terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vestida de Mar - Carta a Alberto Tibagi

quem sente a suave brisa marinha
 desse meu olhar sereno
 sequer pode supor as tormentas
 do oceano que trago em mim (a autora)


...E quando me ponho de pé outra onda vem, me puxa pelos calcanhares, derruba, arrastada pelas línguas ferinas do mar nas areias grossas, mal posso respirar. Levanto, puxo um bocado de ar [nem posso abrir os olhos - ardem - vejo o beijo violento do mar] caio de novo e de novo e de novo. 

Por um instante sinto o cheiro desfocado de céu azul e de sol. O dia está lindo. Sinto o gosto salgado de água rasgando a garganta e os olhos. Puxo mais um bocado de ar para novamente cair e me embolar na areia: por um segundo - ou pouco mais - o peso dessa luta inglória [contra algo que se mostra a cada instante mais forte], cai sobre mim. 

Nesse mísero segundo [redentor] desejo encontrar aquela casa de cristal, na rua de madrepérolas descrita por Alfonsina. Desejo me entregar e permitir que as ondas que ora me derrubam, simplesmente me arrastem suave para o fundo, ao encontro do grande peixe de ouro que às cinco horas vem nos cumprimentar. Ou talvez deseje ultrapassar a barreira da arrebentação e flutuar sobre as águas tépidas, sentindo o sol docemente me lamber a pele salgada [apenas o suficiente para curar as feridas] e me deitar tranquila sobre a cama um pouco mais azul que o mar. 

O estômago se revolve mais  que sereias de nácar verdemar dançando no fundo do mar. Sou eu, Alberto, Maria Anita a procurar a paz depois das tormentas. 

Desejo que a carta o encontre bem - e tranquilo - como as montanhas das Gerais.

Forte abraço,

A.L.

Vestida de Mar - Carta a Alberto Tibagi

quem sente a suave brisa marinha
 desse meu olhar sereno
 sequer pode supor as tormentas
 do oceano que trago em mim (a autora)


...E quando me ponho de pé outra onda vem, me puxa pelos calcanhares, derruba, arrastada pelas línguas ferinas do mar nas areias grossas, mal posso respirar. Levanto, puxo um bocado de ar [nem posso abrir os olhos - ardem - vejo o beijo violento do mar] caio de novo e de novo e de novo. 

Por um instante sinto o cheiro desfocado de céu azul e de sol. O dia está lindo. Sinto o gosto salgado de água rasgando a garganta e os olhos. Puxo mais um bocado de ar para novamente cair e me embolar na areia: por um segundo - ou pouco mais - o peso dessa luta inglória [contra algo que se mostra a cada instante mais forte], cai sobre mim. 

Nesse mísero segundo [redentor] desejo encontrar aquela casa de cristal, na rua de madrepérolas descrita por Alfonsina. Desejo me entregar e permitir que as ondas que ora me derrubam, simplesmente me arrastem suave para o fundo, ao encontro do grande peixe de ouro que às cinco horas vem nos cumprimentar. Ou talvez deseje ultrapassar a barreira da arrebentação e flutuar sobre as águas tépidas, sentindo o sol docemente me lamber a pele salgada [apenas o suficiente para curar as feridas] e me deitar tranquila sobre a cama um pouco mais azul que o mar. 

O estômago se revolve mais  que sereias de nácar verdemar dançando no fundo do mar. Sou eu, Alberto, Maria Anita a procurar a paz depois das tormentas. 

Desejo que a carta o encontre bem - e tranquilo - como as montanhas das Gerais.

Forte abraço,

A.L.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Livros, leituras e Literaturas em Tempos de Internet: O Debate

Livros, leituras e literaturas em tempos de internet: um olhar sobre o campo literário brasileiro foi o tema que propus no edital da FUNARTE ano passado. Era um pré-projeto de mestrado que aproveitei quando surgiu a oportunidade da seleção pública. Fui aprovada! [e agora?]

Procurei um professor da UnB que transita neste tema. Fui super bem acolhida e ele tem me orientado, sugerindo leituras e a ordem do trabalho. Li quase tudo [engasguei num dos pilares: As regras da arte], mas ainda assim abri perspectivas várias, inclusive a de que talvez o campo literário [ou artístico] ainda seja profundamente movimentado pelos velhos legitimadores da época de Flaubert, à despeito das novas tecnologias. 

A confirmação desta suspeita veio de minha experiência no governo federal - Ministério da Cultura - nas gestões de Gilberto Gil e de Juca Ferreira (dois últimos Ministros da Cultura); com artigo de Márcia Denser publicado no site Congressoemfoco; e, à despeito das economias estarem ruindo mundo a fora, com a certeza de que mercado ainda é mercado. 

O que de novo pude constatar até agora, do ponto de vista de agentes legitimadores [da literatura ou não] é que as redes têm conferido autoridade a novos agentes, propiciando que idéias circulem a partir de novos lugares, de outras cabeças, provocando deslocamentos e colocando a velha mídia em posição de cheque. 

