terça-feira, 11 de maio de 2010

Vou para Porto e bah! Tri-legal!

Diários de Bordo Porto Alegre estão a caminho.

Hoje embarco para a capital gaúcha, a sede do time do coração.

Espero conseguir dividir aqui as experiências sensoriais, gustativas, olfativas e afetivas que aquelas paragens me proporcionarão.

Embora saiba que a agenda por lá será lotada e interessante, visto que vou a trabalho para a Feira de Brasil Rural Contemporâneo, espero poder conhecer pelo menos o mercado municipal e o museu Iberê Camargo.

Conto no caminho - durante o caminhar - o que a capital que abriga meu coração me reserva.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Morre aos Poucos

Hoje mais um pedaço de ti em mim morreu.
Morreu um pouco do abraço, um pouco do beijo.
Morreu um pouco do respeito
que tinha em meu peito
[guardado para ti].




Respeite os direitos de autoria. Se for citar, dê crédito. 

XI Carta para Caio

Caio,

Uma tristeza profunda alojou-se em mim. Há semanas, no caminho de casa para o trabalho, observo - extasiada - um certo Ipê cor-de-rosa. Ele é lindo e fica na subida de uma curva pela qual obrigatoriamente tenho de passar todos os dias. Sob o sol morno da manhã, tendo o céu profundamente azul de fundo, resplandece aquela árvore linda, braços abertos em direção ao céu, carregada de flores rajadas de branco e rosa. Todos os dias prometia a mim que iria fotográfa-la. Chegava a avaliar o melhor angulo conforme ia fazendo a curva. Ela estava lá todos os dias. Todos os dias eu a mirava. Todos os dias desejava fortemente registrá-la. Todos os dias.

Ontem, no entanto, dei-me conta de que ela já não resplandece. As poucas flores que restaram pendem murchas em seus galhos magros, suplicando a atenção dos céus. Perdeu o viço, o Ipê. Passou seu tempo de florescimento. Foi definhando com o passar dos dias e eu, nem notara, acostumada que estava a tê-lo ali, todos os dias, lindo para me dar bom dia. Achei que seria sempre assim. Que todos os dias estaria ali para mim. Ao alcance das mãos, ao alcance da camera. Não foi assim. O tempo de florescimento acabou. Agora, recolhe-se para se reinventar e só daqui um tempo poderá florescer novamente.

Mas as flores do próximo ano não serão as mesmas flores. Não será o mesmo Ipê, este que admirei por tanto tempo, este que desejei diariamente poder registrar - e não o fiz - em lugar dessas  flores estarão outras, certamente lindas, mas já não serão essas. Esse Ipê que apreciei por tantas semanas, certamente já não será o mesmo no próximo ano. Perdi a oportunidade. Achei que ele estaria sempre ali, esperando por mim, braços abertos, disponível, mas a temporada passou. Ficou apenas na memória. E a memória com o tempo irá apagar os detalhes rajados das flores, as mãos extendidas para o céus, o viço, a força. Um dia o Ipê será apenas vaga lembrança, já não o terei mais.

Sem mais delongas, Caio: Estamos perdendo a oportunidade? Será que estamos nos deixando para o dia seguinte? Adiando o quê? Será que acreditamos que somos para sempre assim? Será que somos? Talvez seja meio mórbido, mas em algum momento um de nós já não estará e teremos vivido uma vida pela metade - ou sequer teremos vivido. Serei apenas eu a pensar no que passa? Ou será que para ti nada passa? O que passa?

Abraço,

A.L.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Branco

Branco. Decidi pintar tudo de branco. E olha que quem me conhece sabe que sou chegada a uma cor intensa nas paredes. Desta vez, no entanto, quis branco. Tudo alvo como lençóis pendurados num varal-de-quintal-em-dia-de-sol, como a primeira folha do caderno de desenhos da primeira série.

Branca - folha branca. É como me sinto, uma página em branco pronta para iniciar uma nova estória. Assim são as paredes do novo apartamento. Sim, estou me mudando de novo! Eu não disse que meu céu ja havia dito sobre mudanças em abundância mais uma vez em minha vida.

