nunca cita a fonte, Malafaia busca, com isso, preencher de autoridade, poder de verdade e neutralidade os seus preconceitos e sua intolerância. À bem da verdade, Malafaia achincalha a ciência – mais uma razão para não nos calarmos.

Quando prenuncia, num claro julgamento moral e especulativo, que a formação de famílias homoparentais ou a criação de filhos por casais homossexuais terá consequências sociais e psicológicas nefastas e nocivas, Malafaia esquece que, segundo Freud, a família independentemente das orientações sexuais do casal é a origem e o palco da maior parte dos problemas emocionais e psíquicos por conta dos conflitos subjetivos que envolvem a constituição do eu nas relações e identificações familiares. Aliás, a grande maioria das psicoses estudadas por Freud era produto das dinâmicas emocionais, repressivas e traumáticas da família vitoriana.

O artigo “Desconstruindo preconceitos sobre a homoparentalidade” dos psicólogos Jorge Gato e Anne Maria Fontaine cita diversos estudos psiquiátricos, psicológicos, sociológicos e antropológicos que desmentem as pré-noções estigmatizantes de que a criança em famílias homoparentais sofreria danos em seu desenvolvimento psicológico. Todos os estudos mencionados pelos autores foram unânimes na constatação da não-existência de uma excepcionalidade ou de diferenças substanciais que tornem a homoparentalidade especialmente danosa para o desenvolvimento emocional, cognitivo e sexual da criança em comparação às famílias heteroparentais. Inclusive, em algumas casos, de mães lésbicas, por exemplo, estudiosos verificaram um ambiente familiar no qual as crianças sentiam-se mais a vontade, livres e confiantes em discutir temáticas de caráter emocional e sexual, ocasionando um efeito positivo no desempenho escolar.

Em contrapartida, as dificuldades das crianças criadas em famílias homoparentais aparecem exatamente no plano das relações sociais, ou seja, obstáculos na aceitação e reconhecimento social por conta de contextos sociais discriminatórios como a escola. Mas, ainda assim, os estudos mostraram variações importantes nesse ponto a depender do país e região.

O que podemos concluir com os resultados das pesquisas científicas é que os problemas que estas crianças enfrentarão no futuro se devem precisamente de pessoas como Malafaia. Quer dizer, do preconceito, da intolerância e da ignorância que Malafaia pratica, semeia e propaga.

Portanto, o que atrapalha e lese o desenvolvimento psicológico e social é o preconceito e a intolerância, os quais Malafaia transforma em bandeira. As religiões se tornam nocivas à humanidade quando são eivadas de ódio e ignorância por profetas fundamentalistas e intolerantes que alimentam incompreensões.

Por mais que canse, devemos continuar a combater e criticar os absurdos odiosos do pastor Malafaia, pois ele, por sua retórica e status, goza de um poder de interferência na vida social capaz de favorecer violências simbólicas e físicas contra grupos e minorias sexuais que já tem de enfrentar práticas homofóbicas em seu cotidiano. Se não quisermos cair presas da retórica do preconceito e sua violência simbólica, devemos sempre exercitar a crítica pública. É com ela que podemos cultivar uma cultura de direitos humanos e de reconhecimento capaz de transformar uma esfera pública refratária ao debate racional dos direitos e das violências sofridas por minorias e grupos vulneráveis em uma esfera pública refratária a estupidez, a barbárie e ao preconceito. Para essa transformação ocorrer, então, é preciso jamais se cansar de se contrapor ao preconceito.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Eu preciso lhe dizer... (trailer)



Com a participação das Mães pela Igualdade, documentário idealizado pelo psicólogo Ricardo de Paula e realizado pelo diretor Douro Moura.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Hoje vou de...Valek


