quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diário de Bordo - Tiradentes - Tantos sabores...

Falar de Minas é contar das comidinhas de boteco, da culinária mineira: deliciosa [e calórica] e a doçaria daquelas paragens, que é de babar. Quem abre mão de um pururuca com tutu de feijão ou de um frango com  ora pro nobis? Em Tiradentes tem isso e muito mais.

foto encontrada na Wikipedia. Autor desconhecido.


Não sabe o que é ora pro nobis? Conto e mostro! Esse vegetal preparado como se couve fosse, super rico em ferro, tem textura e sabor muito próprios. Usado para acompanhar frango com angú ou apenas ''afogadinho'' é digno de registro. Olha dona Maria na foto abaixo, do restaurante que leva o nome do vegetal [Ora pro nobis] (Tiradentes/MG) colhendo para levar para a cozinha.


foto: Maria Cláudia Cabral - Restaurante Ora pro nobis 

Minas tem dessas coisas, mas tem mais ainda...A tradição dos doces, que em Tiradentes responde pelo nome de ''seu Chico doceiro''. Especialista em delícias como os doces de abóbora, de batata doce, de leite, de figo recheado de doce de leite e, [humm] os canudinhos (crocantes) recheados de doce de leite. É uma perdição santa! Reza a lenda que em feriado, se não for ao ''seu Chico'' logo no primeiro dia, fica sem doce.

foto:Maria Cláudia Cabral - Seu Chico Doceiro e o doce de abóbora.

A doçaria fantástica não rouba a atenção do lindo artesanato da região, tampouco das belas construções coloniais [barrocas? um arquiteto me ajude!], das igrejas e da religiosidade arraigada do povo. Quer ver?

foto: Maria Cláudia Cabral - Casal Minerim
O casal mineiro esculpido em madeira e bastante colorido, assim como as rosas feitas de ferro [lata?], que ornamentam castiçais, suportes para bolsas e chaves, e as galinhas poedeiras d'angola são o que mais se vê por aquelas bandas, além claro das colchas feitas em tear manual e as famosíssimas panelas de pedra [sonho realizado]. 

foto: Maria Cláudia Cabral - A cruz na porta de casa.

A cruz na porta de casa (outro item do artesanato local muito lindo e facilmente encontrado) é uma tradição da região, que era muito visitada por tropeiros. Diz a estória que quando eles vinham, as pessoas colocavam as cruzes na porta de casa para indicar que ali era ''casa de família'' e assim, diferenciar das casas das ''moças de vida difícil'' [ e não venha me dizer que a vida delas é fácil!].


foto: Maria Cláudia Cabral - Chafariz

O chafariz também está impregnado de crenças. Diz a lenda que as moças precisam tomar água das três bicas para poderem casar. Não sou exatamente superticiosa, já me casei de véu-grinalda-e-flor-de-laranjeira, já juntei trapinhos e tals, mas sabe-se lá, né? Então tomei a água das três bicas, mau não há de fazer. [e não fez!]

Cadê as igrejas? Ixi! Ó, vou confessar logo antes que alguém conte. Eu não fui à Igreja da Matriz em Tiradentes #prontofalei! Fiquei vendo artesanato, encantada fotografando ora pro nóbis, casais de madeira, barro, tecido, galinhas, chafariz, ruas de pedra, experimentando doces...falando com gente desconhecida na rua[tá, fiquei vermelha]. Mas a igreja tá lá, eu pretendo voltar e não to com medo de arder no fogo do inferno.

Entrou por uma porta, saiu pela outra... 

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Diário de Bordo São João Del Rei - Onde terá bolinho de feijão?

Disse que Tiradentes é linda e Caminho do Bichinho é para ir e ficar [pelo menos por seis meses]. Há muitas Minas em Minas. De volta para casa, tempo apenas para escrever o último post e voltar para a rua [fria] em busca do famoso bolinho de feijão.

