''Maria, Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta... Uma mulher que merece viver e amar'' como outra qualquer do planeta''(...)
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
V - Carta de Anita Lopes a Caio Marques
Caio,
Ontem à noite resolvi sair sem direção para refrescar as idéias. Faz um enorme calor por aqui. Enquanto passava pelas ruas, dei-me conta de como essa cidade é viva. Já passava das dez da noite e as pessoas passeavam como se fosse o entardecer.
Vi um homem comendo pipoca embaixo de uma árvore a pensar na vida. Outro palitava os dentes despreocupado. Havia negros, brancos, mestiços. Uma mulher conduzia seu bebê num carrinho. Muita vida na cidade, fiquei extasiada.
Não costumo sair à noite. Desde que cheguei aqui, evito. Muito porque fui advertida sobre os perigos de transitar à noite pelas ruas, muito porque sou diurna, você bem sabe. Ontem, ao percorrer as ruas da cidade, sentindo o ar morno na pele, vendo todas aquelas pessoas despreocupadas aproveitando as horas, percebi quão falaciosa poderia ser a advertência.
Vi meninotas brincando nas calçadas, tomando coletivos. Vi casais de namorados, vi gente passeando nas areias da praia. Vi a vida da cidade pela primeira vez em meses. Percebi que não estava vivendo o lugar, que estava reclusa, completamente cooptada pelas questões políticas, descolada das pequenas coisas do dia-a-dia da vila.
Meu querido, como foi bom sentir-me parte desse lugar pela primeira vez. Quis que estivesses aqui para juntos observarmos os passantes, adivinhando-lhes a história. Lembrei-me da última vez que viestes me visitar e até de nossa divergência com alguma saudade.
Sim, as saudades são imensas. Porém, agora deixo-te, domingo é dia de feira e sabes como gosto de passear entre os gritos dos feirantes agitados nas manhãs de domingo.
Sua,
A.L.
Ontem à noite resolvi sair sem direção para refrescar as idéias. Faz um enorme calor por aqui. Enquanto passava pelas ruas, dei-me conta de como essa cidade é viva. Já passava das dez da noite e as pessoas passeavam como se fosse o entardecer.
Vi um homem comendo pipoca embaixo de uma árvore a pensar na vida. Outro palitava os dentes despreocupado. Havia negros, brancos, mestiços. Uma mulher conduzia seu bebê num carrinho. Muita vida na cidade, fiquei extasiada.
Não costumo sair à noite. Desde que cheguei aqui, evito. Muito porque fui advertida sobre os perigos de transitar à noite pelas ruas, muito porque sou diurna, você bem sabe. Ontem, ao percorrer as ruas da cidade, sentindo o ar morno na pele, vendo todas aquelas pessoas despreocupadas aproveitando as horas, percebi quão falaciosa poderia ser a advertência.
Vi meninotas brincando nas calçadas, tomando coletivos. Vi casais de namorados, vi gente passeando nas areias da praia. Vi a vida da cidade pela primeira vez em meses. Percebi que não estava vivendo o lugar, que estava reclusa, completamente cooptada pelas questões políticas, descolada das pequenas coisas do dia-a-dia da vila.
Meu querido, como foi bom sentir-me parte desse lugar pela primeira vez. Quis que estivesses aqui para juntos observarmos os passantes, adivinhando-lhes a história. Lembrei-me da última vez que viestes me visitar e até de nossa divergência com alguma saudade.
Sim, as saudades são imensas. Porém, agora deixo-te, domingo é dia de feira e sabes como gosto de passear entre os gritos dos feirantes agitados nas manhãs de domingo.
Sua,
A.L.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Uma Vez Flamengo, Flamengo até morrer...
Uma vez Flamengo, flamengo até morrer (...)
Ainda me lembro o dia em que comecei a me interessar pelo Flamengo. Devia ter uns sete a oito anos de idade. Naquela época havia um album de figurinhas com jogadores de futebol e times. Meu melhor amigo, Paulo A., era torcedor doente do Flamengo. Ele tinha todas as figurinhas e mais algumas. Era época de Toninho Cerezo [oops Toninho nunca jogou no Flamengo, mas no Atlético Mineiro]*, Cláudio Adão no time. E eu ficava fascinada com tudo o quanto ele me contava. Ouvia atenta as estórias.
No entanto, futebol nunca foi uma paixão em minha casa. Assim, eu me tornei torcedora do time, mais por sociabilidade que por convicção. Em minha família, futebol só nos tirava de outros programas se fosse na Copa do Mundo, jogo da seleção brasileira.