O impacto desses deslocamentos de autoridade é bastante perceptível quando se trata de veículos de comunicação, mas chegar até o campo literário é uma travessia que não logrei êxito ainda. Para falar a verdade não enxerguei realmente esse deslocamento quando se trata de campo literário. O que percebo é que os deslocamentos ocorridos quanto aos legitimados nos últimos 8 anos obedece às regras do próprio campo literário, conforme a teoria de Bourdieu. Estarei cega?

Em linhas muito gerais, estou desenvolvendo esses tópicos: agentes legitimadores, deslocamento de autoridade. [acho que estas seriam as tags], a partir dos conceitos de campo literário e de redes sociais.




quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diário de Bordo - Tiradentes - Tantos sabores...

Falar de Minas é contar das comidinhas de boteco, da culinária mineira: deliciosa [e calórica] e a doçaria daquelas paragens, que é de babar. Quem abre mão de um pururuca com tutu de feijão ou de um frango com  ora pro nobis? Em Tiradentes tem isso e muito mais.

foto encontrada na Wikipedia. Autor desconhecido.


Não sabe o que é ora pro nobis? Conto e mostro! Esse vegetal preparado como se couve fosse, super rico em ferro, tem textura e sabor muito próprios. Usado para acompanhar frango com angú ou apenas ''afogadinho'' é digno de registro. Olha dona Maria na foto abaixo, do restaurante que leva o nome do vegetal [Ora pro nobis] (Tiradentes/MG) colhendo para levar para a cozinha.


foto: Maria Cláudia Cabral - Restaurante Ora pro nobis 

Minas tem dessas coisas, mas tem mais ainda...A tradição dos doces, que em Tiradentes responde pelo nome de ''seu Chico doceiro''. Especialista em delícias como os doces de abóbora, de batata doce, de leite, de figo recheado de doce de leite e, [humm] os canudinhos (crocantes) recheados de doce de leite. É uma perdição santa! Reza a lenda que em feriado, se não for ao ''seu Chico'' logo no primeiro dia, fica sem doce.

foto:Maria Cláudia Cabral - Seu Chico Doceiro e o doce de abóbora.

A doçaria fantástica não rouba a atenção do lindo artesanato da região, tampouco das belas construções coloniais [barrocas? um arquiteto me ajude!], das igrejas e da religiosidade arraigada do povo. Quer ver?

foto: Maria Cláudia Cabral - Casal Minerim
O casal mineiro esculpido em madeira e bastante colorido, assim como as rosas feitas de ferro [lata?], que ornamentam castiçais, suportes para bolsas e chaves, e as galinhas poedeiras d'angola são o que mais se vê por aquelas bandas, além claro das colchas feitas em tear manual e as famosíssimas panelas de pedra [sonho realizado]. 

foto: Maria Cláudia Cabral - A cruz na porta de casa.

A cruz na porta de casa (outro item do artesanato local muito lindo e facilmente encontrado) é uma tradição da região, que era muito visitada por tropeiros. Diz a estória que quando eles vinham, as pessoas colocavam as cruzes na porta de casa para indicar que ali era ''casa de família'' e assim, diferenciar das casas das ''moças de vida difícil'' [ e não venha me dizer que a vida delas é fácil!].


foto: Maria Cláudia Cabral - Chafariz

O chafariz também está impregnado de crenças. Diz a lenda que as moças precisam tomar água das três bicas para poderem casar. Não sou exatamente superticiosa, já me casei de véu-grinalda-e-flor-de-laranjeira, já juntei trapinhos e tals, mas sabe-se lá, né? Então tomei a água das três bicas, mau não há de fazer. [e não fez!]

Cadê as igrejas? Ixi! Ó, vou confessar logo antes que alguém conte. Eu não fui à Igreja da Matriz em Tiradentes #prontofalei! Fiquei vendo artesanato, encantada fotografando ora pro nóbis, casais de madeira, barro, tecido, galinhas, chafariz, ruas de pedra, experimentando doces...falando com gente desconhecida na rua[tá, fiquei vermelha]. Mas a igreja tá lá, eu pretendo voltar e não to com medo de arder no fogo do inferno.

Entrou por uma porta, saiu pela outra... 

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Diário de Bordo São João Del Rei - Onde terá bolinho de feijão?

Disse que Tiradentes é linda e Caminho do Bichinho é para ir e ficar [pelo menos por seis meses]. Há muitas Minas em Minas. De volta para casa, tempo apenas para escrever o último post e voltar para a rua [fria] em busca do famoso bolinho de feijão.

Segundo nos contaram é feito de feijão fradinho [seria um primo do acarajé?]. Na primeira noite buscamos em vão a iguaria. Agora, seguindo uma outra pista fomos ao Armazém Bar. Tinha bolinho de feijão, mas estava em falta [entendeu?].

Então pedimos pastéizinhos de angú. Eles podem vir recheados de carne, queijo ou frango. Reza a lenda que em alguns lugares são recheados com carne e coração de bananeira. [preciso descobrir a receita da massa : rechear com oropronóbis ou couve ou jiló ou abóbora]. Dizem que a receita é segredos das Minas, acredito, mas que vou tentar, vou! Conto depois a aventura [e, sim, convido para provar!]


Também experimentamos babata mola. Essa aí em cima. Tá, está visto. Noite fria chegando ao fim [bora para debaixo dos cobertores?]

Entrou por uma porta, não saiu pela outra.