Nada contra

Não tenho nada contra homofóbicos. Eu, inclusive, tenho muitos amigos que são. O problema é que tem uns homofóbicos escandalosos, que não conseguem ser discretos. Ficam dando pinta que não gostam de gay, sabe? Tudo bem ser uma pessoa rancorosa e preconceituosa, mas não em público. Entre quatro paredes e bem longe de mim, tudo bem. Nada contra mesmo.
É impressionante o quanto eles se acham no direito de ficar com pouca vergonha na frente de todo mundo. Outro dia ouvi um cara dizer, em plena luz do dia e para quem quisesse ouvir, que “gay é abusado, mexe com homem na rua mais do que homem mexe com mulher”. Acredita? Mas já vi e ouvi coisas piores. “Tenho nojo de homem se pegando” ou “essas menininhas que se beijam não são bissexuais coisa nenhuma, só querem chamar atenção dos homens” ou ainda “te sento a vara, moleque baitola”, e por aí vai. E se alguém critica, logo apelam para “ah, foi só uma piada” ou “é a minha liberdade de expressão” ou ainda “está na Bíblia”. O horror, o horror.
Ser homofóbico é uma opção, mas ninguém tem a obrigação de aceitar, né. É muito constrangedor ver alguém olhando feio para duas pessoas do mesmo sexo se beijando. Como eu vou explicar para os meus filhos que existe gente intolerante? O pior é que nem na escola as crianças estão a salvo. Querem ensinar nossos filhos a serem homofóbicos, imagina! Quando você percebe, já é tarde demais: uma amiga minha foi chamada pela diretora porque o filho foi pego espancando um colega no intervalo. Tudo porque o rapaz era gay. Minha amiga, coitada, não aguentou a decepção de ter um filho homofóbico. Ela diz que é só uma fase, que vai passar. Por garantia, levou o menino no psicólogo.

Acredite, homofobia tem cura. Soube de uns casos de conversão que parecem até milagre. Em um dia, a pessoa estava lá, odiando gays, militando contra o direito dos homossexuais ao casamento civil, fazendo marcha pela família e tudo o mais. Mas com um pouquinho de empatia e bom senso, eles começaram a ver que não tinham nada que se meter com a sexualidade dos outros. E como o respeito é todo-poderoso e misericordioso, os ex-homofóbicos viram que os gays eram boas pessoas e também mereciam os mesmos direitos. Hoje dão testemunho de tolerância.

Murillo Chibana
Agora, tão preocupante quanto homofóbicos exibidos e sem-vergonha são aqueles que não se assumem. Aqueles que não saem do armário, que se fazem de pessoas normais e sem ódio no coração, mas que, no fundo, no fundo, também são fiscais de cu alheio. Pensa comigo: você sai com uma pessoa dessas, sem saber da opção de ignorância dela, e começam a pensar que você também é homofóbico, igual a ela. E todos sabemos que homofóbicos são abominações, ninguém quer ser confundido com um deles. Além disso, onde enfiar a cara quando eles resolverem se revelar e soltarem um “odeio viado” assim, do nada?
Mas não me leve a mal. Não tenho nada contra os homofóbicos, apenas não concordo com a homofobia. Essa doença quase sempre vem acompanhada de outros preconceitos, como o machismo e o racismo. É um caminho sem volta. Fico triste de ver tantos jovens se perdendo nesse mundão de ódio gratuito. É por essas e outras que prefiro ter um filho gay a um filho homofóbico. Ah, você quer saber se eu vou aceitar e amar um filho que virar homofóbico? Como alguém já disse por aí, eles não vão correr esse risco; vão ser muito bem educados.

Grande descoberta, agradeço a `Paulo Cequinel' do O Ornitorrinco

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Nota pública - ALL OUT 
SOBRE O PLC 122

O Brasil ocupa importante espaço na arena internacional por sua relevância econômica e política, além das políticas sociais recentemente desenvolvidas. Por meio da ratificação de diversos tratados internacionais para a proteção dos direitos humanos de todos e todas, inclusive LGBTs, e pela criação de variadas políticas públicas, o país deu passos importantes em relação  à promoção e proteção de garantias fundamentais, assim como no tema de direitos da população LGBT. 

No entanto, até o momento, algumas políticas públicas, como no caso das medidas necessárias e caras à populacão LGBT, ainda se encontram pendentes no que se refere a sua implementação. O que se observa é que todas as conquistas reais em termos de direitos civis igualitários para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil,se deram no âmbito do judiciário e do executivo, o que demonstra alguns avanços mas também enormes desafios.

