Foi ele que me estimulou a leitura, quando ainda ensaiava entender as primeiras letras me deu a coleção de Monteiro Lobato - um clássico - que por mais crítico tenha se tornado meu olhar, ainda guarda doces lembranças de Narizinho, Pedrinho e Tia Anastácia.
Ah, tia Anastácia! A melhor quituteira daquelas bandas. Lia as estórias e sonhava não apenas com as reinações de Narizinho ou as caçadas de Pedrinho, sonhava [e experimentava] todas as guloseimas que apareciam descritas nos livros.
Meu pai ao lado. Compartilhamos ao longo da infância esse gosto por livros, esse gosto por sabores. Minha mãe sempre foi - pelo menos desde que me entendi por gente - genial na cozinha [e em tudo mais], criava pratos sofisticados e lindos, mas meu pai, vindo das Gerais gostava de reinventar as tradições nada triviais de sua terra natal.
Com esse cenário, fim de semana era uma festa em casa. Começava com a feira, bem cedinho [6h]. Madrugava para acompanhar o pai. Era tudo tão colorido! Quando chegávamos os feirantes ainda estavam montando suas barracas, percorríamos toda a feira observando cada produto, sentindo o cheiro das frutas, no final da rua dávamos meia volta e retornávamos pechinchando e comprando laranjas, agrião, beterrabas, couve (não podia faltar). E parávamos estrategicamente na barraquinha do pastel antes de por os pés de volta a casa.
Depois vinha a decisão de quem cozinharia naquele dia. E a cozinha virava território proibido para a maioria, mas não para mim. Tinha prerrogativas por ter ido à feira e por ser a primogênita. Assim fui me afeiçoando a esse mágico ritual com temperos e panelas.
A experiência suprema de nutrir, não apenas o corpo, mas também a alma com sabores, cores e encontros fez parte da minha vida. Em torno da mesa éramos nossos melhores momentos. Compartilhávamos e acolhíamos nossas histórias da semana, nossas piadas de família, nosso afeto.
Por tudo isso, posso dizer sem medo: Pai, tenho ótimas lembranças da minha infância contigo! Obrigada por me deixar essa referência.
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