Segundo nos contaram é feito de feijão fradinho [seria um primo do acarajé?]. Na primeira noite buscamos em vão a iguaria. Agora, seguindo uma outra pista fomos ao Armazém Bar. Tinha bolinho de feijão, mas estava em falta [entendeu?].

Então pedimos pastéizinhos de angú. Eles podem vir recheados de carne, queijo ou frango. Reza a lenda que em alguns lugares são recheados com carne e coração de bananeira. [preciso descobrir a receita da massa : rechear com oropronóbis ou couve ou jiló ou abóbora]. Dizem que a receita é segredos das Minas, acredito, mas que vou tentar, vou! Conto depois a aventura [e, sim, convido para provar!]


Também experimentamos babata mola. Essa aí em cima. Tá, está visto. Noite fria chegando ao fim [bora para debaixo dos cobertores?]

Entrou por uma porta, não saiu pela outra. 

sábado, 25 de junho de 2011

Diário de Bordo São João Del Rei - Desvendando o território

Minas Gerais e suas cidades históricas. Cidades são organismos vivos irrigados pelos fluxos da história. Não a história cristalizada em livros empoeirados, mas aquela que se escreve e reescreve dia após dia. História flui nas veias da cidade e de seus habitantes.  Proteger e preservar o patrimônio histórico é importante.


foto: Maria Claudia Cabral - Igreja do Carmo

Mas como se protege um organismo vivo sem asfixiá-lo, interrompendo fluxos e cristalizando a história? Não saberia responder de pronto, mas juro que me inquietou ao percorrer o centro histórico de São João e Tiradentes.  


foto: Maria Cláudia Cabral - Chafariz da Serra de São José


 Vi tanta gente a mirar os prédios e as igrejas como se estivessem enjaulados, quase fora de seus habitats naturais. Fluxos artificiais? Artesanato belo, com peças já corrompidas pela produção em série [morte da autenticidade?], mas presente também nichos de resistência, releituras, interpretações, representações e tradições preservadas vivas. 

foto: Maria Cláudia Cabral - O Casal


 Percursos 'hechos', rendição total aos sabores de Minas. Cachacinhas, petiscos, coisinhas deliciosas...Quem faz dieta nas Gerais ou é ruim da cabeça ou doente do pé. E o Restaurante da Joana iluminou nossas vidas, enchendo a tarde de puro prazer [e que prazer!]. Mas a foto abaixo não é do Restaurante da Joana, tá?


foto: Maria Cláudia Cabral - Fogão à Lenha: Restaurante Oropronóbis
Delícias e malícias à parte, seguimos para a Oficina de Agosto, mais representativo espaço de artesanato de Bichinho. Fotografar é proibido[ #prontofalei], por que vou gastar meu latim? Nada mais a dizer do lugar.

De volta para o aconchego do lar [de Tiba], seguimos estrada além. Cansou só de ler? Eu também! Mas adolescentes não cansam jamais, logo ainda não acabou a aventura do dia.


Entrou por uma porta e desceu pela outra!

P.S. Muito ainda para contar.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Diário de Bordo - São João Del Rei e vizinhança

Tiradentes, Caminho do Bichinho, Minas Gerais. As Gerais, uai! A-do-ro. E preciso voltar, antes mesmo de partir. Ontem à noite, depois da aventura pelas estradas ''resolvemos fazer algo diferente'' [o bordão oficial da aventura]. Após o merecido banho, rua! Tomamos a cidade de assalto, percorremos os principais pontos, as ruelas e os becos. Olhamos a noite fria de Del Rei para ao final de uma busca desesperada pelos famosos bolinhos de feijão, nos deliciarmos [ladeira acima] no Pena, com pasteizinhos de angú. Afinal, vir a Minas e não ir a boteco é pecado [mortal] e não provar a comida é pecado [capital].



