quem sente a suave brisa marinha
desse meu olhar sereno
sequer pode supor as tormentas
do oceano que trago em mim (a autora)
...E quando me ponho de pé outra onda vem, me puxa pelos calcanhares, derruba, arrastada pelas línguas ferinas do mar nas areias grossas, mal posso respirar. Levanto, puxo um bocado de ar [nem posso abrir os olhos - ardem - vejo o beijo violento do mar] caio de novo e de novo e de novo.
Por um instante sinto o cheiro desfocado de céu azul e de sol. O dia está lindo. Sinto o gosto salgado de água rasgando a garganta e os olhos. Puxo mais um bocado de ar para novamente cair e me embolar na areia: por um segundo - ou pouco mais - o peso dessa luta inglória [contra algo que se mostra a cada instante mais forte], cai sobre mim.
Nesse mísero segundo [redentor] desejo encontrar aquela casa de cristal, na rua de madrepérolas descrita por Alfonsina. Desejo me entregar e permitir que as ondas que ora me derrubam, simplesmente me arrastem suave para o fundo, ao encontro do grande peixe de ouro que às cinco horas vem nos cumprimentar. Ou talvez deseje ultrapassar a barreira da arrebentação e flutuar sobre as águas tépidas, sentindo o sol docemente me lamber a pele salgada [apenas o suficiente para curar as feridas] e me deitar tranquila sobre a cama um pouco mais azul que o mar.
O estômago se revolve mais que sereias de nácar verdemar dançando no fundo do mar. Sou eu, Alberto, Maria Anita a procurar a paz depois das tormentas.
Desejo que a carta o encontre bem - e tranquilo - como as montanhas das Gerais.
Forte abraço,
A.L.
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