quinta-feira, 11 de junho de 2009

Eu namoro, Tu Namoras?

Pomerade: Marc Chagall

''Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil''. (Artur da Távola)



E não é que ele está certo? A quem jure que tem o que comemorar hoje, que encontrou namorado/a, que não estará sozinha ou sozinho esse ano só porque tem alguém para apresentar aos amigos ou quem sabe para duas vezes por semana tirar o atraso. A quem pense que ser uma dupla é namorar, imagina só que ilusão! É certo que vivemos na eterna ditadura dos pares, como já escrevi certa feita. Hoje, inspirada por Artur da Távola, namoro e suas qualidades é o tema.




Há quem pense que tem namorado só porque pode apresentar às amigas alguém. Há, veja que coisa, os que comemoram tal situação. Enquanto do outro lado da cidade, ou mesmo no apartamento vizinho, alguém se entristece porque está só nesta data. Mas há as que saem para comemorar a solteirice, sou dessas - confesso rasgadamente - embora este ano vá comemorar intensamente grata pelo companheiro ao meu lado.




Namoro é estar ao lado, porque acredito que não temos namorado, namoramos com. Com alguém que passeia de mãos dadas num feriado ensolarado pelas ruas da cidade sem destino certo ou para comprar cenouras. Com alguém que segura a mão num momento de fortes mudanças profissionais, no meio de uma noite de insônia. Com alguém que avisa da partida e da chegada quando viaja.




Namorar com alguém é compartilhar o filme cabeça ou a comédia rasgada, viver o silêncio ou dar ouvidos à profunda e incontrolável vontade de falar da parceira, atentamente, por favor. Com alguém se vai a restaurantes ou se pede a pizza da esquina (se na sua cidade tem esquina). Com alguém dividimos o medo, explodimos de paixão, às vezes damos um simples abraço aconchegante. Compartilhamos a vida intensamente, a cada momento, dia-a-dia.




Com alguém damos valor àquilo que é importante para o outro, sem contudo abrirmos mão de quem somos. Namora quem presta atenção naquilo que importa ao outro, dá ouvidos, abre os olhos, estende o braço e abre a mão para sustentar o sonho cor de rosa e jasmim, como Chagall na obra que ilustra este texto. Namoramos quando vamos para a cozinha juntos, tomar vinho e jogar conversa fora enquanto ela - ou ele - prepara algo com carinho super especial.




Namora quem olha nos olhos sem medo, quem come um pote de sorvete Alpino sem culpa, ao lado, disputando cada colherada, fugindo descaradamente da dieta necessária. Quem se aceita e aceita o outro como é - pacote completo - valorizando exatamente quem se é, e não apenas as partes ditas boas.




Namorar é, entre outras coisas ditas e não ditas, viver a cada dia o afeto acolhedor do abraço, o compartilhar do silêncio, a aceitação das diferenças, o delicado respeito à individualidade.




Eu namoro! Tu namoras? Se não namoras, neste dia 12 vá comemorar com os amigos, porque estes são para sempre! Se não há amigos por perto, então, prepare um lindo jantar para si mesma, tome um banho de espuma, à luz de velas, ao som de new age. Abra uma espumante maravilhosa, veja um filme divertido e comemore sua melhor companhia: você!






TODA MULHER TEM DIREITO A NAMORO, A AMIGOS E A BRINDAR A SI MESMA!




Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê créditos.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Vamos voltar para o agora! Já!




Terminei o penúltimo post dizendo: Só o agora existe. Eis a prova inequívoca.

Para os passageiros do vôo 447 da Air France, desaparecido na rota Rio-Paris, acabou a existência material, tal qual a maior parte de nós concebe. Não há curso no exterior por dois anos, não há reunião de negócios na sede da empresa. Não há comemoração de aniversário ou volta para casa depois das férias.

O minuto seguinte não existiu. Só este instante em que escrevo existe. A vida que eles e elas levaram ficou na lembrança dos que aqui permanecem e virou legado dessa existência, para os que acreditam na vida após a morte.

Os planos e sonhos com os quais embarcaram, desapareceram, assim como seus corpos materiais.


TODA MULHER TEM DIREITO A VIVER AGORA!

Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê crédito.

