domingo, 7 de agosto de 2011

Diário de Bordo Pirenópolis-GO

Pirenópolis é refúgio de brasilienses. Há pelo menos dois anos não colocava meus pés lá [já fora uma das 5 cidades mais apreciadas por mim ever]. Não me pergunte o porquê, não saberei responder. Talvez o abandono de Piri (para os íntimos), seja apenas um reflexo do abandono de mim. Vai saber?!

Piri esteve comigo em momentos de ruptura. Lá encontrava meu centro, caminhando pelas ruas de pedra ou fazendo trilhas pelo cerrado ao som de suas inúmeras cachoeiras. Pirenópolis me energizava. Decidimos um pouco de súbito, e fomos. A estrada por Abadiânia está excelente, após a tradicional paradinha no Jerivá, seguimos por uma vicinal até o destino. 




Eita! Mas Pirenópolis mudou!  E como mudou... Era uma cidadela histórica com forte potencial turístico, ainda a engatinhar na economia limpa quando a conheci. Primeiro pensamento ao ver a placa em 4 idiomas: Pirenópolis está mais pronta para a Copa que sua vizinha cidade-sede. 

Como quem viaja sem planejar corre o risco de não achar pouso, ficamos um tempinho em busca da 'pousada perdida' [os preços subiram bastante por lá]. A cidade ampliou muito a quantidade de pousadas e impressiona a número de hospedagens familiares (bem bonitinhas). Depois de rodar um pouco, no calor das duas da tarde, cansados da estrada e com fome, encontramos um lugar curioso [será que esta é a melhor palavra?].



Na onda de pousos familiares escolhemos ficar no Hotel Rex, isto mesmo Rex! Fica na rua da Matriz, bem pertinho da igreja. Casa restaurada com decoração kilt [autêntica]. Retrato dos patriarcas [daqueles pintados] sobre a porta do quarto de casal. Tá, o quarto mal cabia a cama, a janela dava para o muro do vizinho e os pombos tinham um ninho no forro [mas era limpinho, simpático e condizente com o preço].



 Além disso, o café da manhã tinha o charme especial das quitandas goianas feitas em casa pela d. Ilma. Eram biscoitos, sequilhos, pães de queijo e bolos (o de banana acima é imperdível) deliciosos. Claro, com flores de plástico a ornar o ambiente, mas flores de plástico não morrem!




A gastronomia tem se desenvolvido por lá. Além da culinária tradicional goiana [deliciosa], experimentei numa tal Confraria umas trouxinhas recheadas com queijo deliciosas, além de beber boa cerveja artesanal (ma non troppo). E por falar em artesanato, devo anotar que também encareceu. Deu vontade de comprar não, desta vez. 

Mas fiquei feliz em ver a cidade realizar seu potencial a tantos anos acomodado. Certamente tem dedo do secretário de cultura, Gedson Oliveira e, claro,  a equipe da Prefeitura. No meu olhar, ainda que tenha muito ainda a ser feito, Pirenópolis deixou o século XVIII para entrar no século XXI, protegendo, preservando e divulgando seu patrimônio cultural, tradições, fazeres e saberes como seu maior ativo. 

A volta a Brasília foi por Cocalzinho. Confesso que a princípio não gostei da idéia de passar sobre duas rodas em Águas Lindas de Goiás, mas qual não foi a surpresa ao ver a pista totalmente reformada e ampliada! A estrada está ótima, agora sim podemos ir por lá ou por cá. [ainda prefiro por lá, afinal, tem o Jerivá]









terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vestida de Mar - Carta a Alberto Tibagi

quem sente a suave brisa marinha
 desse meu olhar sereno
 sequer pode supor as tormentas
 do oceano que trago em mim (a autora)


...E quando me ponho de pé outra onda vem, me puxa pelos calcanhares, derruba, arrastada pelas línguas ferinas do mar nas areias grossas, mal posso respirar. Levanto, puxo um bocado de ar [nem posso abrir os olhos - ardem - vejo o beijo violento do mar] caio de novo e de novo e de novo. 

Por um instante sinto o cheiro desfocado de céu azul e de sol. O dia está lindo. Sinto o gosto salgado de água rasgando a garganta e os olhos. Puxo mais um bocado de ar para novamente cair e me embolar na areia: por um segundo - ou pouco mais - o peso dessa luta inglória [contra algo que se mostra a cada instante mais forte], cai sobre mim. 

