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Tia Vera e Walderez - salvas do naufrágio do navio Itagiba 1942. |
Coisa curiosa acaba de me acontecer. Acessei uma memória gustativa, um sabor da infância e imediatamente voltei àqueles dias. Quando criança, nas férias de verão em
Fortaleza, experimentava os sabores da casa de minha avó Madalena e ouvia, atenta, as histórias e as estórias de meu avô Tito Canto. Lá experimentei sapoti - fruta predileta da época - biscoito maizena molhado no café e jerimum com leite.
Ainda há pouquinho, abri a geladeira despretensiosa, peguei um iogurte sabor natural, abri e ao sentir o cheiro imediatamente as sensações daqueles anos voltaram. Quase senti o gosto do iogurte Cila (será que ainda existe?) quando lambi a tampa metálica que cobria o laticínio. Fechei os olhos e viajei no túnel do tempo. Mergulhei nos doces anos em que as tardes eram feitas de brincadeiras no quintal e os sabores eram sempre novidade.
Era dada a fazer artes, criança curiosa que fui. Adorava explorar todas as possibilidades do 'bureau'' do meu avô. Feito de madeira maciça muitas vezes me diverti descobrindo o conteúdo das gavetas. Assim foi que certo dia encontrei a revista 43, que trazia foto dele e de minha
tia Vera. Fora
torpedeado o navio que os levava a Recife (vô, o que é torpedeado?) nos idos da Segunda Grande Guerra e razão pela qual o Brasil aderiu ao embate.
Sensação boa essa de saber de onde venho, ter lembranças, afetos... Quase posso sentir o vento de fim de tarde na varanda d'avó, o balanço da rede do vô. Quase posso ouvir sua voz chamando as'' três Marias'' para as sessões de estórias, hora dileta do dia.