terça-feira, 21 de julho de 2015

Oceanos



Les 3 âges de la femme, par Gustav Klimt



O oceano em mim 
águas em curvas e fendas 
à meia luz, à luz do dia 
Ondas vem e vão, 
balanço suave [e intenso]
cresce [e desce]
sobre [e cresce]
os olhos revirados 
Sou sorriso 
...
 alegria e torpor

Voo longe...vou!





sexta-feira, 17 de julho de 2015

A Mulher Ferida



A dor
da ferida quente
da boca ardente 
que me parte ao meio.






A mulher ferida - Maria Cláudia Cabral


um meio amor
 que em parte ardente
numa boca quente
fere sem pudor




quinta-feira, 16 de julho de 2015

O Susto Assusta

Decidi escrever um livro de ficção. Uma grande amiga e poeta paulista me disse 'ficção? Uau! É super difícil escrever ficção!' Muda, não pude deixar de olhá-la perplexa. Era para me assustar? Ou ela se assustou? Não importa a intenção: Eu me assustei! E lá se foram os anos.

Mulheres na Janela - 1929 - Pablo Picasso


Parei e olhei no espelho. Será que seria capaz de escrever um livro de ficção? Assim surgiu a personagem Anita Lopes.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Carta em dia de ventania




Querido Caio X,

Nossas pausas são longas. Senti falta de tuas linhas esculpidas. Há semanas sinto o silêncio vir se aproximando, como que a espreita do momento exato de se instalar com escova de dentes e muda de roupa. Aquele silêncio que empurra o olhar para fora, para longe, para as montanhas e vales distantes. O silêncio que ensurdece e desconecta do mundo.

Tem sido semanas fundas. Dias de frio longo e fino percorrendo o corpo. Dias de brisa e de ventania. Mas frios... sempre frios. Talvez seja por causa do barulho da rua, talvez pela distância das praias, quem sabe pela coação do desapego que desabou sobre tudo o que havia, encaixotando a vida em 60 volumes.

Memórias envoltas em plástico bolha e papel foram uma a uma cuidadosamente colocadas em caixas, assim como sentimentos. [Re]abrir os invólucros é lidar com as lembranças enclausuradas por dias e dias, às vezes por meses ou por anos.

Bride with a fan - Marc Chagall
Emoção à flor da pele e o olhar que condena a expressão dos incomodos a dizer silenciosamente como devo ou não devo sentir os meus próprios sentimentos. Silêncio cresce em mim. Silêncio e distância vão crescendo em mim. E por várias vezes quero parar o gira-gira e brincar de outra coisa. Girar e girar, ver sempre as mesmas paisagens tortas. Sinto-me tonta.

De súbito, percebo o delírio... Em verdade eu não estou sentindo nada. Nem dor, nem medo, nem raiva, nem tristeza... Já não sinto nada, só a presença crescente do silêncio tomando conta dos cantos, preenchendo todas as fendas. Estou aqui, observando. Nem mesmo me pergunto onde o silêncio me levará. Já não importa. Presente é sentir o nada que a ausência de sons traz sem cerimônia. Não há urgências, somente o silêncio da areia que desliza na ampulheta.


Suas pausas são longas. As minhas também. Mas os encontros de nossas letras tem a potência de um extase.

De sua sempre,

Anita Lopes




segunda-feira, 6 de abril de 2015

Eu Garanto...

''Eu garanto que teremos momentos difíceis, e garanto que haverá momentos em que um de nós - ou ambos - vai querer sair fora, mas garanto também que se eu não me casar com você me arrependerei pelo resto da vida por que sei que você é o homem para mim'' (Maggie Carpenter in Noiva em Fuga).



E eu garanto que revirando os rascunhos encontrei esse texto não escrito e me pergunto o que terá me inspirado a escrever sobre o filme, que particularmente gosto, e sobre o tema casamento.

Seja lá o que for que estivesse vivendo naquele momento - será que encontrei ''o cara'' e já nem lembro mais? - Se foi isso, que bom que não casei, não é mesmo?  Vou tentar construir uma idéia em torno dessa crença de ''o cara'' ou em inglês ''the one''.

Há um homem certo para mim ou para ti? Há o cara que magicamente [ou não] vai aparecer na tua vida e te tirar da torre, te pegar pela cintura, colocar na garupa do cavalo branco e te levar em direção ao sonhado felizes para sempre?

Podem me acusar de cética, mas duvido. Duvido de tudo no último período, exceto de que nos colocamos em torres. Sejam torres de afazeres ou torres de exigências, mas algumas de nós se encastelam mesmo. Todo o resto, como dizia, é estória da Carochinha. Não há príncipe encantado e menos ainda ''felizes para sempre''.

O que há é estar aberto ao Amor, mas não falo do amor romântico que em tudo é idealizado. Do amor  construído nos roteiros hollywoodianos há décadas que nos enchem a todos de sonhos inalcansáveis, que findam por contribuir para o fim das potenciais relações reais. Por que Amor é relacionar-se, não é estar num relacionamento, nem usar uma aliança de ouro 18k da H.Stern, nem casar de véu e grinalda ou reformar um apezinho financiado na Caixa.

Relacionar-se é revelar-se em toda a sua vulnerabilidade, é despir-se diante do outro por completo. Amar é abrir irremediavelmente o coração correndo todos os riscos de se ferir, de cair, de chorar um pouco, e na mesma proporção arriscar-se a viver integralmente o ser que se É diante de outro. E desse encontro simplesmente saber-se sendo a própria essência sem o medo de ser abandonado ou enganado. É ser acolhido em sua luz e sua sombra, sem ser julgado, aconselhado ou consertado.

Entrou por uma porta e saiu pela outra... Quem puder que comente outra!



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