quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Diário de Santiago de Compostela

Desnecessário dizer que estando na Galícia tinha de ir a Santiago de Compostela, sua capital. A cidade, mundialmente conhecida em razão das peregrinações, é um primor. Ruas estreitas, prédios antiquíssimos,  janelas estupendas.

É, claro, um destino de turismo religioso, que mostra a força da fé e da igreja católica na mobilização de seus fiéis. Nesse ponto, assusta perceber um comportamento algo alienado e o bom e velho comércio dos objetos santos. 

Eu mesma, passando por Santiago, não poderia deixar de fazer mãe, avó e ex-sogra felizes, por isso tratei de adquirir uns rosários para presentear. Senti-me pouco confortável, mas, como cada ser sabe sua jornada, em respeito a la madre, la abuela y la abuela de los niños, investi alguns euros para um lote no céu.

Além do comércio da fé, desanima o tamanho das filas para a visita (paga) à catedral. Entendam, nem na Notre Dame eu entrei, em razão da fila, não seria em Compostela que o faria. Não sou o tipo de viajante que faz qualquer coisa para carimbar a "cartela dos monumentos visitados", ao contrário, prefiro percorrer as ruas, preferencialmente sair do circuito turístico e tentar, na medida do possível, interagir com os locais, suas histórias e os sabores tradicionais da região. 

Aliás, posso afirmar que tenho tido muita sorte, e por isso sou imensamente grata, porque venho encontrando pessoas incríveis nos lugares por onde tenho passado, dispostas a contar-me a história que está por detrás dos discursos dos guias. 

Em Santiago não foi diferente. Depois de de um tour rápido pelas várias praças e igrejas. Depois de fotografar todos os monumentos e suas filas monumentais, encontramos nossas anfitriãs em Santiago: Ana, Bea e Pilar, da e-burbulla. Aí começou a parte mais interessante da viagem. Ouvimos comentários ótimos sobre a cidade, rimos, experimentamos um autêntico Albariño (vinho típico da Galícia), que lamento não ter comprado para levar ao Brasil. 

Albariño é branco, seco e refrescante. Um vinho que alegra e que traduz um verão como poucos. As meninas de e-burbulla nos passaram uma bela lista de albariños de responsa, embora hoje saiba que não será muito fácil encontrá-los no Brasil. 

Mas o Albariño foi apenas o aperitivo para o que viria depois, logo mudamos de paragem e fomos a um pequeno restaurante de um amigo de Ana, num beco estreito e escondido, em que experimentamos picadas regionais. Pimientos grelhados, peixinhos fritos e, no meu caso, vieiras. A coloquei na boca, pedaço por pedaço deixando que o sabor fosse pouco a pouco tomando conta da boca, claro, pão para passar no prato, limpando os restos de molho. Para acompanhar uma clara com limón - bebida que consiste em meio copo de cerveja preenchido com suco de limão galego. Estupidamente gelado e refrescante a mistura é deliciosa, daquelas que dá vontade de tomar várias. 

A sobremesa não poderia ser outra, pedi a tradicional torta de santiago, mais por uma necessidade incontrolável de experimentar que por fome.  Um leve sabor de laranja permeia a massa fresca e macia de trigo e o sabor vai se abrindo em flores dentro da boca, enchendo de prazer quase sexual quem a experimenta. A torta, especialidade do lugar, é imperdível.

Terminada a comilança, partimos para uma cafeteria debruçada sobre a colina, num belíssimo jardim interno, onde seguimos por toda a tarde entre copas de água, licores e cafés, trocando confidências e sonhos.  As horas passaram lentas enquanto ríamos e contávamos histórias muito nossas, "conversas de menina," histórias de 6 mulheres de diferentes nacionalidades que o destino reuniu em Compostela, naquela tarde de verão inesquecível. 

