domingo, 30 de janeiro de 2011

Esperança

Levantei-me trôpega. Saí do quarto a esbarrar nas paredes, garganta seca, consequência da vida no planalto central.

Ainda tonta, a vi caída no meio do corredor. Estava morta! Morta?

Cheguei mais perto, apertei os olhos, parecia morta. Estava quase morta. Respirava pouco, vivia pouco, comia pouco, sentia pouco: a vida era um fio curto. E eu olhando, como quem observa o espelho depois de anos sem se olhar.

A pergunta não queria calar: viva-morta ou morta-viva?

Com a ponta dos dedos, fui tentando. Algo lhe havia atingido as bases. Já não tinha firmeza sobre os próprios pés. Mal podia equilibrar-se assim, mas - surpresa - ainda havia vida!

Um sorriso escapou, escorreu pelo canto da boca, sem que pudesse conter. Estava viva, afinal. Avariada, mas viva.

Segui o rumo do dia com a certeza de que vivia. Mesmo trôpega, lá estava. Mas qual não foi o desalento, quando mais tarde, passando pelo corredor estreito, a vi caída novamente. Durante todo o dia havia dado mostras de franca recuperação.

Frágil.

Cheguei mais perto, apertei os olhos. Já não respirava, não sorria, não comia, não sentia. O fio [se] foi. Morreu!

No epitáfio curto com o sua própria vida dizia:

Aqui jaz Esperança.


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