Na próxima quinta-feira (8/12), a senadora Marta Suplicy irá apresentar para votação na Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Senado (CDH) um substitutivo ao PLC 122/2006. Apesar de ser uma pauta histórica do movimento LGBT brasileiro,  a ALL OUT CONSIDERA que a nova redação do PLC 122  não contempla a criminalização do discurso de ódio contra a população LGBT , um dos maiores “ ativadores de homofobia” no Brasil, tornando, portanto, a legislação proposta INSUFICIENTE.

Além disso, a inclusão do parágrafo III ao texto, sem acordo com o movimento LGBT nem com a Frente Parlamentar Mista LGBT no Congresso, simboliza o aceite tácito do Congresso aos discursos de ódio que estão na raiz da onda crescente de ataques homofóbicos e transfóbicos no país, seja por parte de líderes religiosos, seja de representantes de outros setores conservadores do Brasil. 

Reafirmamos que a All Out apóia o desenvolvimento de uma legislação que possibilite a punição de atentados graves contra a vida, a liberdade, a igualdade e a dignidade humana, e neste sentido, a inclusão da criminalizacao da homofobia é uma ação  justa e necessária. Desta forma, a All Out também aplaude os esforços do Estado brasileiro para que a homofobia seja discutida no país, inclusive no âmbito legislativo, mas não pode silenciar diante da omissão quanto a violência verbal, psicológica e moral, como faz o substitutivo ao PL 122. (inclusão da blogueira)

O BRASIL, INFELIZMENTE, É UM DOS PAíSES COM MAIORES NÚMEROS DE MORTES E DE VIOLÊNCIA em razão de orientação sexual e de identidade de gênero no mundo, portanto, ainda há muito que avançar. A All Out acredita que a discriminação homofóbica deve ser punida como as outras discriminações, com legislação que reconheça o peso e a relevância necessária à criminalização da homofobia no país.

Assinam esta carta


Equipe All Out

Graça Cabral, Maria Auxiliadora, Jiçara Martins, Maria Claudia Cabral, Angela Moyses, Eleonora Pereira (Mães pela Igualdade), Luís Arruda e Lilia Arruda.

Para saber mais sobre a All Out: www.allout.org/pt
Flavia Antunes: flavia@allout.org
Joseph Hannon: joseph@allout.org

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Filho ou Filha Homossexual: Que fazer?


Dagoberto Arnaut - não me canso de pronunciar este nome nas últimas horas -mostra-nos o que fazer, com honestidade, com coragem e principalmente com muito amor. Quer saber? Leia:





Meu nome é Dagoberto Arnaut. Sou pai de uma menina gay.

Eu não sei lhes dizer exatamente quando, mas houve um momento em que percebi: Minha filha é gay. Não houve qualquer acontecimento especial para me levar a essa conclusão. Nenhuma conversa. Nenhuma frase. Nada. Foi pura percepção paterna. Mensagem sutil fluindo por esse intrincado cordão de cumplicidade que une pais e filhos.
Muitas vezes eu e minha mulher falamos sobre isso: Nossa filha é gay. Algumas vezes com convicção, outras tantas com dúvida. Nossa filha é gay? E todas essas conversas terminavam sempre com a mesma conclusão: não temos o direito de perguntar. Vamos esperar o dia em que ela se sinta confiante o bastante para nos contar. Espontaneamente.

A vida sexual dos outros nunca me incomodou. Há muito tempo eu sei que a sexualidade humana se manifesta de várias formas. Tive muitos amigos gays ao longo da vida. Um deles foi quem me apresentou a essa mulher especial com quem estou casado há 36 anos. A possibilidade de minha filha ser gay não era um problema para mim.

A para que isso ficasse claro para ela, eu comecei a ficar cada vez mais atento. Sempre que alguém fazia um comentário homofóbico, ainda que fosse apenas uma brincadeira, eu fazia questão de deixar claro que a homossexualidade de quem quer que seja não me causava qualquer espanto e nenhuma rejeição. E assim foi, até que o dia da revelação chegou.

Era véspera de ano novo. Imediatamente antes de sair para comemorar com os amigos, minha filha nos chamou.

