quinta-feira, 21 de maio de 2009

... E a Pausa Continua...

foto: Maria Cláudia Cabral



''Tudo é uma questão de manter, a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo''

... provocada pelo comentário de uma amiga, vou falar mais detalhamente sobre a tal pausa, confidenciando minha humanidade. As pausas são tão necessárias que mesmo a comunicação pode ser de nós retirada a despeito de toda a tecnologia. Assim foi comigo.

A verdade é que lutei incansável (?) por dois longos meses contra médicos de diversas especialidades, contra minha super-ultra-mega terapeuta e até mesmo contra os sábios conselhos de amigas e de amigos, enfim: lutei contra a fragilidade do corpo que habito. Jurava que eu era muito maior e mais forte.


Arrogante! Achava que era uma rocha. Estive certa de que tinha energia para movimentar fogo, ar, terra e água. Bobagem! A condição humana nos baliza, ainda que teimemos em escapar dela. No limite, no limite o corpo gritou mais alto, e fui a nocaute.


Finalmente rendi-me, ou melhor, fui rendida pelos sábios ensinamentos de que o tempo da vida não é o tempo do nosso desejo, embora possamos escolher o que fazer dele, arcando naturalmente com as consequencias de nossas escolhas. Paguei para ver. Não uma, mas duas vezes. Ainda zonza pelo soco da vida, parei, deixando tudo para trás.


Viajei em busca de aconchego de mãe, de sabedoria de avó, de carinho das irmãs. Escondi-me no interior, em pleno Sertão Central, em meio aos monólitos que imperam no açude do Cedro. Fiz lindas fotos, belos registros. Inclusive - pasmem - da biblioteca local, do museu, da velha estação ferroviária e ainda por cima, fui instada a falar de economia da cultura e turismo. ''Uma vez Flamengo, flamengo até morrer...'' Quando me vi estava ali, parada na porta da biblioteca, tirando fotos de velhas estantes empoeiradas.


Por sorte, meu período de descanso em Quixadá tinha data para acabar. Refleti durante toda a viagem de volta a Fortaleza. Ao chegar a capital, o som das buzinas, o tumulto do trânsito, o suor escorrendo pela testa, molhando minhas mãos, fazendo o coração disparar...Tudo ali. Sabia que fizera meu possível, mas não conseguira desligar-me. Alguém já havia soprado esse segrego em meu ouvido: dez dias não bastam para desconectar-se...


Repita comigo este mantra sagrado: Se não paramos, a vida nos pára.


Providências de humildade tomadas: o isolamento. Só o total isolamento poderia me devolver a energia que perdera não sei bem desde quando, mas sei bem onde e porque. Refugiei-me num pequeno grande pedaço de paraíso*. Sem hora para acordar - embora invariavelmente tenha acordado antes do sol nascer - respeitando todos os meus tempos, acertando o relógio biológico e fazendo nada que não fosse a vivência do momento presente: como um presente.


Pausas fazem parte de viver o presente com intensidade e consciência. Passei muitas e muitas horas comigo mesma, comendo os frutos da terra e do mar coletados ali mesmo, quase na porta de casa. Captei toda a beleza que minha retina pôde registrar, que o zoom da máquina conseguiu alcançar. Respirei muito conscientemente durante esses dias. Pratiquei yoga olhando o sol nascer, mergulhei no mar enquanto o sol se deitava sobre a imensidão. Senti-me envolvida pela paz, acreditem, do canto dos passarinhos, mesmo que para alguns - ou muitos - esta frase pareça deveras piegas.


Fui ressurgindo - do resto que sobrou de mim ou de quem pensara ser, para falar a verdade - a energia veio aos poucos sendo recarregada. E fui me lembrando de fórmulas mágicas para me manter sorrindo, otimista, feliz e cheia de sonhos, de desejos e de esperança. Comecei a lembrar um pouco de quem sou ou um pouco de quem penso que fui. Daí veio o desejo quase infantil de fazer algo extraordinário e a lembrança de que em 2008 não houvera realizado qualquer coisa de realmente extasiante.

Entrou por uma porta e saiu pela outra porque o resto da história vocês já conhecem. Nemo me desligou do resto do mundo, dando um banho de mar e alegria na máquina fotográfica, no celular recém-adquirido... E sabem o que eu fiz? Fui comer camarão frito e tomar água de côco enquanto os aparelhos secavam. Assim passei aquela tarde, olhando o mar, vendo os pescadores chegarem em suas jangadas, brindando a vida com sorrisos e troças. Vi, de perto, que há muita vida fora dos gabinetes, comigo ou sem mim.

TODA MULHER TEM O DIREITO DE RECONHECER SUA ARROGÂNCIA... E RIR DE SI MESMA!

*Agradeço especialmente a meu amigo querido, Rafael, e a seu amigo Marco, que gentilmente me hospedou nesses dias de resgate de mim mesma sem sequer me conhecer. Amizade é tudo na vida da gente - outra frase piegas - tá impossível resistir a elas esses dias.

Maria Cláudia Cabral. Respeite os direitos da autora. Se for citar, dê créditos.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Procurando Nemo....




...continuando a idéia de pausa resolvi fazer algo inédito e inesquecível. Como todos os anos. Vale contar que ano passado fiz nada extraordinário e acho que por isso fiquei tão estressada este ano. Pois bem, resolvi viajar de moto da praia de Peroba, município de Icapuí/Ce até Canoa Quebrada, em Aracati.


