segunda-feira, 27 de julho de 2015

A Menina e o Pássaro



De súbito, um canto lindo. Era o cantar de um pássaro. A Menina apurou os ouvidos e com olhos ansiosos buscou a origem do som que a fazia sorrir.

Buscou sem sucesso encontrar o cantor de tão linda melodia no alto das árvores. Percorria cada galho e cada folha em busca dos sons que a encantavam. Seu coração dividira-se entre enamorado e aflito.

Uma urgência em encontrá-lo tomara conta dela até que... Lá estava ele! O mais belo pássaro que já vira. Correu como se pudesse tocá-lo, corria e sorria tomada por puro enlevo.

Chegou bem perto da árvore onde seu amado pássaro cantor aboletara-se. De perto era ainda mais lindo.

Ao apurar o olhar, a menina percebeu que o pequeno pássaro repetia e repetia gestos e sons. Olhos fixos, percebeu tratar-se não de um pássaro vivo, mas de um ciborgue forjado pássaro. Tinha belo canto, linda plumagem azul anil, belos olhos cinzentos. Possuía uma delicadeza ímpar!

Era um pássaro-andróide!  Não se conformou. Subiu esperta no flamboyant que o abrigava - pássaros não contam com a destreza de meninas - e rapidamente atingiu o galho em que se encontrava o falso cantor. Esticou suas mãos em direção a ele e o tomou de súbito. Era plástico!

Olhos arregalados de horror, a  menina, inconformada, apalpava o pássaro, virava-o de todos os lados enquanto seu canto se repetia e repetia e repetia. O que antes era encantador, agora era irritante aos ouvidos dela.

Rápida, ela começou a buscar uma forma de desligar aquela estúpida repetição do falso canto, do inautêntico pássaro. Quis entender o pássaro, abriu, separou as peças - o canto continuava - primeiro as maiores, depois as menores, dissecou cada peça. Desmontou as engrenagens. Queria entender o pássaro. Quanto mais abria as peças, mais clara ficava a  ilusão que vivera. Mas ela não se conformava. E a todo custo tentava entender o pássaro, com tão apaixonante canto, que a enganara.

Desceu da árvore com pedaços de pássaro, com peças e com engrenagens, com um coração de lata e um fio de tristeza tomou conta dela.

Sentou-se aos pés do flamboyant e, deixando os pedaços cair ao lado, chorou. Enquanto as lágrimas vertiam de seus olhos, outros pássaros voavam ao seu redor, outros cantos podiam ser ouvidos, mas ela não os podia perceber, ainda tentando entender o pássaro que não era, a história que não fora, a ilusão que vivera.

Assim, a menina aprendeu ilusão.

Entrou por uma porta, saiu pela outra... Quem puder, que conte outra!




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