quarta-feira, 7 de dezembro de 2011


Nota pública - ALL OUT 
SOBRE O PLC 122

O Brasil ocupa importante espaço na arena internacional por sua relevância econômica e política, além das políticas sociais recentemente desenvolvidas. Por meio da ratificação de diversos tratados internacionais para a proteção dos direitos humanos de todos e todas, inclusive LGBTs, e pela criação de variadas políticas públicas, o país deu passos importantes em relação  à promoção e proteção de garantias fundamentais, assim como no tema de direitos da população LGBT. 

No entanto, até o momento, algumas políticas públicas, como no caso das medidas necessárias e caras à populacão LGBT, ainda se encontram pendentes no que se refere a sua implementação. O que se observa é que todas as conquistas reais em termos de direitos civis igualitários para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Brasil,se deram no âmbito do judiciário e do executivo, o que demonstra alguns avanços mas também enormes desafios.

Na próxima quinta-feira (8/12), a senadora Marta Suplicy irá apresentar para votação na Comissão de Direitos Humanos e Minorias do Senado (CDH) um substitutivo ao PLC 122/2006. Apesar de ser uma pauta histórica do movimento LGBT brasileiro,  a ALL OUT CONSIDERA que a nova redação do PLC 122  não contempla a criminalização do discurso de ódio contra a população LGBT , um dos maiores “ ativadores de homofobia” no Brasil, tornando, portanto, a legislação proposta INSUFICIENTE.

Além disso, a inclusão do parágrafo III ao texto, sem acordo com o movimento LGBT nem com a Frente Parlamentar Mista LGBT no Congresso, simboliza o aceite tácito do Congresso aos discursos de ódio que estão na raiz da onda crescente de ataques homofóbicos e transfóbicos no país, seja por parte de líderes religiosos, seja de representantes de outros setores conservadores do Brasil. 

Reafirmamos que a All Out apóia o desenvolvimento de uma legislação que possibilite a punição de atentados graves contra a vida, a liberdade, a igualdade e a dignidade humana, e neste sentido, a inclusão da criminalizacao da homofobia é uma ação  justa e necessária. Desta forma, a All Out também aplaude os esforços do Estado brasileiro para que a homofobia seja discutida no país, inclusive no âmbito legislativo, mas não pode silenciar diante da omissão quanto a violência verbal, psicológica e moral, como faz o substitutivo ao PL 122. (inclusão da blogueira)

O BRASIL, INFELIZMENTE, É UM DOS PAíSES COM MAIORES NÚMEROS DE MORTES E DE VIOLÊNCIA em razão de orientação sexual e de identidade de gênero no mundo, portanto, ainda há muito que avançar. A All Out acredita que a discriminação homofóbica deve ser punida como as outras discriminações, com legislação que reconheça o peso e a relevância necessária à criminalização da homofobia no país.

Assinam esta carta


Equipe All Out

Graça Cabral, Maria Auxiliadora, Jiçara Martins, Maria Claudia Cabral, Angela Moyses, Eleonora Pereira (Mães pela Igualdade), Luís Arruda e Lilia Arruda.

Para saber mais sobre a All Out: www.allout.org/pt
Flavia Antunes: flavia@allout.org
Joseph Hannon: joseph@allout.org

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As Cartas de Anita Lopes: Carta a M.

As Cartas de Anita Lopes: Carta a M.: M, Esse (re)encontro me tirou o fôlego, ao tempo em que abriu portas e janelas, deixando fluir novos ares por aqui. Os encontros, ass...

Silêncio [1]

...então vem o silêncio. talvez precedido de certo descompasso.
talvez depois de um desencontro.
mas vem, é certo que vem o silêncio.
 primeiro sutilizado pelo tempo que se arrasta na temporada de chuvas.

e conforme as horas passam, vai crescendo. crescendo e crescendo.
e vem... e veM
como uma onda tomando conta dos espaços vazios,
ocupando as incompletudes com seus sons.

sim! o silêncio tem seus sons.

e num dado momento é tão grande...

[e a distância percorrida por ele é  tão larga]

que se torna ensurdecedor.


domingo, 6 de novembro de 2011

Como Nascem as Crenças - Carta a Alberto

Se as emoções são músculos, meu riso está flácido. A revelação veio como um soco no estômago. Era um soco no estômago, Alberto.
E, não! Não quis dizer frouxo, é flácido... 
Pensando bem, sempre foi flácido. Mas sempre pode ser tempo demais, não acha? Talvez não tenha sido sempre. Talvez tenha se tornado flácido.