- Pai, Mãe. Sentem aqui. Tenho uma coisa para contar para vocês.

Sentamos os três.

- Estou namorando. Nunca estive tão feliz. Mas é com uma menina.

Eu pensei que estava preparado para esse momento, mas não estava. Não consegui dizer nada inteligente. E até hoje não sei que sentimento me paralisou mais: um medo devastador da homofobia que ela teria que enfrentar sem que eu pudesse fazer nada para protegê-la; ou o imenso orgulho de ser pai de uma menina tão honesta.

Sim. O gay que sai do armário é um forte. Preferiu ser honesto consigo mesmo e com a vida. Merece respeito. Mas no âmbito familiar respeito é pouco. Aqui é preciso aceitação, acolhimento, compreensão e manifestações explícitas de amor.
A orientação homossexual é tão humana quanto qualquer outra orientação sexual. Não é opção, não é conduta a ser corrigida. É vida. Vida verdadeira. Tão abençoada quanto todas as outras criações divinas.

Olho para a minha filha que saiu do armário e vejo que seu caráter ainda é o mesmo que eu ajudei a formar. A bondade em seu coração não diminuiu, ao contrário, ficou maior porque o sofrimento de sua própria aceitação a tornou mais capaz de compreender o sofrimento humano.

Olho de novo para
a minha filha que saiu do armário e vejo que a única mudança é que agora eu sei que ela é gay.

Posso compartilhar muito da vida com os meus filhos: ética, visão de mundo, religiosidade, conduta profissional, enfim, quase tudo o que importa. Mas não é possível compartilhar com uma filha gay a experiência de ser homossexual. Afinal, ela nasceu em um lar heterossexual. Se não posso superar essa impossibilidade, posso oferecer uma casa que seja um ninho de afeto, aonde ela venha se fortalecer sempre que estiver cansada do calvário de discriminações que terá que enfrentar.

Aos homofóbicos eu gostaria de lembrar que os gays não nascem de geração espontânea. Os gays têm pais. E filho é como um nervo exposto. O que dói no filho dói nos pais, talvez até com mais intensidade. Pensem nisso antes do próximo gesto de discriminação, antes do próximo deboche, antes da próxima agressão. O que estou reivindicando é apenas respeito.
Não estou pedindo que entendam a homossexualidade de nossos filhos, até porque eu também não entendo a sua homofobia.

Nesse mês de maio, o Brasil ficou um pouco mais humano, quando o STF reconheceu que uniões homoafetivas estáveis são também entidades familiares. Isso foi muito bom. Foi excelente. Mas direitos e conquistas de cidadania parra os homossexuais pertencem ao mundo da racionalidade. A aceitação da homossexualidade do outro é assunto do coração. Pertence ao universo do afeto.




Com a ajuda do MGRV –  eu e minha mulher gostaríamos de formar um Grupo de Pais de Homossexuais para compartilhar experiências, nos ajudarmos mutuamente, mas principalmente para, humildemente, ajudar àqueles pais que amam mas ainda não conseguem aceitar seus filhos gays.


Você  que é pai, você que é mãe de um filho gay, lésbica, travesti ou transexual. É a você que me dirijo nesse momento e convido para fazer parte do Grupo de Pais de Homossexuais de São João del-Rei. Nossos filhos não merecem o sofrimento da discriminação. Vamos ajudá-los. Vamos fortalecê-los para que enfrentem  com sabedoria a homofobia e o preconceito. E assim, quem sabe, veremos nossa amada São João del-Rei, tão acolhedora, uma cidade de todos e de todas, livre da discriminação e da intolerância.

Nossa cidade fica também mais humana quando a Câmara Municipal abraça a causa dos homossexuais e trabalha para instituir políticas públicas de proteção dos direitos humanos.
Agradeço o espaço que me foi concedido para essa fala. Desejo aos militantes do MGRV uma excelente jornada amanhã em Brasília.

Agora respire. Respire profundamente e reflita sobre o exemplo de amor incondicional logo ali acima.
Além da vitória no STF em maio, há poucos dias mais uma vitória da racionalidade. STJ, por 4 votos a 1, decidiu pelo casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Mas como bem disse, Dago, isso é racionalidade. Acolhimento e aceitação da diversidade e das diferenças é assunto do coração.