Mais tarde, ao me casar reafirmei minha torcida pelo Flamengo. Mais para ser ''do contra'' - ele era vascaíno - que por convicção (de novo). Sempre gostei de vermelho e preto, as cores de Paloma Picasso, por aí se tira minha paixão pelo futebol.
Hoje, assistia ao jogo, reafirmava minha torcida ao rubro negro. Ao lado, inflamado, um colorado apostava na calhordice do co-irmão 'Grêmio'. Conforme os minutos passavam, mais me convencia - anote Luís Fernando Veríssimo - que o co-irmão não ia entregar o jogo, como todos os colorados apostavam.
Ao contrário, vi o Grêmio cheio de garra e vontade de vencer partir para cima de um Flamengo ansioso, por vezes perdido e algo desorganizado em campo. Enquanto isso, no Beira Rio, o Colorado ia dando de lavada no Santo André - quem? - sim, no Santo André, que caiu para a segundona.
O jogo corria quase fácil no Beira Rio, enquanto o Grêmio suava a camisa para reafirmar a vitória de seu arqui-rival. Caso o Grêmio empatasse ou vencesse o rubro-negro, o Inter comemoraria o tetra campeonato, após trinta anos de espera e no ano de seu centenário. Seria 'a glória!'.
No Maraca, não apenas o Grêmio se esforçava por colaborar com a vitória do Inter, como também o Flamengo com seu tom de jogo parecia querer entregar a taça aos gaúchos. Grêmio abriu o placar, contrariando todas as expectativas dos colorados que apostavam na calhordisse. O Flamengo abalado pelo gol do Grêmio, ficou ainda mais sem rumo dentro de campo.
O Inter, em perfeita sintonia com o Grêmio (quem diria), balança a rede no Beira Rio, quase ao mesmo tempo, para desespero completo dos flamenguistas. No Maracanã, o Flamengo não era um time. Até que num lance conseguiu, sabe Deus como, empatar o jogo. Mas não bastava empatar, o time tinha de vencer. E a agonia continuava no Maracanã lotadérrimo. Goooooll do Inter em Porto Alegre: Inter 2 x 0 Santo André. Fim do primeiro tempo.
De volta ao campo, Inter tetra campeão brasileiro em seu centenário. A bola rola no Maracanã: nada de gol. Inter 3 x 0 Santo André, vai sagrando-se campeão brasileiro ''quase sem esforço'' e a despeito de tudo o que falaram dos gremistas. E o jogo segue. Àquela altura me dei conta que o Fla não estava merecedor do título. Via um Grêmio aguerrido lutando por preservar sua honra, um Inter implacável defendendo a taça. E o Fla lá... Tocando a bola.
Bem, é o ano do centenário do Inter. Aquele time que foi criado para acolher a diversidade, enfrentar a xenofobia há cem anos atrás. Convicta que sou no futebol, fiquei a pensar: os colorados bem que merecem esse tetra, afinal é o ''ano-do-centenário-do-time'', o Fla não tá jogando nada e o Grêmio está mostrando-se profissa e bom de bola.
Ingredientes perfeitos para uma virada de casada depois de dezenas de anos desde minha apresentação ao Cláudio Adão, depois de Júnior e do Galinho de Quintino. Afinal, qual o problema? Só assisto jogo de futebol da seleção brasileira e em Copa do Mundo. Minha sólida convicção estava seriamente abalada e o Inter faz mais uma entrar. Inter 4 x 0 Santo André. E o Flamengoooooolll de novo. aí complicou. Estava certa da vitória do Inter. Não era justo. O time jogou melhor, o Grêmio foi honrado e o Fla na lerdeza ia levar?!
Afinal, por quem mesmo que torci nas últimas décadas? Lá estava eu, xingando pela bola perdida pelo Grêmio, torcendo para que o co-irmão enfiasse mais uma no Fla. Vira-casaca total. Em minha defesa tenho a dizer que além de jamais ter sido convicta de minha torcida, sempre fui coerente com a justiça. E, acreditem, o Inter, neste caso, merecia mais. Afinal,
TODA MULHER TEM DIREITO A VIRAR A CASACA, MESMO QUE SEJA NO ANO DO HEXA CAMPEONATO DO TIME QUE COSTUMAVA CHAMAR DE SEU.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
IV - Carta de Anita Lopes a Caio Marques
Caio,
Desta vez não poderei me alongar. O Conselheiro de Finanças acaba de entregar o cargo e há grande tensão por aqui. Sérgio V. sempre foi um homem íntegro e por um bom tempo tentou, sem êxito, mostrar ao Primeiro Ministro que a forma como estava conduzindo as coisas deixava margem para problemas de ordem legal. No entanto, a Ordem dos Conselheiros Mais Próximos não apenas insufla o Primeiro Ministro a tomar medidas questionáveis, como também zomba das recomendações do Conselheiro de Finanças.