Claro! Eu tinha o riso frouxo quando era criança. Sim, eu tinha! E pai dizia ''muito riso é sinal de pouco siso!'' 


- Que é siso, pai?
- Siso é juízo.
- E o riso vinha, que não parava mais.


E pai repetia e repetia e repetia. E o riso foi ficando contido. Foi sendo pouco a pouco escondido. O músculo foi sendo educado para não alongar. Foi treinado para ser músculo de quem tem juízo e bons modos. Ficou fora de uso tanto tempo que talvez nem me lembre como é uma gargalhada. 


Hoje foi o estômago que apanhou, mas foi a garganta que doeu. Memória do cárcere. A dor dos sons que anseiam por liberdade, querem pular da garganta para fora num duplo mortal carpado e aterrizar no meio do picadeiro, dar uma, duas ou várias piruetas [Bravo! Aplausos!]


Sabe que nem nas oficinas de atriz eu conseguia soltar  uma boa gargalhada. Fora condenada aos papéis de megera ou de vítima, infeliz e sofredora, por que chorar eu choro bem. E devo confessar, que com tanto riso preso, havia mesmo uma vilã escondida em mim. E os trabalhos de riso e de clown não me viam, fugia deles como quem foge da cruz [eu fugia da caldeirinha, em nome da cruz]. Não conseguia.


E quando algo muito engraçado [engraçado mesmo] acontece ou me contam uma piada daquelas, meu riso vem subindo  da barriga até o diafragma, passando pelo peito segue quente, uma onda vermelha ocupa o pescoço, as veias saltam, se espalha pelo rosto, e transborda num tsunami de lágrimas. A voz embarga, tusso, falta ar. Como falta a ar quando não rimos o riso frouxo das crianças.


'Muito riso é sinal de pouco siso', assim nasce uma crença! E adivinha, Alberto, onde ela se aloja? Não sei as outras, não sei as dos outros...A boa notícia, caro amigo, é que hoje, distraída ela revelou seu esconderijo e em breve receberá ordem de despejo. 


Contigo os segredos acabam por ser revelados. A verdade sempre vem à tona, mesmo que isso cause um pouco de [ou muita] dor.




Sua sempre,




Anita [Lopes]








quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Filho ou Filha Homossexual: Que fazer?


Dagoberto Arnaut - não me canso de pronunciar este nome nas últimas horas -mostra-nos o que fazer, com honestidade, com coragem e principalmente com muito amor. Quer saber? Leia:





Meu nome é Dagoberto Arnaut. Sou pai de uma menina gay.

Eu não sei lhes dizer exatamente quando, mas houve um momento em que percebi: Minha filha é gay. Não houve qualquer acontecimento especial para me levar a essa conclusão. Nenhuma conversa. Nenhuma frase. Nada. Foi pura percepção paterna. Mensagem sutil fluindo por esse intrincado cordão de cumplicidade que une pais e filhos.
Muitas vezes eu e minha mulher falamos sobre isso: Nossa filha é gay. Algumas vezes com convicção, outras tantas com dúvida. Nossa filha é gay? E todas essas conversas terminavam sempre com a mesma conclusão: não temos o direito de perguntar. Vamos esperar o dia em que ela se sinta confiante o bastante para nos contar. Espontaneamente.

A vida sexual dos outros nunca me incomodou. Há muito tempo eu sei que a sexualidade humana se manifesta de várias formas. Tive muitos amigos gays ao longo da vida. Um deles foi quem me apresentou a essa mulher especial com quem estou casado há 36 anos. A possibilidade de minha filha ser gay não era um problema para mim.

A para que isso ficasse claro para ela, eu comecei a ficar cada vez mais atento. Sempre que alguém fazia um comentário homofóbico, ainda que fosse apenas uma brincadeira, eu fazia questão de deixar claro que a homossexualidade de quem quer que seja não me causava qualquer espanto e nenhuma rejeição. E assim foi, até que o dia da revelação chegou.

Era véspera de ano novo. Imediatamente antes de sair para comemorar com os amigos, minha filha nos chamou.

- Pai, Mãe. Sentem aqui. Tenho uma coisa para contar para vocês.

Sentamos os três.

- Estou namorando. Nunca estive tão feliz. Mas é com uma menina.

