sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Diário de Bordo - Lisboa II

A viagem a Lisboa foi uma pausa na vida. Embora tenha ido a trabalho para A Coruña (é assim mesmo que se escreve em galego) e tenha tido uma reunião em Lisboa, todas as outras horas de minha estada em Portugal foram dedicadas a aproveitar os dias. 



Dias quentes aqueles,  jamais tinha ido à Europa no verão. Só de lembrar meus olhos se enchem daquele brilho distinto, e  deslizam lânguidos para o alto, buscando dar corpo às lembranças dos dias idos. 
Sentia-me feliz e abençoada só de estar ali, sentindo o tempo passar por mim preguiçoso, enquanto eu, feito criança, saltitava aqui, ali e acolá. 














Visitar o Museu do Fado foi uma experiência incrível. Confesso que entrei um pouco pelo tema e muito pelo calor que fazia fora. Sabia nada sobre o fado, exceto que é música tradicional lusa, que Chico Buarque compusera um e que Amália Rodrigues é uma de suas deusas. É claro que conheço Madredeus, que gosto sem saber se é fado ou não, mas me dêem licença poética para exagerar sobre minha ignorância a cerca do tema, afinal isso me garante algo de mágico à narrativa.



A ordem dada ao Museu não chega a ser de todo interessante, no entanto, o quanto aprendi cercada de fado por todos os lados, o quanto senti cada nota percorrer-me a pele, os olhos e os ouvidos num carinho envolvente e melancólico, como um fim de tarde com brisa, sem ser triste.
 
Descobri que há algo de contestação no fado, que nasceu nos portos de Lisboa. Algo que li no Museu e que, segundo alguns, por imprecisão histórica não está expresso, mas implícito aqui e acolá, como se os portugueses não se orgulhassem dessa origem popular e malandra do fado. Confesso aos irmãos do outro lado do oceano, que foi justamente essas origens 'na resistência' que mais me encantaram. 

A cada linha que lia sobre a história do fado em seu museu, lembrava-me da história da capoeira no Brasil, razão de rótulos e comentários que ligavam  sua prática à vadiagem e à vida desregrada das periferias, dos portos em nosso país.

Bebendo um pouco mais na fonte, não pude deixar de relacioná-lo ao movimento hip hop e via, no fado, um irmão bem mais velho do rap, por suas origens e sua história ligada ao povo, às ruas e aos primórdios da globalização construída por Portugal no período das grandes navegações. 

Há, certamente no fado, um lirismo melancólico da gente do lado de lá do oceano, que é fascinante. As horas no Museu passaram sem que eu pudesse sorver tudo o que me poderia proporcionar. Saí triste por não poder ver tudo, mas com uma felicidade intimista, que creio, só o fado pode propiciar. 

foto:Maria Cláudia Cabral
Em frente ao Museu está o Largo do Chafariz de Dentro, em que charmosas tascas servem a esplêndida comida portuguesa - com certeza! Lá, experimentei Ameijoas à Bulhão Pato, iguaria tradicional que enlouquece os sentidos. Estando de frente para o Largo, o primeiro restaurante a sua esquerda, serve as melhores ameijoas que provei em Lisboa, combinadas com super simpático atendimento de Cecília e uma geladíssima completaram mais uma tarde  incrível na capital lusa. Recomendo fortemente a experiência (da capital lusa, do museu do fado e da gelada com ameijoas no Largo).


Se você, como eu, quis saber mais, sugiro abaixo alguns links que tratam sobre o fado:

http://www.edusurfa.pt/Area.asp?seccao=2&area=6&artigoid=7907

 http://pt.shvoong.com/books/1735220-hist%C3%B3ria-fado/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fado

http://youtube.com/fado




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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Há Muitas Marias em Mim


Há muitas Marias em mim:

Maria das Graças, Maria Das Dores
Maria Aparecida, Maria Auxiliadora
Maria-Maria
Maria, lutadora

Há Maria Sem-Vergonha
Maria Imaculada,
Maria sonhadora, Maria desbocada


Há Maria Madalena,
Maria Anunciada,
Maria, Marias
Maria, inconformada

Há Maria sem-certeza
Maria gasolina,
Maria sem terra, sem teto
Maria, deslocada

Cadê Maria Coragem
Maria cheia-de-graça
Maria, só Maria
Maria, descolada?

Há tantas Marias em mim,
Tantas que nem sei dizer

Maria faca-na-bota,
Maria, Mariazinha

Cá está Maria, simplesmente Marias.








terça-feira, 12 de outubro de 2010

Feitiço da Lua

No final dos 80 tive a oportunidade de ver Cher no cinema protagonizando um triangulo amoroso com Nicolas Cage e Vincent Gardenia. Era Feitiço da Lua, comédia de costumes de Norman Jewison, lançado em 1987.

Há nessa película algo de inesquecível, a receita de ovo com pão de forma, que trago a vida inteira comigo. Quando quis que meus filhos experimentassem ovo, foi com essa receita que eu os encantei. Eu a chamava Ovo Mágico e eles até hoje, já crescidos, vez ou outra, me pedem para fazer o Ovo Mágico. Foi assim nesse feriado.

