quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Hoje vou de... Hygiene

Quem Sangra todo mês!
Não pode ter mêdo da vida nem da morte
Abre a porta para quem quer
Fecha a porta para quem não quer!

(trecho da peça Hygiene, do Grupo de Teatro XIX)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sétimo Dia

A Missa de 7º dia é uma prática brasileira. Destina-se em primeiro lugar a permitir que parentes e amigos do morto se encontrem. Herança dos tempos antigos, segundo Frei Bento, época em que o deslocamento das pessoas era difícil, não haviam estradas, nem ônibus, nem automóveis, nem avião para trazer os parentes e amigos do de cujus para o velório. Como vivemos num país tropical, o cadáver não podia ficar insepulto por mais de 24 horas.

A igreja, então, adotou a prática de celebrar, uma semana depois do passamento, missa em homenagem ao morto, na qual os familiares e amigos se encontravam para celebrar a renovação e a chegada do parente ao céu.


Sete dias desde ''O Espanto''. É pois tempo de celebrar a renovação da energia afetiva, reacendendo a chama da alegria, da crença no amor e a chegada do 'Espanto' ao céu-dos-relacionamentos-desfeitos.


Portanto, amigos próximos e distantes estão convidados para a ''Celebração do Sétimo Dia de Solteirice'' de Maria. A realizar-se no Bistrot Rayuela, SCLS 413, a partir das 19h, porque


TODA MULHER TEM DIREITO A SEGUIR ADIANTE, VIRAR A PÁGINA E SER FELIZ!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Minha Verdade





Nasci nômade. Perambulei pelo país, mudando de cidade durante anos. Cada partida, laços desfeitos. A cada chegada, novos amigos. Saberes e fazeres diferentes foram me constituindo. A dor da partida aos poucos era compensada pelas novidades da chegada. Novas cores, novos olhares, novas perspectivas.

Assim fui forjando quem sou. Pegando um pouquinho daqui outro dali. O calor de Belém, com seus aromas exóticos, seus sabores ímpares. O mistério da floresta, a imensidão do Rio. Algo do prazer sem culpa que herdamos dos povos indígenas, nossos antecessores nessa terra brasilis.

A alegria e o sincretismo religioso de Salvador com as construções históricas, as cores vibrantes, a mistura exuberante. A força e a fé do povo das várias nações africanas que vieram povoar o Brasil. O poder das matriarcas do candomblé e a serena maladragem dos capoeiristas. Aos quatorze anos, a mais dramática das mudanças me levou de Salvador - onde chamava o diretor da escola de ''Toinho'' - para São Paulo, onde fui tida como ''petulante'' pela professora de português por me dirigir à coordenadora usando ''você''. Experiência traumática, retrato do choque de culturas, num país plural e diverso como o nosso.


Foi assim que São Paulo entrou nesse caldo. A despeito do trauma, segui adiante olhando o que havia de bom para aprender. Não absorvi a deselegância discreta cantada por Caetano, ao contrário, sorvi uma elegância vanguardista e ao mesmo tempo algo retrô.


Apreendi uma mania estranha de buscar sempre a eficiência, o resultado e a tal produtividade, mesmo sendo adepta da economia solidária, dos direitos humanos e da busca incessante pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. O bicho da produtividade capitalista me mordeu e me contaminou, deixando um rastro de estresse e aprendizado sobre a importância dos amigos, da família e de respirar para transitar bem nesse mundo.


Mas antes, muito antes disso acontecer, dei um pulinho no Rio de Janeiro. Foi um pulo tão rápido - vivi lá por onze meses - num intervalo entre São Paulo e Brasília. Não pude deixar de notar, extasiada, a energia que toma conta de qualquer de nós - até dos mais desatentos - ao flutuar sobre a baía de Guanabara, em busca do aeroporto Santos Dumond. Salve Tom Jobim e o Samba do Avião. E aprendi a gostar de samba. Aqui, muita atenção! Favor não confundir, estou falando de samba de raiz. Aquele que nasceu e se criou nos morros, nas comunidades cariocas. No Rio aprendi a respeitar meu corpo e seus limites, e, por incrível que pareça, a valorizar quem sou exatamente como sou. Nem mais gorda, nem mais magra, nem mais alta, nem mais baixa.


