sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Receita na Madrugada

Acontece comigo algo curioso quando vou a Porto Alegre, bah! Acordo no meio da noite com alguma receita diferente na cabeça. Este ano fui duas vezes à cidade e foi tiro certo. A primeira foi em maio e era quase uma estréia. Missão de trabalho, mas um trabalho que me encheu os olhos e o coração de alegria. Fui para a Feira Nacional de Agricultura e Reforma Agrária - Brasil Rural Contemporâneo.

Entre tantos empreendimentos de Agricultural Familiar no Brasil, tive acesso a sabores incríveis. Produtos orgânicos ou produzidos a partir de matéria prima orgânica, plantados e colhidos por famílias agricultoras de várias partes do país. Assim conheci Anete, uma figura linda e mágica. Anete cria geléias e antepastos incríveis em Rolândia, no Paraná.

Eu, conversadeira que sou, louca por forno e por fogão, estiquei uma conversinha com Anete entre uma corrida aqui e outra acolá. Papo vai, papo vem Anete me desafia 'E com essa geléia aqui, que prato você faria?'

O sabor era incrível, fresco, levemente ácido, sutilmente apimentado... Hummm. Em fração de segundos vi diante de mim um maravilhoso lombo de filhote, branco e tenro.

- Filhote! - respondi - ficaria maravilhosa acompanhando um lombo de filhote assado, Anete.

-Filhote?

-Sim, é um peixe da Amazônia espetacular, também conhecido na região como piraíba. Carne tenra e muito branca, o filhote pode chegar a 2m de cumprimento e a pesar 300kg e fica excelente assado, grelhado, preservado seu sabor delicado e único. 

Pouco depois despedimo-nos e eu segui o corre-corre do dia e da noite. Cheguei ao hotel exausta, tanto que caí na cama o mais cedo que pude e apaguei. Meio da madrugada meus olhos se abrem alertas. Olho o relógio que luminoso marca 03:25. Sento na cama, tento entender o que se passa. E aí vem...

Lombo de filhote assado, temperado apenas com sal e sementes de coentro moídas, acompanhado de risoto de abóbora menina puxado em leite especial de castanhas e a maravilhosa geléia de Anete. Em fast motion vi o prato sendo preparado bem diante dos meus olhos, enquanto as papilas gustativas se ouriçavam e a boca enchia-se d'água.

Dia seguinte, logo cedo fui procurar Anete. Descrevi a receita em minúcias e disse categórica: 'Vai ficar maravilhoso!' 

 - Estou certa que sim. Um chef que passou por aqui, ao provar a geléia, disse o mesmo quanto ao filhote.


Desde então espero uma alma caridosa que me traga um belo lombo de filhote da Amazônia para que possa materializar a comunicação vinda do além. Filhotes encontrados na Feira do Guará  são pequeninos, medem cerca de 50cm (máximo que já encontrei) não têm o lombo do sonho.Sigo desejando experimentar essa primeira receita vinda do além, a outra já foi testada e aprovada pelos amigos e será compartilhada aqui em algum próximo post.

Por hora, com fome desejo a todos: Bom apetite!







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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bastardos Inglórios - Eleições 2010BR

''Os Nazis conquistaram a Europa com mortes, torturas, intimidação e terror. É exatamente isso que faremos com eles''. (Aldo Raine, in Bastardos Inglórios).




Hoje me perguntaram qual a diferença entre Aldo Raine (Brad Pitt) e Hans Landa (Christoph Waltz). Disse que enquanto um (Aldo) praticava a violência física, o outro (Hans) praticava a violência psicológica. No frigir dos ovos, apesar de estarem em lados opostos, farinha do mesmo saco. Meu interlocutor então disse que para ele:
- Apenas um deles vencera a guerra.

-Sim - respondi - não há diferença entre eles. Assim como a jovem Shosanna Dreyfuss também não se diferencia de ambos. 

Isto porque, todos, absolutamente todos usaram de violência para expressarem e garantirem sua posição. Embora parecesse que havia dois lados, apenas um foi expresso: vigança e violência. Era preciso vencer a guerra! 

Nós, espectadores do filme de Tarantino, também expressamos: violência e vingança. Afinal, atire a primeira pedra quem não vibrou com a imagem incandescente de Shosanna Dreyfuss na imensa tela do cinema - abarrotado de nazis - em chamas. Naquele instante todas e todos encarnamos a madrasta má de Branca de Neve e rimos o riso da vingança. Sim, há muita humanidade em nós. Tanta que somos feitos de silêncio e de sons, de violência e ternura. 

Hoje, em nosso país, apesar de não estarmos em guerra, a fim de chegar ao 2º turno, assistimos mentira, calúnia, difamação, intolerância contra Dilma Roussef e o PT. Vimos o PIG e alguns setores evangélicos e católicos agirem como nazi facistas incitando o ódio, semeando a discórdia, a mentira e a calúnia. Como vamos responder a isso no segundo turno? Empunharemos as mesmas armas ou superaremos a dor da mentira semeando a verdade?

