segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Carta de Anita Lopez a Caio Marques






Caio,

Há semanas não tenho notícias suas. Tantas coisas aconteceram desde que você partiu para o Norte. Estou certa que tem acompanhado pela imprensa, mas a situação política entre nossos vizinhos anda delicada. O presidente adotou medidas duras – embora justas – e está mantendo-se firme. Talvez tenha de ser deslocada para missão de negociaçao. Ainda não sabemos, mas torço sinceramente ser designada. Sílvia é muito competente, mas às vezes sinto que ela não enxerga todas as possibilidades em momentos de maior tensão política. De qualquer modo, estou certa que o melhor haverá de acontecer.

Encontrei-me outro dia com R. Ela é uma mulher interessantíssima e de uma placidez que me dá inveja. Sua auto-confiança é perceptível, morar longe do companheiro e manter-se nessa fleuma notável. Ainda mais se tratando de um homem tão inteligente e interessante quanto M. Sei que já falamos sobre esse assunto, mas você faz questão – todas as vezes que estamos mais próximos – de reafirmar a distância entre nós. Por outro lado, diante de todos trata-me e afirma uma relação muito mais íntima do que me permite viver. A ambiguidade de nossa relação me deixa com a sensação de que a qualquer momento você vai partir sem qualquer cerimônia me deixando como me encontrou.

Sinceramente, de certa forma não acho que esteja errado. Não tenho qualquer pretensão de deixar a cidade.. Então, caso fôssemos algo mais do que somos eu não saberia o que fazer, diante de sua partida.Talvez seja apenas o desejo de realizar o mandato imposto pelos contos infantis do 'felizes para sempre'. Sim, sou independente e moderna, mas até mesmo por isso não posso deixar de afirmar que os mandatos me assolam, como a maior parte de nós, sendo que para as que têm autoconsciencia não é possível negá-los. Você mesmo tem suas crenças e mandatos que deixa à mostra – ainda que inconscientemente – vez ou outra.

Bom, meu amor. Não vou me alongar hoje, amanhã o seminário de altos estudos me espera e ele é condição para meus próximos passos na carreira.. Espero que volte em breve para sentir você novamente em meu corpo. (Piegas, sim, mas verdadeiro).

Saudades,

Anita

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Pinguim

Sinceramente?
Não sei.
Só sei que é assim.
Eu buscando você,
você escapando de mim.

E o pinguim continua esperando por uma geladeira

[sobre a qual - absoluto - reine]!

Travessia



O real da vida se dá, nem no princípio e nem no final.
Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Guimarães Rosa



...mas toda travessia tem um princípio. Um primeiro passo, um lugar de partida. O real pode não estar nem no princípio, nem no final, como diz Guimarães Rosa. Nem no ponto de partida, nem no de chegada. Mas sempre haverá o ponto de onde se parte e esse ponto é determinante para os rumos que se vai tomar no trajeto.

Posso não saber para onde vou, mas preciso saber de onde venho. Em que ponto nossas retas se encontraram.

Então, qual o nosso ponto de partida?

Somos retas paralelas? Estamos caminhando sozinhos e decidimos partilhar um pedaço da estrada para ocupar o vazio ou decidimos de fato fazer o caminho juntos?

Chegar, não sei onde. O caminho vai nos mostrando. Atalhos, desvios, pontes, rios, mares, não se sabe o que teremos pela frente. Mas o ponto de partida, esse é fundamental conhecer.

Ele é definidor de como enfrentaremos os desafios e desvios do caminho.

Então, pergunto: De que ponto você quer partir?



TODA MULHER TEM DIREITO A SABER DE ONDE ESTÁ PARTINDO, MESMO QUE NÃO SAIBA PARA ONDE.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Renascer


''(and I) Ride the winds of a brand new day
High where mountain's stand
Found my hope and pride again
Rebirth of a woman

Time to fly'' (Rebirth - Angra)




Ontem assisti o [re]nascimento de uma mulher.

Eu vira todo o seu potencial dilacerado
exposto numa ferida rosa e carmim.