A Linguagem




''A linguagem não é apenas um luxo intelectual, mas uma parte essencial na luta pela libertação das mulheres''. (Mary Daly - 1984 e Julia Kristeva - 1980)




Dia desses ouvi de um amigo o seguinte comentário: ' pô, não só as mulheres têm direito de expressar seus desejos, porque não 'Todo Ser Humano tem o direito a...'? Concordo integralmente com o comentário.No entanto, quando decidi escrever o Blog da Maria não tinha, como de fato, talvez ainda não tenha, clareza sobre a linha que seguiria, mas tinha um norte: Visibilizar os direitos mais sutis, tantas vezes vilipendiados, esquecidos, sufocados pela sociedade, pela cultura e pelos contemporâneos dias corridos em que apenas sobrevivemos.


Ao clamar que TODA MULHER TEM DIREITO... digo sim, que todos os seres humanos têm direitos e rio sozinha do efeito que isso causa cada vez que um homem lê tais textos. Em nossa sociedade o uso da palavra articulada ou escrita como meio de comunicação supõe o masculino genérico para expressarmos idéias, pensamentos, sentimentos e referências a outras pessoas. A linguagem, contudo, como sistema de significação, nunca é neutra, expressa sua cultura e é permeada pelas relações sociais de um determinado momento histórico(Scott, 1990)*. Por isso, esta Maria em sua linguagem acena ininterruptamente com uma idéia.


É de notar que desde a década de 60 começou a ser constatado que a linguagem nas sociedades ocidentais, por ser um sistema simbólico profundamente arraigado em estruturas sociais patriarcais, não só refletia mas também enfatizava a supremacia masculina. Devem estar pensando, 'eita, lá vem o exagero dos discursos feministas'. Calma, não se afobem, mas vamos acompanhar a experiência que vivi a poucos minutos.


Lia eu, feliz, matéria competente e sensível publicada por Época desta semana, a respeito do nascimento da 'primeira nova família brasileira'. Inscrita na seção Sociedade/Justiça e assinada por Eliane Brum, a reportagem trazia a público o caso de Michele Kamers e Carla Cumiotto. Elas pediam o direito de registrarem no nome das duas seu filho e sua filha, gêmeos. O juiz Cairo Roberto Rodrigues Madruga, da 8ª Vara de Família e Sucessões de Porto Alegre, corajosamente decidiu pela coincidência entre direito e justiça, concedendo a elas e às crianças o direito ao reconhecimento legal da família constituída. Percebam os versados em direito que não falei em entidade familiar, eu disse: fa-mí-lia, embora este seja tema para outro texto


A matéria recheada de todo o histórico do casal, das emoções da gestação e do parto, a escolha de nomes, de escola faz uma belíssima apuração do fato. Com sensibilidade e competência coloca diante de nós, homens e mulheres, a importância da família na sociedade, tempos em que o modelo familiar ainda é questionado (e muito). Mostra a relação entre duas pessoas baseada em amor, em decisões partilhadas, em respeito mútuo, independente da orientação sexual do casal. Por fim, traz luz sobre - mais importante - o respeito às diferenças e o exercício cidadão deste direito. Recomendo a leitura da matéria.


No entanto, não por culpa de Eliane Brum, o sistema patriarcal em que fomos criad@s e educad@s invisibiliza a mulher em algumas passagens do texto, chegando a saltar aos olhos em dado momento. A jornalista já no preâmbulo da matéria ao se referir a Joaquim Amândio e Maria Clara diz:
'seus filhos gêmeos',

 o uso genérico, neste caso, mostra a invisibilidade da menina. Em nossa sociedade, lamentavelmente, o sexo masculino ainda é o prioritário. Por que temos de ser chamadas de ele nas formas genéricas? pergunta Carmem Caldas-Coulthard, em seu artigo Caro Colega: exclusão linguística e invisibilidade (2007).


Infelizmente não pára por aí. Quando chegava ao final da matéria, entusiasmada e ainda emocionada com a avançada decisão do juiz e com a corajosa demonstração de cidadania de Michele e Carla ao divulgar sua história, deparei-me com a reafirmação máxima da cultura patriarcal em que ainda hoje estamos mergulhadas, em parágrafo que reproduzirei na íntegra.

A história de Joaquim Amândio e Maria Clara está documentada desde o primeiro Kamers e o primeiro Cumiotto que chegaram ao Brasil. Os retratos antigos dividem as paredes da casa com as fotografias que contam o romance de seus pais (grifo nosso) e seus dois primeiros anos de vida.