Nesse mísero segundo [redentor] desejo encontrar aquela casa de cristal, na rua de madrepérolas descrita por Alfonsina. Desejo me entregar e permitir que as ondas que ora me derrubam, simplesmente me arrastem suave para o fundo, ao encontro do grande peixe de ouro que às cinco horas vem nos cumprimentar. Ou talvez deseje ultrapassar a barreira da arrebentação e flutuar sobre as águas tépidas, sentindo o sol docemente me lamber a pele salgada [apenas o suficiente para curar as feridas] e me deitar tranquila sobre a cama um pouco mais azul que o mar. 

O estômago se revolve mais  que sereias de nácar verdemar dançando no fundo do mar. Sou eu, Alberto, Maria Anita a procurar a paz depois das tormentas. 

Desejo que a carta o encontre bem - e tranquilo - como as montanhas das Gerais.

Forte abraço,

A.L.

Vestida de Mar - Carta a Alberto Tibagi

quem sente a suave brisa marinha
 desse meu olhar sereno
 sequer pode supor as tormentas
 do oceano que trago em mim (a autora)


...E quando me ponho de pé outra onda vem, me puxa pelos calcanhares, derruba, arrastada pelas línguas ferinas do mar nas areias grossas, mal posso respirar. Levanto, puxo um bocado de ar [nem posso abrir os olhos - ardem - vejo o beijo violento do mar] caio de novo e de novo e de novo. 

Por um instante sinto o cheiro desfocado de céu azul e de sol. O dia está lindo. Sinto o gosto salgado de água rasgando a garganta e os olhos. Puxo mais um bocado de ar para novamente cair e me embolar na areia: por um segundo - ou pouco mais - o peso dessa luta inglória [contra algo que se mostra a cada instante mais forte], cai sobre mim. 

Nesse mísero segundo [redentor] desejo encontrar aquela casa de cristal, na rua de madrepérolas descrita por Alfonsina. Desejo me entregar e permitir que as ondas que ora me derrubam, simplesmente me arrastem suave para o fundo, ao encontro do grande peixe de ouro que às cinco horas vem nos cumprimentar. Ou talvez deseje ultrapassar a barreira da arrebentação e flutuar sobre as águas tépidas, sentindo o sol docemente me lamber a pele salgada [apenas o suficiente para curar as feridas] e me deitar tranquila sobre a cama um pouco mais azul que o mar. 

O estômago se revolve mais  que sereias de nácar verdemar dançando no fundo do mar. Sou eu, Alberto, Maria Anita a procurar a paz depois das tormentas. 

Desejo que a carta o encontre bem - e tranquilo - como as montanhas das Gerais.

Forte abraço,

A.L.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Livros, leituras e Literaturas em Tempos de Internet: O Debate

Livros, leituras e literaturas em tempos de internet: um olhar sobre o campo literário brasileiro foi o tema que propus no edital da FUNARTE ano passado. Era um pré-projeto de mestrado que aproveitei quando surgiu a oportunidade da seleção pública. Fui aprovada! [e agora?]

Procurei um professor da UnB que transita neste tema. Fui super bem acolhida e ele tem me orientado, sugerindo leituras e a ordem do trabalho. Li quase tudo [engasguei num dos pilares: As regras da arte], mas ainda assim abri perspectivas várias, inclusive a de que talvez o campo literário [ou artístico] ainda seja profundamente movimentado pelos velhos legitimadores da época de Flaubert, à despeito das novas tecnologias. 

A confirmação desta suspeita veio de minha experiência no governo federal - Ministério da Cultura - nas gestões de Gilberto Gil e de Juca Ferreira (dois últimos Ministros da Cultura); com artigo de Márcia Denser publicado no site Congressoemfoco; e, à despeito das economias estarem ruindo mundo a fora, com a certeza de que mercado ainda é mercado. 

O que de novo pude constatar até agora, do ponto de vista de agentes legitimadores [da literatura ou não] é que as redes têm conferido autoridade a novos agentes, propiciando que idéias circulem a partir de novos lugares, de outras cabeças, provocando deslocamentos e colocando a velha mídia em posição de cheque. 

