Mães pela Igualdade *
''Deixem que os aviões voem em círculos altos
Riscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Pombas de luto ostentem gravatas beges no pescoço(...)''
(W.H.Auden)
Nós, Mães pela Igualdade, gostaríamos de pedir dois minutos de silêncio
e atenção para refletirmos sobre o Brasil que queremos. Dois minutos para
lembrar nossos filhos e filhas. Durante esses minutos, busquem em suas memórias
o momento em que viram pela primeira vez o bebê tão esperado e desejado com
amor por sua família. Os pequenos olhos, a boca, os pezinhos. Lembre-se daquele
instante mágico em que, após meses de espera, a pequenina pessoa esteve em seus
braços.
Lembram-se do balbuciar das primeiras palavras e dos primeiros passos? O
primeiro dia na escola; as festas de aniversário, as noites mal dormidas quando
adoeciam; o carinho com que prepararam os presentes na escola, no dia das mães
ou no dia dos pais? Lembram da janelinha no sorriso banguela?
Mal nos damos conta e as nossas crianças crescem e passam a ter vida
social própria: os piqueniques, os churrascos, tardes no shopping, as baladas,
a faculdade ou a escola noturna. Jovens, lindos, sensíveis, solidários, cheios
de vida e de alegria.
Agora imaginem que um dia, voltando para casa, seu filho ou filha é
vítima de um ataque covarde na calçada, sem motivo nenhum além de ser quem é.
Você pode ouvir seus gritos clamando ‘’Mãe, me ajuda!’’, mas aquelas pessoas
não param de bater, chutar, pisar e escarnecer; outras pessoas passam ao lado e
nada fazem. Sua criança grita por ajuda enquanto sua pele é rasgada, seus
dentes arrebentados, seus olhos feridos, seus ossos quebrados até a morte,
banhada em sangue, e você impotente do outro lado da rua, ou mesmo em outra
cidade. Aquele rostinho de outrora, agora deformado pelas pancadas. Essa imagem
não sai da nossa cabeça. O sentimento é de desespero, angústia e vazio
absoluto.
Respirem. Não é fácil passar por isso, mas essa violência é fato, e
acontece todos os dias em nosso país. Nossas filhas e filhos têm sido
agredidos, torturados e mortos. Nossas ‘’crianças’’, tem sido humilhadas,
discriminadas, ofendidas, xingadas nas ruas simplesmente porque têm orientação
sexual ou identidade de gênero diferente da maioria. Não escolheram ser
lésbicas, gays, transexuais, travestis ou bissexuais, não se trata de uma
opção. Simplesmente são assim: pessoas corajosas, dignas e honradas que assumem
quem são, não sabem ser de outra forma e não querem viver atrás de máscaras.
As palavras de Marlene Xavier, uma Mãe pela Igualdade, resume com
precisão o resultado extremo da homofobia descontrolada no Brasil: "Quando
perdemos um filho, nos tornamos eternamente mutiladas e a nossa imagem é o
reflexo da dor e da saudade, que serão nossas eternas companheiras". Algumas de nós carregamos no peito essa
cicatriz, por isso pedimos que cada um e cada uma de vocês que estão lendo esta
carta se pergunte: “e se meu filho ou filha fosse gay, lésbica, travesti ou
transexual? Compreenderiam então a insegurança em que nós, mães de homossexuais
e pessoas trans, vivemos cada vez que nossos filhos e filhas saem às ruas,
viajam, vão ao cinema ou à escola. E, se amam seus filhos como nós amamos os
nossos, entenderão a dor de uma mãe que perdeu seu rebento para a homofobia.
* “Mães pela Igualdade” (www.allout.org/pt/maespelaigualdade) são um grupo de mães de todos os cantos do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes e mostrar ao país que a igualdade é um valor familiar. maes@allout.org
* “Mães pela Igualdade” (www.allout.org/pt/maespelaigualdade) são um grupo de mães de todos os cantos do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes e mostrar ao país que a igualdade é um valor familiar. maes@allout.org
Belo e agressivo. Gostei da afirmação de que "simplesmente são assim", mas às vezes escolhemos sim. Escolhemos ser bissexual, lésbica, transexual, travesti, gay. Ou não. Ou sim. Simplesmente. Espero sinceramente que as pessoas se tornem a cada momento mais acolhedoras e menos necessitadas de rótulos. Muitos beijos. Alberto Tibaji
ResponderExcluirO respeito, base fortalecedora que deve ser reavivada neste planeta.
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