Para mim, momento de reafirmarmos a verdade e a ética. Momento de nos distanciarmos da história de morte, tortura, dor, manipulação e mentira e reeafirmarmos os sons, mais que o silêncio; a ternura, mais que a violência e seguirmos adiante em direção ao Brasil que queremos. Um país com mais cultura, mais educação, mais moradia, mais emprego e renda, mais saúde, mais transporte e menos miséria. MAIS ÉTICA, menos mentira. Um país que mudou os rumos da história e quer continuar mudando.




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Hoje vou de... Clarice Lispector

Sempre que leio Clarice, sinto-me mais perto de mim. 


"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias." Clarice Lispector.



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Maria Rita Kehl e a Era das Possibilidades

Vinculo abaixo, o artigo de Maria Rita Kehl, publicado no Estadão e que colocou a moça de joelhos no milho, virada para a parede, lamentavelmente.


Internet, disse outro dia na roda de prosa sobre Culturadigital, é a expressão máxima do que chamo A Era das Possibilidades. Mas para viver esta Era temos de estar prontos para aceitar de fato que a liberdade de expressão  é para todos/as.

Para vivê-la bem, temos de exercitar os ouvidos abertos, a mente e o coração abertos. Estar prontos para discutir idéias e não ideologias. Abrir espaço para o debate que constrói novos caminhos para a qualidade de vida não apenas de nossa espécie, mas de todo o planeta. 

Respeitar as diferenças, inclusive em relação àqueles que estão ''do outro lado'', preservando a ética e o jogo limpo, em que todos/as ganham. 

Afinal, o que há no mundo, há em nós, inclusive ''o outro lado'', revire seus velhos baús e ainda haverá de supreender-se encontrando pensamentos, sentimentos ou experiências em que ''o outro lado'' se mostrou em você.

Não há por que envergonhar-se disso, conhece-te a ti mesmo, já dizia o filósofo, por que só conhecendo o que se passa dentro, entendo, compreenderemos o que se expressa fora.






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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Deus e o Diabo na Terra do Sol - Eleições 2010BR

Enquanto Dilma ia às igrejas católica e às evangélicas para esclarecer que 'não, não era a favor do aborto', Marina Silva, a ''Davizinha'', ia crescendo nas pesquisas por força da ação viral de fariseus que a apóiam. Milhares de e-mails despejados nas caixas de mensagens, veiculados por 'pastores' das igrejas evangélicas que a apoiávam, contendo os maiores absurdos, impropriedades e, inclusive mentiras e distorções explícitas. 

Não sei exatamente em que ponto dessa história toda Marina deixou de ser a aquela que representava a ética na política para se juntar à máxima ''os fins justificam os meios''. Assim como não sei como Dilma, a mulher guerreira, defensora de direitos - das mulheres -  chegou a curvar-se diante do clero. 

O fato é que desde que escolheu quem escolheu como aliado, Marina vem crescendo em popularidade e descrescendo em fidelidade a seus ideais(?).  De algum modo, como Dilma, que ao mitigar às lutas feministas, afasta-se de sua história em nome da vitória. 

Ambas traem a si mesmas, e os/as eleitores/as de Dilma, conscientes da verdade, solidarizam-se com a imolação e erguem-se em defesa do bem maior da coletividade, enquanto eleitores/as de Marina, sequer se dão conta de que ao repassarem mensagens mentirosas com o fito de alterarem a verdade, repetem um gesto tão conhecido dos cristãos: condenam injustamente diante de Poncio Pilatos, em troca da ilusão da vitória.  

Vitória de quem? Naquele caso, o libertado para seguir adiante foi um ladrão. E aqui/agora? Vitória de quem?

Poderia dizer que na minha humilde opinião, de cidadã-eleitora, enquanto Dilma ''se entregou'' a Deus, Marina vendeu a alma ao Diabo. Qual delas afastou-se mais de si mesma, afinal? Qual delas, deixou a luz para deitar-se com a sombra? 

Dilma afastou-se da luta feminista, em alguma medida, mas não da verdade. Ela, de fato, é contra o aborto. E em nome do restabelecimento da verdade, buscou as igrejas.

Marina, no entanto, permitiu que as mensagens desonestas espalhadas pela internet fossem veículo de sua expansão eleitoral, com isso, compactuou com a mentira, com a falsidade, com a falta de ética. Não poderia estar sorrindo, acreditando que fora votada por sua capacidade de ''propor (propôs?) soluções para os ''graves problemas'' do Brasil. Deitou-se com a sombra, entregando sua alma em troca de poder e de prestígio. Prazeres tão mundanos.

Ainda me indigno com o esse tipo de jogo político sujo que usa de mentiras para diminuir a próxima a fim de fazê-la de escada, em lugar de debater a sério os rumos do país.

Embora meu voto não fosse de Marina, eu a admirava antes das eleições. Marina me desapontou ao longo de todo o processo, e ceifou de vez todo meu respeito por ela quando silenciou diante da mentira em nome do acumulo de capital político para seguir no jogo, mesmo fora dele. O que acreditava que havia de melhor nela murchou. Foi cooptada, vendeu a alma ao Diabo por ação e por omissão. 

No frigir dos ovos, o mais importante - e preocupante - é que voltamos a Idade Média, mais conhecida como Idade das Trevas: Eis as igrejas com a faca e o queijo na mão para ditar a quem o povo delegará seu poder soberano.




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