O impacto desses deslocamentos de autoridade é bastante perceptível quando se trata de veículos de comunicação, mas chegar até o campo literário é uma travessia que não logrei êxito ainda. Para falar a verdade não enxerguei realmente esse deslocamento quando se trata de campo literário. O que percebo é que os deslocamentos ocorridos quanto aos legitimados nos últimos 8 anos obedece às regras do próprio campo literário, conforme a teoria de Bourdieu. Estarei cega?

Em linhas muito gerais, estou desenvolvendo esses tópicos: agentes legitimadores, deslocamento de autoridade. [acho que estas seriam as tags], a partir dos conceitos de campo literário e de redes sociais.




quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diário de Bordo - Tiradentes - Tantos sabores...

Falar de Minas é contar das comidinhas de boteco, da culinária mineira: deliciosa [e calórica] e a doçaria daquelas paragens, que é de babar. Quem abre mão de um pururuca com tutu de feijão ou de um frango com  ora pro nobis? Em Tiradentes tem isso e muito mais.

foto encontrada na Wikipedia. Autor desconhecido.


Não sabe o que é ora pro nobis? Conto e mostro! Esse vegetal preparado como se couve fosse, super rico em ferro, tem textura e sabor muito próprios. Usado para acompanhar frango com angú ou apenas ''afogadinho'' é digno de registro. Olha dona Maria na foto abaixo, do restaurante que leva o nome do vegetal [Ora pro nobis] (Tiradentes/MG) colhendo para levar para a cozinha.


foto: Maria Cláudia Cabral - Restaurante Ora pro nobis 

Minas tem dessas coisas, mas tem mais ainda...A tradição dos doces, que em Tiradentes responde pelo nome de ''seu Chico doceiro''. Especialista em delícias como os doces de abóbora, de batata doce, de leite, de figo recheado de doce de leite e, [humm] os canudinhos (crocantes) recheados de doce de leite. É uma perdição santa! Reza a lenda que em feriado, se não for ao ''seu Chico'' logo no primeiro dia, fica sem doce.

foto:Maria Cláudia Cabral - Seu Chico Doceiro e o doce de abóbora.

A doçaria fantástica não rouba a atenção do lindo artesanato da região, tampouco das belas construções coloniais [barrocas? um arquiteto me ajude!], das igrejas e da religiosidade arraigada do povo. Quer ver?

foto: Maria Cláudia Cabral - Casal Minerim
O casal mineiro esculpido em madeira e bastante colorido, assim como as rosas feitas de ferro [lata?], que ornamentam castiçais, suportes para bolsas e chaves, e as galinhas poedeiras d'angola são o que mais se vê por aquelas bandas, além claro das colchas feitas em tear manual e as famosíssimas panelas de pedra [sonho realizado]. 

foto: Maria Cláudia Cabral - A cruz na porta de casa.

A cruz na porta de casa (outro item do artesanato local muito lindo e facilmente encontrado) é uma tradição da região, que era muito visitada por tropeiros. Diz a estória que quando eles vinham, as pessoas colocavam as cruzes na porta de casa para indicar que ali era ''casa de família'' e assim, diferenciar das casas das ''moças de vida difícil'' [ e não venha me dizer que a vida delas é fácil!].


foto: Maria Cláudia Cabral - Chafariz

O chafariz também está impregnado de crenças. Diz a lenda que as moças precisam tomar água das três bicas para poderem casar. Não sou exatamente superticiosa, já me casei de véu-grinalda-e-flor-de-laranjeira, já juntei trapinhos e tals, mas sabe-se lá, né? Então tomei a água das três bicas, mau não há de fazer. [e não fez!]

Cadê as igrejas? Ixi! Ó, vou confessar logo antes que alguém conte. Eu não fui à Igreja da Matriz em Tiradentes #prontofalei! Fiquei vendo artesanato, encantada fotografando ora pro nóbis, casais de madeira, barro, tecido, galinhas, chafariz, ruas de pedra, experimentando doces...falando com gente desconhecida na rua[tá, fiquei vermelha]. Mas a igreja tá lá, eu pretendo voltar e não to com medo de arder no fogo do inferno.

Entrou por uma porta, saiu pela outra...