Fim de tarde, fizemos nosso próprio percurso, uma caminhada por dentro sob o olhar atento e atencioso umas das outras. Merece um brinde: Que o dia em Santiago seja apenas o primeiro de uma série de brindes e parcerias com essas mulheres guerreiras e doces de Santiago de Compostela, de Berlim e de Buenos Aires!

P.S. Sem a foto planejada, mas como todo meu coração.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Diário de Bordo: A Coruña - La Coruña

A Galícia fica  na parte noroeste de Espanha, e talvez alguns não saibam, mas lá se fala Galego, idioma que parece  português com sotaque espanhol. Certamente é bem mais que isso, como se pode perceber abrindo os ouvidos para os sons e os olhos para a escrita. Ali se encontra o mais antigo farol do mundo, o único farol romano ainda em funcionamento.

De toda maneira, não sou o tipo de pessoa que conhece os lugares por enciclopédia. Sempre dou um google antes de partir, vejo clima e principais atrações, no entanto, sou adepta de conhecer as pessoas, a comida, as ruas. Andar como e com os locais, ir aonde vão para de fato sentir a cidade e seu povo. Na Galícia não foi diferente.

Assim, minha primeira experiência foi jantar num restaurante frequentado por galegos, especializado em frutos do mar. El 10, localizado na Praça da Espanha, que me foi muito bem recomendado por Jesus, o motorista que me buscou no aeroporto. Lá chegando, após alguma espera, fui recebida com alguma resistência por um dos garçons. Restaurante cheio e eu querendo mesa para umA. Paciência. Ia comer aqueles mariscos, com certeza. Exercito a calma e digo, sem medo de estar exagerando, valeu a pena. Acompanhada da cerveja local , uma resfrescante Estrella Galícia, servida "a pressão", esperimentei os mexilhões da regiºao, servidos com molho e, a tradicional+issima centolla.

O sabor é adocicado, lembrando um pouco lagosta, a carne tenra e muito branca e odor suave de ondas do mar. Interessante enquanto sujava meus dedos comendo o crustáceo foi perceber que o odor não é forte ou ácido como o dos caranguejos. Ao contrário, é tão suave quanto o próprio sabor. Saboreei cada parte longamente, numa ode ao prazer. Embora só, foram momentos plenos, em que o prazer de sentir a Galícia na ponta dos dedos e na boca me proporcionou uma viagem sensorial nova e aconchegante, provocando sentimentos e reflexões que me fizeram companhia durante todo o jantar.



A diferença de fuso me fez perambular pelas ruas do centro, passar pela famosa Praça Maria Pita, cheia de turistas, por horas ainda, até que fosse, finalmente deitar-me no quarto do hotel. Ainda assim, custei um bocado a dormir, finalmente apaguei por volta das 2h30, hora local (23h em Brasília). Afinal, no dia seguinte faria minha apresentação durante a Festa Dos Mundos seria às 17h, compartilhando a mesa sobre Diversidade Cultural e Sustentabilidade com o coletivo Migrantas, de Berlim e o tema das mulheres migrantas de Cabo Verde e a tradição do batuque não apenas como manifestção cultural tradicional, como também exercício de autonomia e empoderamento, apresentadas pela antropóloga Luzía Oca.




(desenhos do coletivo Migrantas) 

Por fim, aproveitar os shows da programação musical da Festa, depois de mais uma vez experimentar os sabores de A Coruña (galego) comendo  tradicional pulpo*, acompanhado de uma clara com limón (metade cerveja, metade suco de limão - chamado por nós de siciliano e por eles de galego). Experimente a Galícia!

*A foto do fabuloso prato de polvo, fico devendo, por que não pude baixar ainda.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Princípio da Abundância

Sim, sei que pareceu auto-ajuda esse título. Não, não temo que o conteúdo também pareça. E porque? Bem, por que é o que sinto e o que tenho vontade de compartilhar porque me inundou de uma maneira muito forte quando coloquei os pés no aeroporto de Lisboa - em pleno verão europeu! - no último dia 06 de agosto. Mas essa sensação de abundância não iniciou neste verão, então proponho uma visita rápida no último verão brasileiro (Jan/2010).