No entanto, uma coisa importante aprendi sobre mim mesma: convivo bem com a impermanência, mas não com a provisoriedade. As mudanças constantes não me abalam, mas os novos cenários têm de ser eternos e únicos enquanto durem. Provisoriedade, transitoriedade  não me animam. Sei ser pela metade, não! Só sei ser inteira nas escolhas, nas relações, no trabalho, na vida!!

TODA MULHER TEM DIREITO A SER INTEIRA E VIVER UMA VIDA PLENA E INTEIRA, MESMO QUE SUJEITA A MUDANÇAS!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Rosa de Luxemburgo

Camarada Rosa,

Depois daquele chá passei dias e noites a refletir. Sim, também eu sonho como a união de amor e de intelecto. Preciso admirar a mente daquele que comigo compartilha os dias e as noites. Ainda assim, não posso deixar de notar que o desejo de ser quem sou, de ir e vir sem limites, de permanecer quando queira, mina qualquer possibilidade de realização desse ideal romântico que teima em volver. Então será que compreendo o sentido de compartilhar? Será que idealizo essa união de corpos, mentes e almas? Há coerência entre o sonho e meu transitar no mundo?

Confesso, camarada: não sei. À distância essa conjunção plena é o único caminho possível. No entanto, quando a realização se aproxima, sinto crescer em mim um muro de tijolos invisíveis que vai subindo lenta e magicamente até o limite de impedir-me a respiração. Sinto-me sufocar e logo quero distanciar-me, mas, à distância, de novo a saudade da plenitude e do encontro de corpos, de almas e de mentes.

Tal incoerência faz com que me senta inadequada. 'Não pertenço a este mundo' . Se por um lado, o ideal me aproxima incovenientemente das mulheres que, mesmo numa época de revolução, permanecem adormecidas e submissas ao sistema de dominação patriarcal e de classe que ora vige. Por outro , a liberdade de pensamento e de conduta que almejo e mesmo que exercito, me aproxima das camaradas revolucionárias. Eu, em meio à controvérsia, vienho debatendo-me há muito entre razão e emoção, sem dar-me conta de que talvez, apenas talvez, o mundo não precise ser uma coisa ou outra, e sim, uma coisa E outra. É possível, essa é a tese que venho sustentando intimamente, que nossa vida, afinal, não seja uma sucessão de escolhas excludentes, mas de uma conduta includente que possa acolher amorosamente a diversidade em todos os seus vários sentidos.

O chá naquela tarde da última primavera em Berlim , confortou-me a alma. Finalmente já não era a única que se retorcia em tal controvérsia e que considera a hipótese - ainda pouco definida - que o acolhimento dea diversidade possa ser, afinal, um caminho igualmente válido e - quem sabe - mais revolucionário que a própria revolução de classes. Não me refiro apenas ao acolhimento à diversidade poética, mas a aceitação e o respeito real pela diferença, inclusive às diferenças ideológicas e políticas.

Pergunto-me há bastante tempo porque a vida tem de ter um ''lado'''? Porque estar em um lado elimina a possibilidade de estar em outro. Não seria essa uma forma de alimentar a competição tão própria do sistema capitalista? Não há um caminho do meio?  Sei que as idéias que ora exponho - compartilhar? - poderia ser partilhada com ninguém mais. Não conheço quem hoje pudésse compreender  tais reflexões, mas tu, camarada Rosa, estou certa, entende a tormenta que toma minha mente e meu coração. 

Espero pelo dia em que possa declarar que sonho com uma casinha com flores na janela, em que compartilhe idéias e afetos com aquele que admiro e amo. Sei que tu, camarada, também por isso anseia, embora não seja compreendida por aquele com quem vem partilhando as lutas e os afetos, as idéias e os sentimentos.

Deixo-te, camarada, esperando que esta reflexão te encontre forte em tuas convicções e aberta às novas reflexões, sempre.

Anita