Não sei como ficaremos eu e R. sem o Conselheiro de Finanças a nos orientar e nos proteger de desmandos. M. pediu a R. calma. Há rumores de que o Conselheiro de Políticas do Primeiro Emprego responderá pela pasta de Finanças. Por outro lado, o Bufão-mor da província arvora-se a Conselheiro de Finanças, distribuindo sorrisos e gracejos pelos corredores do Palácio. Fortes ventos tentam colocá-lo na posição vaga, mas soube que há resistência por parte da Ordem dos Conselheiros Mais Próximos.
Meu querido, temo que em breve eu deixe a província. Não poderei permanecer violando princípios e valores que me orientaram por toda a vida. Sinto pelo Primeiro Ministro, homem por quem aprendi a nutrir grande afeto. Se houver oportunidade, veja se há por aí alguma colocação compatível com meus saberes e fazeres.
Sua,
A.Lopez
Desta vez não poderei me alongar. O Conselheiro de Finanças acaba de entregar o cargo e há grande tensão por aqui. Sérgio V. sempre foi um homem íntegro e por um bom tempo tentou, sem êxito, mostrar ao Primeiro Ministro que a forma como estava conduzindo as coisas deixava margem para problemas de ordem legal. No entanto, a Ordem dos Conselheiros Mais Próximos não apenas insufla o Primeiro Ministro a tomar medidas questionáveis, como também zomba das recomendações do Conselheiro de Finanças.
Não sei como ficaremos eu e R. sem o Conselheiro de Finanças a nos orientar e nos proteger de desmandos. M. pediu a R. calma. Há rumores de que o Conselheiro de Políticas do Primeiro Emprego responderá pela pasta de Finanças. Por outro lado, o Bufão-mor da província arvora-se a Conselheiro de Finanças, distribuindo sorrisos e gracejos pelos corredores do Palácio. Fortes ventos tentam colocá-lo na posição vaga, mas soube que há resistência por parte da Ordem dos Conselheiros Mais Próximos.
Meu querido, temo que em breve eu deixe a província. Não poderei permanecer violando princípios e valores que me orientaram por toda a vida. Sinto pelo Primeiro Ministro, homem por quem aprendi a nutrir grande afeto. Se houver oportunidade, veja se há por aí alguma colocação compatível com meus saberes e fazeres.
Sua,
A.Lopez
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Estrangeira

Sou estrangeira na cidade em que moro há 22 anos. Dramática descoberta feita ontem, depois de um vago olhar para o céu nublado. Caiu como uma tampa de bueiro em minha cabeça. Encheu-me de dúvidas: Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Não tendo respostas vou no mais fácil, as conclusões do dia:
Faço parte do grupo de habitantes ''sazonais'' de Brasília. É verdade. Minha vida aqui se resume a Esplanada dos Ministérios, isto é, ao governo federal. Tal qual uma desterrada vivo meus dias como se estivesse de passagem por aqui. Não participo da vida da cidade, não escrevo indignada para a coluna Carta do Leitor dos jornais locais. Sequer assino ou leio os jornais da capital. Embora eventualmente escreva indignada para o Fórum do CongressoemFoco
Estou atônita pois há muito escolhi Brasília para fincar minhas raízes. Declarei ainda, aqui mesmo na blogsfera, mais de uma vez meu amor pela cidade. Mas será que podemos amar aquilo ou quem não conhecemos?
Preciso admitir: Eu não conheço Brasília realmente, embora tenha sempre na ponta da língua ótimas dicas de lugarzinhos charmosos, botecos saborosos, passeios idílicos na capital federal e em seu entorno. Não conheço a cidade que chamo de minha. Dela apenas sei a face exposta, a mais visível, os subterrâneos não estão no meu cardápio.
Então, o que é essa atração irresistível por suas retas e curvas, pela imensidão azul que cobre e descobre meus sonhos, pelos kilômetros de verde que me cercam? O que é esse prazer em estar aqui simplesmente? O que é o encantamento pelos ipês coloridos, pela flor da paineira, pelo verdejante gramado do Congresso após a primeira chuva depois da seca?
Sei não,mas sinto que é momento dessa relação se aprofundar. É tempo de assumir um envolvimento real com a cidade e criar raízes por aqui. Tempo de participar e me comprometer. Já não quero mais ''ficar'' quero permanecer contigo nos bons e maus momentos.
Respeite os direitos de autoria. Se for citar, dê crédito.
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