A receita é segredo guardado a sete chaves por aqui. Reinventei o recheio e não sossego enquanto não conseguir fazer em casa, com os recheios que povoaram meus sonhos noite passada [me aguardem!]. Recolhemos os adolescentes pouco depois da meia-noite, nariz anestesiado de frio [é, tá gelado por aqui].

Entrou por uma porta saiu pela outra, por que agora eu vou voltar a fazer pesquisa antropológica pelas ruas de paralelepípedos de São João.  Amanhã, conto as aventuras do dia de hoje [muitas, muitas, muitas]. 

Em busca dos bolinhos de feijão perdidos... 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Diário de Bordo - São João Del Rei - MG

'Nesse feriado resolvi fazer algo diferente' :Thelma, Louise e 3 adolescentes num Ford Ka rumo a São João del Rei, Minas Gerais. Origem: Brasília-DF. Percurso registrado no Facebook a cada sinal de 3G ativo - o que não era exatamente corriqueiro na estrada.

A aventura começou às 6h da manhã. Porta bagagens lotado [um erro homérico, descobriu-se depois]. Decidimos viver o percurso, viajando sem pressa. 269km depois, paramos em Paracatu, logo após superar  uma 'saliência' não registrada. Café, refrigerante, biscoitos de queijo, alongamento, check-in no Facebook. E, claro, uma nuvem de saudade, trazida do DF por duas Harleys dos Carcarás... [neste trecho ouça a trilha sonora de 7 Homens e um destino]



Caminho com redemoinhos de folhas amarelas, magentas, vermelhas de outono, em pleno inverno. Seguimos adiante rumo a Três Marias, em busca de um restaurante beira rio. Não foi difícil encontrar, duas centenas de kilometros depois. O Rei do Peixe foi nosso escolhido.

foto: Maria Cláudia Cabral - Rei do Peixe - Três Marias - MG 
Às margens do Velho Chico comemos uma peixada à baiana, com pimenta, ar puro, serenidade, alegria, amizade...trem bão, sô. Só não recomendo o café mineiro [açúcar com café]. Registramos o painel com vários [mesmo] adesivos de motoclubes do Distrito Federal e o reencontro com os parceiros de estrada ''os Carcarás'' encontrados em Paracatu.

Caminho da roça que ainda nos faltam mais de 5 centenas de kilometros, momento de revezar o volante e registrar a estrada. E é aí que vem o grande barato, no percurso nunca sabemos quando algo extraordinário vai aparecer. Atenção! É preciso estar alerta, máquina em punho, pronta para registrar. Não aconteceu o redemoinho de folhas [não registrado - eu estava no volante]. Mas, o exercício aprendido de atenção concentrada valeu.  Trecho mais lento, muitos caminhões. Rumo a BH.

Três horas depois, entramos na capital das Gerais. Via expressa... cansaço, vontade de chegar [e logo] vários pardais queimados no caminho: tomamos o rumo . O rumo do ''pão c/ linguiça'', dezenas de plaquinhas depois fechamos questão: O pão com linguiça é uma instituição mineira, se for pão de queijo ainda, não resta dúvida.

O céu escureceu antes que parássemos em Congonhas para fazer o revezamento de direção. Claro que tive de viver a viagem pelo paladar e experimentar a tal instituição de Minas. Provei e aprovei. Eram 18h em Minas Gerais quando saímos para a última e mais linda etapa da viagem.

Entramos na estrada em direção a São João Del Rei e um novo mundo se descortinou. A Estrada Real é muito bem sinalizada, serpenteia sem titubear por uma hora, atravessando cidadelas poéticas, inclusive a mais famosa produtora de rocambole [Lagoa Dourada]. Momento saudades de aventura ainda não vivida.

Quase lá, quase lá... Caminho do Bichinho, Cel Xavier Chaves, Resende Costa [não necessariamente nesta mesma ordem] e finalmente... São João del Rei!!

Chegamos ao destino, exaustos de caminho percorrido intensamente.

Viajar é preciso. Viajar é viver. Vivemos.