Por que o genérico de pai e mãe é pais? Pior, porque o genérico de mãe e mãe (ou pami como quis ser chamada Michele) é pais? Neste caso, não apenas uma mulher foi invisibilizada, mas duas, numa única palavrinha de quatro letras. O lugar do escritor, do crítico, do pensador e do pai está aí para definir o lugar do sujeito que fala em nome da cultura, da cidadania e da hegemonia (Schimidt, 2009). Essas mulheres são sujeito(?) de sua história, protagonistas de uma revolução silenciosa quem vem acontecendo no Brasil, e por uma palavra foram invisibilizadas.


O patriarcado está aí, caríssima Eliane Brum, enraizado em você como na maioria absoluta de nós, mulheres e homens. Talvez seja a razão pela qual, apesar de termos cerca de 81% de mulheres nas principais redações brasileiras, ainda vimos reproduzindo e enfatizando inconscientemente o modelo aprendido na família, na escola, na sociedade em que vivemos: Nossa cultura. Algumas de nós chega a achar chato tocar no assunto. Vale a pena pensar sobre:


TODA MULHER TEM DIREITO A SER VISÍVEL, INCLUSIVE NA LINGUAGEM.


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quinta-feira, 28 de maio de 2009

Agora

Foto: Maria Cláudia Cabral


...''E sabe que o ontem é apenas a memória de hoje e o amanhã é o sonho de hoje'' (Gibran Khalil Gibran).



Ilusão fazer planos. Para os que crêem em Deus, seja lá como o chamem, e para os que não crêem há uma piadinha que gosto muito de contar. 'Você quer fazer Deus morrer de rir? Conte seus planos para Ele.


Nâo há planos, minhas caras (e caros). E, calma, essa não é uma manifestação de pessimisto ou ceticismo. É a constatação que futuro não existe, nem o nosso, nem o do planeta, nem o da humanidade. É certo, a meu sentir, que ele - próximo ou distante - é tão somente consequencia do agora. O passado não existe tampouco, eventualmente consiste em lembranças - boas ou más - não importa, apenas lembranças, talvez nem isso.


O próximo segundo pode não acontecer para algum de nós. Ele de fato não acontece para milhares de pessoas que desligam-se da Terra a cada instante no mundo. Não acontece para cada um de nós, é ilusão. O beijo não dado hoje, jamais poderá ser dado, por que 28 de maio de 2009 passou e não se repetirá. A palavra não dita agora, não será dita ainda que você insista em expressar - eventualmente - um momento depois desse. Este não é aquele e até a luminosidade no céu já não é a mesma. Não somos, no minuto seguinte a ouvir ou ver alguém, quem fôramos. E o momento já não é futuro próximo é o próprio agora. Estamos em constante transformação, cada minuto é unico. É a chance de sermos quem somos. A solitária oportunidade de sermos felizes.


O passado não pode ser mudado. A palavra dita não volta para dentro da boca. O que fizemos e o que não fizemos:foi. As escolhas não podem ser desfeitas, podem até ser refeitas mas não apagadas. Ouvi certa feita de Juca Ferreira que a volta não é um retorno, é um novo caminho. Não esqueci esta frase. A estrada percorrida jamais será a mesma trilha. A transformação permanente de nós e de tudo a nossa volta nos impede de repetir. A metamorfose ambulante de Raul é a expressão do 'mundo' em permanente transformação.



Trabalhamos hoje. Comemos hoje. Amamos hoje. E atenção aqui, estou sendo bem condescendente. 'Em verdade, em verdade vos digo', vivemos, amamos, trabalhamos, comemos AGORA. Cada segundo é uma experiência, cada minuto uma sequencia de escolhas. Do momento em que abrimos os olhos pela manhã àquele em que os fechamos. E nada está garantido. O que faço agora: expor as idéias. Nâo o farei novamente, porque no momento em que as publicar, já não serei capaz de reproduzi-las tal qual aqui foram postas (acontece cada vez que escrevo - aposto que com vocês também). Elas já não me pertencem e, isso por si só faz do instante seguinte um outro momento. Se virem os textos passados, poderão perceber ligeiras ou grandes contradições, a depender do momento em que os escrevi.


Agora. Só o agora existe. O que faço com ele?



TODA MULHER TEM O DIREITO DE VIVER: AGORA.