Feita a paradinha estratégica na meca dos corpos sarados, fui ao encontro daquela que seria minha alma gêmea. Já sem identidade ou selo de origem controlada, sentia-me uma colcha de retalhos, um híbrido cultural sem raiz. Ao conhecer as linhas retas de Brasília, suas largas avenidas, caí de amores pela cidade. Ela, que como eu, era feita de tantas cores, tantos cheiros, tantas influências. Brasília que era, como eu, fruto da mistura de vários povos e que tem - ainda hoje - um fluxo de moradores periódico e regular, mostrou-me que ser várias também é ser una.


Fui assim sendo forjada na diversidade cultural brasileira. Aprendi a olhar sempre para o que há de melhor em cada lugar onde passo. Minha identidade é, como minha digital,única. Sou todos os lugares onde fui, todos os amigos que fiz, todas as histórias vividas. Sou todos os sabores, todos os cheiros, e ao mesmo tempo sou uma. Abro os braços, a cabeça e o coração para o novo, todos os dias. O que não sei, eu crio. Minha verdade? É que a vida não nos dá garantias e que permanente, só a mudança.


TODA MULHER TEM DIREITO A MUDANÇAS.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Espanto


''De repente...
das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.''

(extraído de Soneto da Separação, Vinícius de Moraes)



...Foi a primeira coisa que pensou.
Ecoava em sua cabeça o som do espanto.
Repetiu diversas vezes a palavra enquanto os olhos vagavam pela paisagem ocre


ES-PAN-TO.

Ex.

ExPANTU.

Sentiu em seu peito,
forte e retumbante O som. [Experimente falar em voz alta a palavra].
Ela acontece no peito.
É implosão em forma de palavra.

ESPANTO.
(ISSSSSSSSSSSSSPAAAAAAAAAAAANNNNNNNNNTU)

Depois do espanto, o silêncio.
Câmera subjetiva gira em torno de si.
Daí surge o vazio [que acompanha o silêncio]
Está num filme de Win Wenders.

Por instantes
o som volta a ocupar o espaço.
o vazio

há batida ritmada e forte
[a vibrar o peito]
a tremer as mãos,
a secar a boca.

De súbito ouve[se]
o som da respiração
o sangue correndo nas veias

Ar e som
dentro e fora
Estão juntos.
Estão em si.

Sai.
Anda em círculos
Volta às mãos, o calor.
Sente-se corar

Volta!

E o espanto se faz pranto
derrama-se
desde os cumes até os vales
E o espanto aos poucos
esvai-se.

Vai!


Entrou por uma porta, saiu pela outra, PORQUE


SOBREVIVEMOS A TUDO, MELHORES E MAIS FORTES!

domingo, 9 de agosto de 2009

Carta a Pedro

Pai, que dizer?


Convencionaram que hoje, segundo domingo de agosto, seria o ''dia dos pais''. Bem, você não acreditava nestas datas, não que eu me lembre. Dizia que eram datas comerciais, embora não se furtasse de comemorá-las sempre.


De uns tempos para cá - ponha 'tempos' nisso - você ia para a cozinha e (re)criava receitas incríveis. Ainda hoje as inventa e nos brinda com seu dom alquimista. Por certo está preparando algum prato surpresa e reunindo a família em torno da mesa. Não sem antes agradecer a Deus pelo alimento recebido. Não estou aí, mas gostaria.


Você, embora distante e - muitas vezes - ausente, está tão presente em meus gostos, na cor da minha pele, nas minhas boas lembranças de infância, em alguns de meus hábitos mais corriqueiros. Hábitos de tanto tempo...


... E o tempo foi nos afastando. Estivemos - você e eu - tão longe um do outro. Hoje sinto falta dos livros não comentados, dos ovos quentes não mais partilhados antes do sol nascer, da mão firme segurando a minha quando levei pontos na testa. Sinto falta de almoço de domingo em torno de uma mesa cheia de pequenas desavenças bobas.


Agora te sinto mais perto, mesmo há quilometros de distância daqui. Amo-te e te sou grata por quem sou, pai.


Saudades,

Cacau