Já havia feito o outro lado da praia na tarde anterior e tinha sido fantástico. Filmei a aventura, tirei milhares de fotos senti o vento no rosto e, como diz alguém muito especial, fiz literalmente parte da paisagem. Só que, embora tenha saído no horário da maré baixa, ela já começava a subir. Alguns quilometros de areia e muitos minutos de imagens depois uma onda pegou a moto de jeito.

Era uma passagem delicada, entre pedras, e a força da água foi maior que a do motor da XR 200. Imaginem, tombamos eu, moto, celular Nokia N95, máquina fotográfica e tudo o que mais imaginarem que uma mulher como eu leva numa aventura como essas. Tombaram as imagens, mergulhou a bolsa, as fotos foram procurar Nemo e não sei se voltarão.

Aconteceu há pouco menos de 4 horas atrás, precisava contar a vocês em primeiríssima mão. Caso as imagens e o celular se recuperem deve virar um mini documentário, quem sabe?! Eu sonho mesmo, afinal, comigo tudo costuma dar certo.

Enquanto isso, o celular que procurou por Nemo está secando e eu, incomunicável numa comunidade de pescadores para a qual voltarei em alguns minutos.

TODA MULHER TEM DIREITO A VIVER HISTÓRIAS INESQUECÍVEIS.

Maria Cláudia Cabral. Respeite os direitos de autor. Se for citar, dê crédito.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pausas Necessárias

 
Se nós não paramos, o corpo nos pára.

Se não escutamos o corpo, ele nos nocauteia.

A vida precisa de pausa. Nós precisamos de pausas.

TODA MULHER TEM DIREITO A PAUSAS.






Eu acredito nesta causa!



Maria Cláudia Cabral. Respeite os direitos de autor. Se for citar, dê crédito.

domingo, 3 de maio de 2009

Afeto





Vi uma cena no filme Saneamento Básico, de Jorge Furtado, que me chamou muito a atenção. Destoando de toda a comédia do filme, o marido ignorante e grosseirão - Wagner Moura - vem de dentro da casa em direção a porta dos fundos,que dá acesso ao quintal. Lá, ele avista a esposa escrevendo embaixo de uma árvore, enquanto suave brisa toca seus cabelos. O olhar daquele homem para aquela mulher é uma declaração de amor escancarada. É como se gritasse com todos os seus sentidos o profundo e esfusiante afeto que sente por ela.




TODA MULHER TEM DIREITO A OUVIR MANIFESTAÇÕES DE AFETO




Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos de autoria. Se for citar, dê os créditos.

domingo, 30 de novembro de 2008

Toda Mulher Tem Direito a Não ser Triste...

''Solidão
De manhã
Poeira tomando assento
Rajada de vento
Som de assombração
Coração
Sangrando toda palavra sã(...)''
(Djavan)



O que há de comum entre alguns relacionamentos e terrenos baldios? Não saberia dizer, até que num desses dias em que a tristeza abafa toda esperança, em que nuvens cobrem o Pão de Açúcar, me caiu nas mãos um texto cujo título é ''Guia de Terrenos Baldios de São Paulo''. Não poderei dar crédito ao autor, não posso sequer citar a publicação. Uma página, apenas esta página veio ter comigo a tal interatividade da leitura.


Não pude deixar de refletir sobre essa estranha relação entre alguns relacionamentos e os terrenos baldios. Dizia o autor, veja só, que os terrenos baldios estão entre os únicos lugares da cidade que não estão ligados à realização de um projeto, ainda que tenham proprietário e sua existência esteja relacionada a planos de urbanismo - passados ou futuros - estão ali, parados, ao sabor do vento e do tempo.


Alguns relacionamentos também, como os terrenos estão ao sabor do vento e do tempo. Não estão ligados a qualquer projeto, vivem dos escombros de projetos passados - quase sempre fracassados - avessos a projetos futuros - quase sempre assustadores. Neles não há nada, ainda assim podem ser lugares de possibilidades em que se vive a ilusão - ou não - de sentir-se livre.


O autor ainda diz, com propriedade quase filosófica, que os terrenos baldios são terrenos que ficaram sem sentido entre novas comunicações. Com os relacionamentos antigos é bem possível que seja assim, muito embora possa dizer de relacionamentos recentes que ficam sem sentido quando uma das partes se dá conta de que o relacionamento está calcado em espaços vazios, em buracos na alma.


Os relacionamentos baldios nem sempre são escondidos, aliás, acontece com frequencia que sejam populares. Transitem por toda parte esbanjando certa sintonia, mas na verdade são terrenos baldios, vazios de sonhos como todos os outros, reflexo da solidão a dois. Outros estão relacionados a conflitos ocultos, estão repletos de resíduos arqueológicos ligados a algum fracasso. São expressão de disputas de poder, em lugar de manifestação espontânea de afetos.


Em geral tais terrenos, digo , relacionamentos carecem de manutenção, neles se pode, como defende o autor do guia, observar processos de decadência, mistura e entropia que se escondem no resto da cidade. Quase todos os relacionamentos baldios são lugares sem proteção, que podem desaparecer. Quase tudo é possível, porque neles não há nada.


Podem desaparecer por meio de reorganizações quando se encontra um sentido para a área e um projeto floresce, embora só aconteça quando são limpos e cuidados, ervas daninhas arrancadas, teias de aranhas e peças arqueológicas minimamente catalogadas para que não assombrem as construções que porventura sejam feitas. Ou pela assunção de que são espaços selvagens, por meio da aceitação de que são - e querem continuar sendo - livres e vazios.





Maria Cláudia Cabral

Respeite os direitos do autor. Se for citar, dê crédito.