Agora estavaa inteira
só  como É.

Mulher talentosa,
vibrante,
Afeto
Sabores e sorrisos

Ontem assisti seu [re]nascer
E cheia de esperança
Voltei ao ninho.


TODA MULHER TEM DIREITO A RENASCER E A REINVENTAR SUA HISTÓRIA!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O Gosto

Outro dia uma-amiga-de-uma-amiga-minha contava que não consegue cozinhar só para ela. Nos fins de semana, quando não sai para almoçar com amigos ou amigas – ou ambos – acaba se alimentando de tudo-e-qualquer-coisa que encontra na geladeira. Argumentava, que não vê graça em preparar uma refeição completa para si mesma, preparar a mesa e comer sozinha.

Pensando sobre o tema, busquei referências para falar sobre o assunto. No último sábado, por exemplo, comecei a preparar a refeição ao meio dia, terminei o cafezinho – aromatizado com amêndoas – às quatro da tarde, no sofá, completamente satisfeita (e sozinha). Desde a escolha do menu, passando pela compra dos ingredientes, a decoração da mesa e à escolha da música, tudo foi minuciosamente selecionado com a finalidade de me proporcionar um momento de afetividade e magia.

Aprendi em casa que comida é expressão de afeto. O ato de cozinhar é declaração de amor. Cozinhar é linguagem. O tempo e a energia dedicados à preparação de um prato, a forma de apresentação, o cuidado com a arrumação da mesa, a harmonização do prato com a bebida e a música, com o clima fala sobre a relação entre quem prepara e para quem se prepara.

Cozinhar, para mim, é: Pura Magia. Combino elementos com sabores, com texturas, com aromas e com cores diferentes. Essa combinação tem algo de alquimia e de intuição. Os elementos e os sentidos são equibilibrados num bom prato, porque a nutrição é antes de tudo equilíbrio e o paladar não é um sentido solitário.

Ao contrário, a ele estão inexoravelmente associados o olfato, o tato, a audição e a visão. A refeição é, portanto, integração dos sentidos com tudo o que compõe o momento. Por isso mesmo, deve ser vivido com consciência e presença.

Pode ser ainda oportunidade de reunir pessoas queridas para confraternizar, compartilhar o tempo, as idéias e o prazer da comida. Esses encontros, regados a boa bebida, a leveza e a alegria são oportunidades incríveis de pausar a vida e entregar-se ao hedonismo pleno.

E aí vem a questão: É possível extrair prazer, afeto e nutrição quando se está sozinha?

Ixi, claro!- Não hesitaria em responder. Importa saber, no entanto, o quão importante você é para si mesma, o quanto de estima e cuidado tem por si. Quando a auto-estima está em alta, fica fácil dedicar poucos minutos ou horas preparando uma deliciosa refeição, arrumar uma bela mesa, com direito a melhor louça e as taças incríveis de cristal – presente especial do último Natal - com direito a flores, criar um clima, escolher trilha sonora, especialmente para si. Esta é uma manifestação inequívoca de cuidado e afeto.

Escolher os melhores ingredientes, equilibrar os elementos da refeição para que seja nutritiva e saborosa; preparar com atenção e com desejo; temperar com o coração, sentindo a seleção de especiarias e compensando sal, doce, ácido e básico – yin e yang – optando por aromas harmônicos. Arrumar o prato ‘’como se fosse um ramalhete de flores do campo’’ significa nutrição plena do corpo e da alma.


Durante a refeição importa saborear, trazer para as papilas gustativas, o olfato, o tato e, por que não a audição, boas lembranças. Viver o momento, estar presente. Sentir de verdade a temperatura, a textura, o sabor, o aroma. Sentir a música ao fundo, sem ser agredida por ela, é puro prazer. Aposto que não dá nem para sentir o tempo passar ao viver intensamente esse momento inteiramente seu, porque:


TODA MULHER TEM O DIREITO DE RECEBER PRAZER E AFETO – PRINCIPALMENTE DE SI MESMA.