Respeite a autoria, mas se quiser, copie, divulgue, pulverize na rede. Quem sabe outra mães e pais não estão neste momento precisando da força de um exemplo como esse. Qualquer dúvida, entrem em contato: maes@allout.org
ou pelo link dos comentários.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Carta às Mães e Pais Brasileiros




Mães pela Igualdade *

''Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Pombas de luto ostentem gravatas beges no pescoço(...)''
(W.H.Auden)



Nós, Mães pela Igualdade, gostaríamos de pedir dois minutos de silêncio e atenção para refletirmos sobre o Brasil que queremos. Dois minutos para lembrar nossos filhos e filhas. Durante esses minutos, busquem em suas memórias o momento em que viram pela primeira vez o bebê tão esperado e desejado com amor por sua família. Os pequenos olhos, a boca, os pezinhos. Lembre-se daquele instante mágico em que, após meses de espera, a pequenina pessoa esteve em seus braços.



Lembram-se do balbuciar das primeiras palavras e dos primeiros passos? O primeiro dia na escola; as festas de aniversário, as noites mal dormidas quando adoeciam; o carinho com que prepararam os presentes na escola, no dia das mães ou no dia dos pais? Lembram da janelinha no sorriso banguela?



Mal nos damos conta e as nossas crianças crescem e passam a ter vida social própria: os piqueniques, os churrascos, tardes no shopping, as baladas, a faculdade ou a escola noturna. Jovens, lindos, sensíveis, solidários, cheios de vida e de alegria.



Agora imaginem que um dia, voltando para casa, seu filho ou filha é vítima de um ataque covarde na calçada, sem motivo nenhum além de ser quem é. Você pode ouvir seus gritos clamando ‘’Mãe, me ajuda!’’, mas aquelas pessoas não param de bater, chutar, pisar e escarnecer; outras pessoas passam ao lado e nada fazem. Sua criança grita por ajuda enquanto sua pele é rasgada, seus dentes arrebentados, seus olhos feridos, seus ossos quebrados até a morte, banhada em sangue, e você impotente do outro lado da rua, ou mesmo em outra cidade. Aquele rostinho de outrora, agora deformado pelas pancadas. Essa imagem não sai da nossa cabeça. O sentimento é de desespero, angústia e vazio absoluto.



Respirem. Não é fácil passar por isso, mas essa violência é fato, e acontece todos os dias em nosso país. Nossas filhas e filhos têm sido agredidos, torturados e mortos. Nossas ‘’crianças’’, tem sido humilhadas, discriminadas, ofendidas, xingadas nas ruas simplesmente porque têm orientação sexual ou identidade de gênero diferente da maioria. Não escolheram ser lésbicas, gays, transexuais, travestis ou bissexuais, não se trata de uma opção. Simplesmente são assim: pessoas corajosas, dignas e honradas que assumem quem são, não sabem ser de outra forma e não querem viver atrás de máscaras.



·         As palavras de Marlene Xavier, uma Mãe pela Igualdade, resume com precisão o resultado extremo da homofobia descontrolada no Brasil: "Quando perdemos um filho, nos tornamos eternamente mutiladas e a nossa imagem é o reflexo da dor e da saudade, que serão nossas eternas companheiras". Algumas de nós carregamos no peito essa cicatriz, por isso pedimos que cada um e cada uma de vocês que estão lendo esta carta se pergunte: “e se meu filho ou filha fosse gay, lésbica, travesti ou transexual? Compreenderiam então a insegurança em que nós, mães de homossexuais e pessoas trans, vivemos cada vez que nossos filhos e filhas saem às ruas, viajam, vão ao cinema ou à escola. E, se amam seus filhos como nós amamos os nossos, entenderão a dor de uma mãe que perdeu seu rebento para a homofobia.

* “Mães pela Igualdade” (www.allout.org/pt/maespelaigualdade) são um grupo de mães de todos os cantos do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes e mostrar ao país que a igualdade é um valor familiar. maes@allout.org

domingo, 12 de junho de 2011