Viajei a Fortaleza para descansar muito, curtir muito a praia, o sol e a família, não sem antes receber a notícia de que o departamento de RH da organização em que trabalhava havia cometido um pequeno equívoco em relação às minhas férias e eu não havia recebido os recursos financeiros para tal. Well... Não foi uma boa notícia, mesmo para alguém que ia hospedar-se no sofá da própria irmã.




Foram as melhores férias em muito tempo. Não havia dinheiro, mas quando começo a respirar o ar morno do litoral, logo começo a sentir tudo de bom que aquele lugar poderia oferecer. Havia carona para ir aos lugares, nde ocomer, belíssimas praias para visistar, excelentes companhias para compartilhar os momentos.  Nesse cenário de paraíso, (re)conheci Lupe Duialibe,  que me falou sobre a sensação de abundância.

Estávamos em Canoa Quebrada, um pequeno pedaço de paraíso, no nordeste do Brasil. Águas cálidas, boa comida, gente bonita. Ali ficamos por 4 dias e noites usufruindo dos dias de sol, das boas prosas, da brisa suave que vinha do mar e da vista maravilhosa hospedadas em casa de Adriana.


Mas não parou aí, durante os 30 dias que estive no Ceará, bastava que olhasse com atenção e podia sentir que com o ar, entrava nos pulmões a sensação de abundância. De Canoa Quebrada fomos para o Porto das Dunas, alguns quilometros distante de Fortaleza, onde passamos mais alguns dias no apartamento de Isabel. Nos intervalos das pequenas viagens íamos com Lupe a seus shows incríveis. Foram dias e noites inesquecíveis e, acreditem(!), não foi preciso muito para o que vivemos. Saí de Fortaleza com sensação de plenitude e abundância e me dei conta de que tudo o que vivo pode me trazer esta sensação, e quanto mais a reconheço como possibilidade, mais a sinto em  mim.

Tudo isso para dizer que quando desci do avião  em Lisboa, o sol nascia. Só então me dei conta de que estava pela primeira vez na Europa durante o verão. Voltou a sensação de abundância  e pulsou em mim de tal maneira que pude sentir todo o oxigênio ocupar meu corpo e ampliar-se, saindo pelos poros. Sim, eu estava na Europa na temporada de verão! Graças a um convite muito especial feito por minhas novas amigas de e-burbulla, por sua vez receberam a indicação de meu nome por meio de Angeles Díaz, de la Fundación Simetrías, de Espanha, a qual conheci durante uma palestra em El Salvador  para a qual recebi o convite justamente durante as férias da Abundância.

Logo, claro, a sensação de abundância tomou conta de mim. Dei-me conta, que em verdade uma vez que encontrei o caminho para esta sensação ela permaneceu fazendo parte de minhas circunstâncias (Ortega y Gasset) e por isso sou imensamente grata! Respiro e agora sinto que com todo o oxigênio vem a abundância de uma vida plena de realizações que se renovam todos os dias e a cada dia. 

Então, se pensam que é um texto de auto-ajuda, o que eu posso dizer? Mas estou certa de que é parte da experiência que tenho vivido todos os dias desde o último verão brasileiro, com muita consciência e os pés bem enraizados na Terra. Quis compartilhar, porque abundância gera abundância. Gracías a todos e todas que contribuíram para este momento.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Diário de Bordo - Porto Alegre

Experimentando Porto Alegre novamente, tive a oportunidade de reencontrar o Zaffari e, de certo modo, rever a vivência anterior. 

Pude ainda, praticar meu esporte predileto: provar comidinha de rua  (hei de escrever um guia de comidinhas de rua qualquer dia). Afirmo, sem qualquer dúvida, que experimentei o melhor cachorro quente das últimas décadas. Perde apenas para o dog da minha mãe. 