É uma receita bem simples, fácil de fazer, deliciosa e boa para aqueles que gostam de dormir até mais tarde no domingo (ou no feriado). 

Posso garantir que também é ótima quando quiser fazer uma graça com o/a namorado/a, servindo um desjejum charmoso. Neste caso, recomendo fortemente que prepare uma bela bandeja e leve na cama, tiro e queda.

Para fazer Ovos Mágicos basta:

  • Ovos
  • Manteiga (por favor, use manteiga e não margarina, salvo se tiver problemas com colesterol ou artérias obstruídas);
  • Pão de forma, preferencialmente integral;
  • Sal à gosto.

É um tanto contraditório fazer questão de manteiga e não abrir mão do pão integral'. Bom, penso que já estou investindo meus créditos na manteiga, então, preciso garantir pelo menos o pão integral.
Para prepará-los, como disse, é simples:

Colocar um pouquinho - pouco mesmo - de manteiga para derreter na frigideira (antiaderente). Tomar uma fatia de pão, remover um pequeno pedaço do centro, formando um círculo de aproximadamente 3cm de diâmetro. Colocar sobre a manteiga aquecida por alguns segundos, virar o pão e colocar mais uma porçãozinha de manteiga dentro do círculo e abrir o ovo nesse espaço. Fogo brando. Tampe para que possa cozinhar por igual, mas...

...Não vai cozinhar por igual, são décadas tentando, acredite. Em algum momento você precisará virar o pão. Neste caso, faça rapidamente e sem quebrar a gema (fica feio). Deixe por alguns segundos, apenas para finalizar o cozimento da clara. 

Deite sobre um prato, com a gema para cima e acompanhe com café, uma fruta e um laticínio, a fim de que a refeição seja nutritivamente completa.


Delicioso e aconchegante. Enjoy it!




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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Receita na Madrugada

Acontece comigo algo curioso quando vou a Porto Alegre, bah! Acordo no meio da noite com alguma receita diferente na cabeça. Este ano fui duas vezes à cidade e foi tiro certo. A primeira foi em maio e era quase uma estréia. Missão de trabalho, mas um trabalho que me encheu os olhos e o coração de alegria. Fui para a Feira Nacional de Agricultura e Reforma Agrária - Brasil Rural Contemporâneo.

Entre tantos empreendimentos de Agricultural Familiar no Brasil, tive acesso a sabores incríveis. Produtos orgânicos ou produzidos a partir de matéria prima orgânica, plantados e colhidos por famílias agricultoras de várias partes do país. Assim conheci Anete, uma figura linda e mágica. Anete cria geléias e antepastos incríveis em Rolândia, no Paraná.

Eu, conversadeira que sou, louca por forno e por fogão, estiquei uma conversinha com Anete entre uma corrida aqui e outra acolá. Papo vai, papo vem Anete me desafia 'E com essa geléia aqui, que prato você faria?'

O sabor era incrível, fresco, levemente ácido, sutilmente apimentado... Hummm. Em fração de segundos vi diante de mim um maravilhoso lombo de filhote, branco e tenro.

- Filhote! - respondi - ficaria maravilhosa acompanhando um lombo de filhote assado, Anete.

-Filhote?

-Sim, é um peixe da Amazônia espetacular, também conhecido na região como piraíba. Carne tenra e muito branca, o filhote pode chegar a 2m de cumprimento e a pesar 300kg e fica excelente assado, grelhado, preservado seu sabor delicado e único. 

Pouco depois despedimo-nos e eu segui o corre-corre do dia e da noite. Cheguei ao hotel exausta, tanto que caí na cama o mais cedo que pude e apaguei. Meio da madrugada meus olhos se abrem alertas. Olho o relógio que luminoso marca 03:25. Sento na cama, tento entender o que se passa. E aí vem...

Lombo de filhote assado, temperado apenas com sal e sementes de coentro moídas, acompanhado de risoto de abóbora menina puxado em leite especial de castanhas e a maravilhosa geléia de Anete. Em fast motion vi o prato sendo preparado bem diante dos meus olhos, enquanto as papilas gustativas se ouriçavam e a boca enchia-se d'água.

Dia seguinte, logo cedo fui procurar Anete. Descrevi a receita em minúcias e disse categórica: 'Vai ficar maravilhoso!' 

 - Estou certa que sim. Um chef que passou por aqui, ao provar a geléia, disse o mesmo quanto ao filhote.


Desde então espero uma alma caridosa que me traga um belo lombo de filhote da Amazônia para que possa materializar a comunicação vinda do além. Filhotes encontrados na Feira do Guará  são pequeninos, medem cerca de 50cm (máximo que já encontrei) não têm o lombo do sonho.Sigo desejando experimentar essa primeira receita vinda do além, a outra já foi testada e aprovada pelos amigos e será compartilhada aqui em algum próximo post.

Por hora, com fome desejo a todos: Bom apetite!







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