Eu pensei que estava preparado para esse momento, mas não estava. Não consegui dizer nada inteligente. E até hoje não sei que sentimento me paralisou mais: um medo devastador da homofobia que ela teria que enfrentar sem que eu pudesse fazer nada para protegê-la; ou o imenso orgulho de ser pai de uma menina tão honesta.

Sim. O gay que sai do armário é um forte. Preferiu ser honesto consigo mesmo e com a vida. Merece respeito. Mas no âmbito familiar respeito é pouco. Aqui é preciso aceitação, acolhimento, compreensão e manifestações explícitas de amor.
A orientação homossexual é tão humana quanto qualquer outra orientação sexual. Não é opção, não é conduta a ser corrigida. É vida. Vida verdadeira. Tão abençoada quanto todas as outras criações divinas.

Olho para a minha filha que saiu do armário e vejo que seu caráter ainda é o mesmo que eu ajudei a formar. A bondade em seu coração não diminuiu, ao contrário, ficou maior porque o sofrimento de sua própria aceitação a tornou mais capaz de compreender o sofrimento humano.

Olho de novo para
a minha filha que saiu do armário e vejo que a única mudança é que agora eu sei que ela é gay.

Posso compartilhar muito da vida com os meus filhos: ética, visão de mundo, religiosidade, conduta profissional, enfim, quase tudo o que importa. Mas não é possível compartilhar com uma filha gay a experiência de ser homossexual. Afinal, ela nasceu em um lar heterossexual. Se não posso superar essa impossibilidade, posso oferecer uma casa que seja um ninho de afeto, aonde ela venha se fortalecer sempre que estiver cansada do calvário de discriminações que terá que enfrentar.

Aos homofóbicos eu gostaria de lembrar que os gays não nascem de geração espontânea. Os gays têm pais. E filho é como um nervo exposto. O que dói no filho dói nos pais, talvez até com mais intensidade. Pensem nisso antes do próximo gesto de discriminação, antes do próximo deboche, antes da próxima agressão. O que estou reivindicando é apenas respeito.
Não estou pedindo que entendam a homossexualidade de nossos filhos, até porque eu também não entendo a sua homofobia.

Nesse mês de maio, o Brasil ficou um pouco mais humano, quando o STF reconheceu que uniões homoafetivas estáveis são também entidades familiares. Isso foi muito bom. Foi excelente. Mas direitos e conquistas de cidadania parra os homossexuais pertencem ao mundo da racionalidade. A aceitação da homossexualidade do outro é assunto do coração. Pertence ao universo do afeto.




Com a ajuda do MGRV –  eu e minha mulher gostaríamos de formar um Grupo de Pais de Homossexuais para compartilhar experiências, nos ajudarmos mutuamente, mas principalmente para, humildemente, ajudar àqueles pais que amam mas ainda não conseguem aceitar seus filhos gays.


Você  que é pai, você que é mãe de um filho gay, lésbica, travesti ou transexual. É a você que me dirijo nesse momento e convido para fazer parte do Grupo de Pais de Homossexuais de São João del-Rei. Nossos filhos não merecem o sofrimento da discriminação. Vamos ajudá-los. Vamos fortalecê-los para que enfrentem  com sabedoria a homofobia e o preconceito. E assim, quem sabe, veremos nossa amada São João del-Rei, tão acolhedora, uma cidade de todos e de todas, livre da discriminação e da intolerância.

Nossa cidade fica também mais humana quando a Câmara Municipal abraça a causa dos homossexuais e trabalha para instituir políticas públicas de proteção dos direitos humanos.
Agradeço o espaço que me foi concedido para essa fala. Desejo aos militantes do MGRV uma excelente jornada amanhã em Brasília.

Agora respire. Respire profundamente e reflita sobre o exemplo de amor incondicional logo ali acima.
Além da vitória no STF em maio, há poucos dias mais uma vitória da racionalidade. STJ, por 4 votos a 1, decidiu pelo casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Mas como bem disse, Dago, isso é racionalidade. Acolhimento e aceitação da diversidade e das diferenças é assunto do coração.

Respeite a autoria, mas se quiser, copie, divulgue, pulverize na rede. Quem sabe outra mães e pais não estão neste momento precisando da força de um exemplo como esse. Qualquer dúvida, entrem em contato: maes@allout.org
ou pelo link dos comentários.