Como tudo o que se come por aqui, era enorme. Duas saborosas salsinhas (eu não quis o big), abraçadas por pão fofo e quentinho, cobertas por espesso molho de tomades, adornados com milho verde; para complementar ervilhas (uma mania gaúcha), muita salsa picada e uma generosa cobertura de queijo parmesão artesanal ralado. Um espetáculo para os olhos, uma dádiva para o estômago, um afago para o coração. 

Sim, o famosíssimo cachorro quente do Rosário (colégio particular localizado em frente à praça Dom Sebastião), no Centro de Porto Alegre, afaga a alma, trazendo para a boca o gosto de uma adolescência recheada de afeto e alegria.

Mas a experiência gastronômica não se restringiu ao dogão. Visitei também O Moita (Avenida Ipiranga, 2800 - Azenha, Porto Alegre), especializado numa da instituições da gastronomia de rua gaúcha: o Xis. Xis é um sanduíche gigante recheado com ingredientes muitas vezes inusitados, com resultados saborosíssimos. 

Um dos mais tradicionais, o Xis Coração, vem com corações de frango grelhados, alface, tomate, maionese, ovo (opcional), queijo, milho e ervilha (a mania gaúcha). Outros exemplos de recheio são  o estrogonofe (testado e aprovado),  o campeiro (hamburguer, calabresa, coração, bacon) e o Xis Calabresa, que dispensa apresentações. A experiência foi impressionante tanto pelo sabor, quanto pelo tamanho. Eu confesso que não sou capaz de comer um inteiro, fico com um quarto do tamanho e o mesmo sabor de Xis.  

Outra experiência bem bacana no Moita foi a Torrada. Se você pensou em duas fatias de pão de forma crocantes, acertou apenas em parte. A Torrada gaúcha corresponde a um misto quente turbinadíssimo. No meu caso, escolhi uma Torrada de Filé, composta por um delicioso bife de filé, queijo, presunto, maionese, tomates e alface, envolvidos por duas maravilhosas torradas tal qual as conhecemos. 

Tudo isso para afirmar que a comida de rua em Porto Alegre é de primeiríssima qualidade e espetacular sabor. Vale a pena conferir!

terça-feira, 20 de julho de 2010

L'Advsersaire (france, 2001)

O Adversário, dirigido por Nicole Garcia, lançado em 2002 recebeu a Palma de Ouro de melhor filme. Baseado em fatos reais conta a história de Jean-Marc Roman que matou a esposa, os filhos e os pais.

Do drama sai a seguinte frase, escolhida por P.Fendler:  

'' Diga-me Jean, por que as mulheres que mais nos excitam não são aquelas com quem podemos viver?''


O desafio de seguir o projeto é maior que o de Julie Powell. Naquele caso, ela cozinhava receitas de Julia e registrava em seu blog as alegrias e dissabores da experiência. Neste caso, o registro dos dissabores torna a experiência uma exposição em carne viva.

Não sei se por ter perdido o hábito de escrever com regularidade ou se por ter me deixado conduzir pela ilusão de escrever somente por impulso e inspiração, mas o fato é que a frase - notável - não conseguiu arrancar de mim mais que esse desabafo infantil.

Talvez o fato de não estar em casa, perto de fontes de consulta e de um cenário conhecido. Talvez o frio que me gela os ossos, talvez a própria incapacidade de organizar as idéias relativas a tão famigerada expressão.

Cheguei apenas à gênese do pensamento que me conduzia para a vinculação dessa idéia à idéia de arquétipos femininos e o preconceito masculino inconsciente deles ecorrentes.

O que me diria Cadu a esse respeito? Qual seria a posição de Elissa? O que diria Parrode sobre a magnífica frase?

Por onde anda a turma de Cinema, Diversão e Arte nessas horas?