De súbito dei-me conta de tudo a que me submeti: à mordaça, à convivência/conivência com aquela situação escusa. Ai! Fico feliz em saber que finalmente estou livre. E não senti nenhuma dor ao constatar que ele me eliminara completamente dos murais, das linhas de tempo, de sua vida. Ao contrário, foi um alívio.
Senti como se a chave da cela, agora aberta, tivesse sido jogada ao mar.
Por isso a carta, querido Caio A, sobre os sentimentos e o sentido de uma decisão necessária, corajosa [sim, há que ter coragem] e há muito adiada. Chega de conivência, chega de cálices.
Cansei de ouvir: cala-te!
Sinto-me tão leve. Já não anseio por notícias ou sinais. Triste fim de Caio M. em mim, relegado a uma lembrança longínqua de alguém que um dia teve importância e, sem mais, deixou de ter. Deixou de ser.
É inacreditável, mas nada em mim diz da solidão de um final tão oco. Estou quieta, quase neutra diante da vida e do amor. O mar finalmente serenou e posso ver a luz da lua refletida na imensidão, clareando longe, sem contudo revelar o por vir. Mas o por vir tampouco me incomoda. É por vir. E o agora, finalmente está sendo honrado comme il faut.
Faço desde então o que é preciso a cada minuto, honrando esse minuto como se fosse, não o último, mas o único.
E nesse único minuto que me resta [antes do próximo], beijo-te a face, alargo o sorriso dourado dos olhos e te desejo uma noite estelar.
Sua sempre,
Maria Anita Lopes do Canto
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