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sábado, 23 de maio de 2009

Tempo de Pausa...Tempo de Muitas Marias

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D. Lurdes, artesã na comunidade de Redonda, município de Icapuí - Foto: Maria Claudia Cabral
Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben jor;

Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;

Já não homenageio Januária,

Joana, Ana, Bárbara, de Chico;

Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;

(Lenine / Carlos Rennó)



Foram tantas as Marias encontradas nas viagens recentes. Marias de todos os tipos, com várias espécies de experiência de vida. Ouvi e vi coisas incríveis. Foram tantas dádivas recebidas. Muitos olhares, palavras e afagos na alma. Foram Marias de casa, Marias de rua, Marias urbanas, Marias rurais, Marias velhas e jovens. Foram Marias dentro de mim e Marias a meu redor.


Pelos caminhos percorridos fui acolhida de uma forma que não imaginei possível. Durante todos os trajetos haviam setas, placas, dicas sobre o caminho. As Marias que encontrei: homens ou mulheres, independente de raça ou etnia, a parte de crenças ou de ofícios compartilharam comigo, cada qual em seu momento, importantes ensinamentos.


Percebi que, independente das condições de trabalho ou da cidade(s) em que vivemos/laboramos, se há vontade firme muito se pode realizar, para tanto basta mobilizar, multiplicar a energia realizadora e compartilhar o entusiasmo. Obrigada Ana Angélica.


Aprendi também que, seja onde for que vivamos, não importa a cultura reinante, podemos desafiar o status quo, subverter a lógica do que é esperado de nós e realizar qualquer coisa que queiramos e, sobretudo, independente do ofício que tenhamos, quando cavamos oportunidades não nos falta recursos para viver, e até viver bem. Obrigada Sidnéia Lusia.


Apreendi de forma lúdica o quanto a experiência vivida é mais importante que os bens materiais eventualmente perdidos. Obrigada Iemanjá.


Ouvi, atenta, que por mais energia que tenha, por mais desejo de mudar o mundo, primeiro o fazemos por meio de exemplo e, segundo, reconhecendo o tempo de cada um, seja indíviduo seja comunidade. As mudanças acontecem em seu momento, nos cabe plantar com entusiasmo, esperar com paciência, confiar que estaremos vivos para ver a colheita. Obrigada Kristina.


Vi, com meus próprios olhos, que é possível mudar a própria vida por meio da arte. Dar uma guinada de 180º. É possível vencer o estresse, deixar para trás a atividade que exaure e sufoca a alma, substituindo pelo exercício diário de criatividade como atividade produtiva. Realizei empiricamente, o que já defendia teoricamente: há vida, e muita vida longe das cidades, assim consideradas os grandes centros urbanos. Obrigada Eliane.


Fui advertida de que só existe o agora. Que passado é lembrança e que futuro é consequencia de hoje. O agora é o tempo em que diversas dimensões simultâneas, as várias possibilidades, acontecem, embora a maior parte de nós ainda não consiga percebê-las. Obrigada Lupe Duailibe e Marco Polo.


Notei que estar atenta a mim mesma e aos meus fantasmas é a melhor forma de tornar a vida mais leve, curtindo o que o que nos vem de bom e tornando o que nos parece ruim oportunidades de aprendizado. Obrigada Gê.


Percebi que mães erram querendo acertar, mas acima de tudo e qualquer coisa, amam suas crias a ponto de lhes defender como leoas em qualquer circunstância, acolhendo-as mesmo quando elas estão profundamente equivocadas. Obrigada D. Lurdes e D.Madalena.


Descobri que a generosidade se propaga no mundo por meio de redes. E, reafirmei que amigos são para sempre e para qualquer momento. Notei que não há como retribuir um ato de generosidade senão propagando e replicando essa experiência no mundo, de forma a ampliar a rede de acolhimento. Obrigada, muito especial a Marco Naspoline e a Rafael.


Por fim, lembrei-me que tudo no fim dá certo, que dá certo haja o que houver, basta concentrar-se no tempo presente, vivê-lo conscientemente, ter calma e fazer uma coisa de cada vez. Obrigada Renato, Grazi e Jeanne.


Obrigada a minha mãe pelo colo insubstituível que você me deu.


TODA MULHER TEM O DIREITO/DEVER DE OUVIR, VER, APRENDER COM AS MARIAS INTERNAS E EXTERNAS.





Maria Cláudia Cabral. Respeite os direitos da autora. Se for citar, dê crédito.