Carpinejar afirmou hoje no twitter 'É frustrante para uma ciumenta namorar um homem comportado.' Foi quando um grupo de macacos sapateadores ocupou meu sótão.
Formou-se um eco ensurdecedor naquele pedaço de mim e tive de parar para refletir. e sentir. Respirei fundo naquela frase, tentei que cada palavra entrasse pelas narinas junto com o ar e inundasse o sótão, arejasse as idéias. Ainda assim, havia ainda um incômodo. Meu cérebro concorda integralmente com Carpinejar, enquanto meu coração bate a ponta do pé contra o solo e a cabeça balança ao som do tsc, tsc, tsc.
O assunto me lembra Walkíria. O primeiro marido achava que ela não o amava o suficiente por que desde os tempos de namoro o incentivava a ter um tempo dele com os amigos - conversas de bar, jogo de futebol essas coisas - pelo menos uma vez por semana. Ela não era ciumenta e isso o fazia sentir-se menos amado. O coração sorria tranquilo aquelas horas bem vividas dele e dela, cada um experimentando seu próprio espaço. Walkíria* acreditava no amor e na liberdade.
Gostava de dizer que nunca foi traída por ele, embora saiba que até foi. Mas sempre preferiu a ignorância aos pesadelos e às disputas. Não sei se foram felizes, mas certamente, ela teve dez anos de noites inteiras de sono.
Depois que a relação acabou, Walkíria teve alguns parceiros até encontrar um novo companheiro. Dizia-me que com ele desceu ao inferno. O homem era compulsivo por sedução, enlaces, enfim por mulheres. Ela chegou a pesar 44 kg e toda sua tranquilidade voou pela janela sempre aberta às novas aventuras dele. Traições sucessivas a deixaram paranóica e ela não conseguia sair do lugar. Ele era compulsivo por mulheres, ela compulsiva por ele. Depois de três anos de conselhos de amigas e de repetir para si mesma 'ele não vai mudar, sou eu quem tem de mudar', deixou-o em silêncio.
Cinco anos de terapia e abstinência de afeto depois, viu-se diante do mar. Primeiro a ponta dos dedos, um pé, depois o outro. Sentiu cuidadosamente o terreno, deixou-se envolver pela água morna dos sentidos, por fim entregou-se às ondas sutis que a invadiram. Ele era mar calmo, com poucas ondas e nenhuma arrebentação. Confiou como nunca, confiou como antes.
Até o dia que a rede lhe trouxe notícias de uma vida dupla. Ligou aos prantos em pleno dia dos namorados. Era o fim, dizia ela. Saímos para um chopp e os soluços foram substituídos pela prosa divertidas dos amigos. Terminou a noite começando uma nova trajetória.
Uma semana depois já estava naqueles braços de novo, ouvindo promessas de amor eterno e acreditando na célebre frase dos incautos 'Eu vou mudar'. Nunca mais foi a mesma e ele, aparentemente comportado, continuou o mesmo.
Será que ela se sente frustrada por ele estar comportado ou por sabê-lo o mesmo?
*Walkíria é nome fantasia em respeito a privacidade da amiga em questão.
Só andar no caminho vai resolver a dúvida.
ResponderExcluiracho que depende. se comportado for sinônimo de comprimido, fica difícil não se frustrar. é duro conviver com alguém que se contém perto da gente.
ResponderExcluiro que mais gosto no amor é esta possibilidade que o outro nos oferece para o auto-conhecimento e o desenvolvimento integral do nosso humano.
adorei o texto e fiquei aqui, pensando sobre o ciúme - aquele que dói nos cotovelos. =)
E tem o sempre sábio conselho da história: um amor sem conversa, sem assunto, sem temas para seguir conversando antes e depois do amor, não é amor...
ResponderExcluirVida Longa ao Blog da Maria Claudia